Mais de 700 bactérias vivem na boca e causam doenças; saiba evitar infecção
Sua boca é um dos habitats mais diversificados do corpo humano. Ela contém mais de 700 espécies conhecidas de bactérias, além de leveduras, vírus e alguns protozoários. Essa comunidade é chamada coletivamente de microbioma bucal e, assim como o microbioma intestinal, as bactérias da boca desempenham um papel importante na sua saúde.
Um estudo mostrou que o tratamento da doença gengival reduziu os níveis de inflamação na corrente sanguínea e melhorou significativamente a função das artérias. Outros estudos também mostraram que o tratamento da doença periodontal reduz os níveis gerais de inflamação no corpo.
Esses estudos demonstram como uma doença na boca pode ter efeitos significativos sobre a função dos tecidos em outras partes do corpo. E considerando que muitas pessoas convivem com doença gengival não tratada por décadas, o potencial para impactos de longo prazo na saúde é significativo.
Câncer de cólon
Sabe-se que as bactérias orais viajam pelo estômago até os intestinos. Em geral, nossos micróbios orais não estão bem adaptados a esse novo ambiente e normalmente morrem. Mas, em 2014, dois estudos mostraram que os cânceres de intestino eram fortemente colonizados por uma espécie de bactéria chamada Fusobacterium, que normalmente é encontrada na placa dentária.
Ambos os estudos também mostraram que a Fusobacterium tem uma alta afinidade por células cancerígenas malignas. Isso ocorre porque a superfície das células cancerosas permite que a bactéria se ligue firmemente e invada o tumor. Vários estudos já confirmaram que a Fusobacterium pode colonizar tumores em todo o trato gastrointestinal.
Pesquisas também demonstraram que pacientes com câncer de cólon altamente colonizados com Fusobacterium respondem pior à quimioterapia e têm expectativa de vida mais curta em comparação com aqueles que não estão colonizados. Isso pode ocorrer porque os tumores infectados pela Fusobacterium são mais agressivos e, portanto, têm maior probabilidade de se espalhar em comparação com aqueles que não estão infectados pela bactéria.
Estão em andamento pesquisas sobre essa relação e se as pessoas com risco de câncer de intestino poderiam ser vacinadas contra esse inseto oral.
Mal de Alzheimer
Uma das ligações mais controversas entre saúde bucal e doença envolve o mal de Alzheimer.
A doença gengival crônica tem sido associada a um maior declínio cognitivo em pessoas com mal de Alzheimer. Mas como tanto a doença periodontal quanto o mal de Alzheimer estão associados ao envelhecimento, é difícil determinar se há uma relação clara de causa e efeito.
Mas, em 2019, pesquisadores apresentaram evidências de que os cérebros de pessoas com mal de Alzheimer eram colonizados por P gingivalis, uma das principais bactérias que causam o mal das gengivas. A ideia de que o cérebro, uma parte normalmente estéril do corpo, poderia ser infectado por bactérias orais ainda é altamente controversa e requer mais estudos.
Assim como ocorre com as doenças cardíacas, a inflamação causada por doenças gengivais também foi proposta como um fator determinante da doença de Alzheimer em pacientes com saúde bucal precária.
Boa saúde bucal
Embora o impacto de uma saúde bucal precária pareça esmagador, a boa notícia é que temos o poder de gerenciar nosso microbioma bucal e prevenir doenças relacionadas a ele.
Um bom regime de higiene bucal é essencial. Isso inclui a escovação duas vezes ao dia e o uso regular do fio dental para controlar a placa bacteriana e reduzir a incidência de cáries e doenças gengivais. Se você fuma, parar de fumar pode reduzir bastante suas chances de desenvolver doenças gengivais. Também vale a pena visitar seu dentista ou higienista a cada seis meses para fazer uma limpeza profissional e receber orientações sobre higiene bucal pessoal.
Todo esse trabalho não apenas melhora seu sorriso, mas pode até acrescentar anos à sua vida.
*Gary Moran é professor associado de Ciências Odontológicas na Trinity College Dublin.
Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.
Deixe seu comentário