Capacidade do cérebro não é infinita e esquecer também faz bem; entenda

As memórias são essenciais, desde a aprendizagem até a capacidade de criar vínculos afetivos. "Elas nos tornam quem somos. São elas que nos ajudam a compreender o mundo e moldam nossa visão. São aquilo que nós lembramos e aquilo que queremos esquecer", diz Ângela Wyse, neurologista e professora do Departamento de Bioquímica da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Embora a capacidade de memorização seja um fator essencial para formarmos nossa identidade e administrar nossa vida cotidiana, esquecer também tem seu lado positivo.

A capacidade do cérebro não é infinita e, por isso, seria inviável se lembrar de todos os detalhes da infância, de todas as aulas da faculdade ou do nome de todas as pessoas que você já conheceu. Além disso, muitas das informações que nos deparamos em nosso dia a dia, como as pessoas que cruzamos na rua ou placas que vemos, são inúteis para nosso cérebro.

Para sua própria evolução, é importante que você esqueça coisas. Só assim novas memórias podem surgir. Ângela Wyse, neurologista e professora

Do mesmo jeito, o cérebro também é eficiente em evocar lembranças que gostaríamos de esquecer, como um episódio que causou vergonha e arrependimento. Mas não se trata de "birra" dos neurônios.

"Algo do seu inconsciente traz isso à tona, digamos, quando você está prestes a dormir. Isso só acontece porque, ainda que desagradável, aquele episódio marcou sua vida", explica Carlos Alexandre Netto, professor do Departamento de Bioquímica da UFRGS.

Embora nessa situação seu corpo esteja pronto para o descanso, o funcionamento do cérebro não é só aquilo que conscientizamos. Uma série de processos inconscientes acontece ao mesmo tempo —mesmo quando, conscientemente, você não deseja que aconteça.

"O que vai definir a capacidade de estocagem de informação é, primeiro, onde estão os neurônios. Depois, é a maneira como os neurônios estão organizados e a quais outros neurônios estão interligados. Há também fatores genéticos que influenciam nessa arquitetura do cérebro e diferem, de forma individual, uma memória da outra", diz o neurologista Leonardo Cruz, professor de clínica médica da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Fatores externos também influenciam, tais como escolaridade, contato social e estímulos musicais, esportivos e linguísticos. Todos funcionam como os traços que, aos poucos, formam um mapa único —sua memória, desenhada em um cérebro complexamente organizado por todas as suas experiências.

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Os diferentes tipos de memórias

De curto prazo

Duram apenas de três a seis horas. Entre elas, existem os seguintes tipos:

Imediatas: guardam informações por um tempo curto, como um número de telefone que acabou de ser dito ou o nome de alguém a quem você foi apresentado no momento.

De trabalho: armazena temporariamente informação para realizar tarefas cognitivas, como a leitura, o entendimento da linguagem de outra pessoa, a aprendizagem ou o raciocínio.

De longa duração

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Podem durar dias, anos ou para o resto da vida. Entre elas, existem:

Episódicas: têm uma referência pessoal, como o dia em que alguém conheceu sua esposa/seu marido, o gosto de uma boa comida que comeu ou detalhes de uma festa de formatura.

Semânticas: são as informações do mundo que adquirimos durante a vida, por exemplo, saber que o sinal vermelho indica que você pare, lembrar como falar palavras em outro idioma ou que a capital do Japão é Tóquio.

Não declarativas: são memórias que não podem ser contadas ou ensinadas oralmente, como a motora, que retém informações sobre como andar ou falar. É ancorada em um sistema duradouro, o que faz com que as informações só se percam muito tardiamente ou fiquem até o fim da vida.

*Com informações de reportagem publicada em 29/07/2021

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado no título, o correto é que "capacidade do cérebro não é infinita". O título foi corrigido.

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