'Tinha muitos gases e dor, achei que era intolerância, mas era bactéria'

Myllena Furlan, 26, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), descobriu ter H. pylori este ano. Ela achava que os sintomas que sentia eram causados por uma síndrome do intestino irritável e não por essa bactéria.

"O mal-estar começou em 2021. Tinha um intestino desregulado e frequentemente ficava com ele preso ou tinha episódios de diarreia. Também sentia gases, má digestão e desconforto abdominal. O inchaço na barriga estava sempre presente.

No início, pensei que era por ter passado por uma cirurgia de remoção de vesícula, que precisei operar em 2018, já que o corpo fica mais sensível a alimentos com alto teor de gordura. Tomava remédio para digestão, gases e cólicas, mas não adiantava.

Como continuava me sentindo mal, comecei a suspeitar de alguma intolerância alimentar, como lactose ou glúten. Jamais me passou pela cabeça a possibilidade de eu estar com H. pylori e os sintomas terem sido causados por essa bactéria.

A infecção por H. pylori ocorre quando você entra em contato normalmente com água e alimentos contaminados por essa bactéria. Nunca vou saber como a peguei, mas me foi recomendado redobrar o cuidado com a higienização das mãos e de legumes e verduras.

Sei que parece absurdo contar isso, mas só marquei uma consulta com um médico gastroenterologista em janeiro deste ano. Isso porque, até então, e na maioria das vezes, conseguia controlar esse mal-estar com alimentação saudável e exercícios físicos.

Myllena mostra inchaço na barriga
Myllena mostra inchaço na barriga Imagem: Arquivo pessoal

Só após três anos comecei a me dar conta de que esses sintomas não eram condizentes com a rotina saudável que passei a ter e ainda tenho. Isso me deixou preocupada, até como estudante de nutrição, e procurei ajuda.

Na consulta, relatei todos os sintomas e o meu desconforto. O médico solicitou a endoscopia e a colonoscopia, além de uma biópsia do meu estômago. Foi a biópsia que detectou que estava com uma infecção por H. pylori em estágio avançado.

Continua após a publicidade

@myfurlann Respondendo a @?? mostrando meus exames da h pylori #hpylori ? som original - My Furlan

O tratamento consistia em tomar oito remédios por dia, durante 15 dias. Eram em sua maioria antibióticos para matar a bactéria.

Como efeito colateral, tive muito enjoo, gosto ruim na boca e falta de apetite. Mas nada se compara com o desconforto anterior.

Continuo em acompanhamento médico e precisarei refazer meus exames para garantir que não houve uma nova infecção e que os sintomas que tive eram apenas da H. pylori e não por outra questão no sistema digestivo.

Estou incrivelmente bem, não sinto mais os mesmos sintomas, então acredito que os exames são mais uma questão de protocolo mesmo.

Busquem o tratamento o quanto antes, não é normal sentir desconforto abdominal frequente ou ter o intestino desregulado.

Continua após a publicidade
Myllena demorou 3 anos para se dar conta que rotina saudável não era condizente com o desconforto abdominal que sentia
Myllena demorou 3 anos para se dar conta que rotina saudável não era condizente com o desconforto abdominal que sentia Imagem: Arquivo pessoal

Procurem um médico. Suspeitei de síndrome do intestino irritável e poderia ter sofrido por menos tempo com os sintomas. Não tenham medo do tratamento por conta dos efeitos colaterais da medicação. Não deixem de buscar ajuda."

O que é H. pylori?

H. pylori é uma bactéria que infecta a mucosa do estômago humano e pode persistir por anos sem causar sintomas.

Ela afeta o corpo ao causar inflamação (gastrite) e pode levar a condições graves, como úlcera no estômago e na primeira porção do intestino.

A bactéria também é responsável por 60% dos casos de câncer de estômago no Brasil, de acordo com o Instituto Oncoguia. De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, é comum os pacientes não terem sintomas.

Continua após a publicidade

"Quando os sintomas aparecem, incluem desconforto abdominal, azia, náusea, arrotos, inchaço na barriga. Podem ter também perda de apetite e de peso", explica Fernando Pandullo, médico gastroenterologista e hepatologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

Como é feito o diagnóstico?

A infecção por H. pylori pode ser diagnosticada por teste de antígenos nas fezes ou exames de sangue.

Endoscopia e biópsia do estômago são indicadas apenas quando há suspeita de um caso mais grave.

"Os exames para detectar H. pylori não costumam ser invasivos. Existem outras opções como o teste respiratório de ureia e teste rápido de urease também", cita Rogério Alves, médico gastroenterologista da BP - A Beneficiência Portuguesa de São Paulo.

No teste respiratório de ureia, o paciente ingere uma substância com ureia marcada, que a bactéria H. pylori transforma em dióxido de carbono e amônia. Ao expirar, se o carbono marcado for detectado, indica a presença da bactéria no organismo.

Continua após a publicidade

Já o teste rápido de urease é semelhante a endoscopia e a biópsia. Nele, partes de tecido do estômago são retirados para análise e colocados em meio a ureia. Se houver uma substância chamada urease, esse líquido muda de cor, o que indica problemas de saúde.

Como é feito o tratamento?

O tratamento mais comum para a H. pylori envolve antibióticos e um medicamento inibidor da secreção de ácido do estômago. "Dessa forma ajuda a curar a mucosa gástrica e erradicar a bactéria", acrescenta Pandullo.

A duração do tratamento em geral é de 10 a 14 dias, dependendo dos protocolos. Manter uma alimentação saudável (sem excesso de bebida alcoólica, temperos e gorduras) e uma rotina de exercícios físicos pode ajudar no controle dos sintomas da H. pylori.

Recomendações e prevenção contra o H. pylori

Thicianie Fauve, médica gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, diz que uma dieta rica em fibras e antioxidantes, com frutas, legumes, grãos integrais e leguminosas, reduzem o risco de infecção por H. pylori.

Continua após a publicidade

"Fibras ajudam a manter a saúde do trato gastrointestinal e podem ajudar a prevenir a colonização da bactéria. Antioxidantes reduzem a inflamação e protegem o revestimento do estômago", explica Fauve.

Uma dieta rica em gordura, alimentos picantes e consumo excessivo de álcool e cafeína aumentam a acidez e irritam o revestimento do estômago, o que pode causar azia, dor no órgão e agravar os sintomas da infecção.

"O tempo em que um paciente pode conviver com H. pylori varia. Alguns podem nunca desenvolver complicações ou sintomas, enquanto outros podem ter problemas após meses ou anos. Por isso a importância de manter os exames em dia", explica Fernando Pandullo.

A prevenção contra a H. pylori envolve lavar as mãos com frequência, consumir água de fontes seguras, e manusear e higienizar alimentos de forma adequada.

Deixe seu comentário

Só para assinantes