O que é a ketamina, substância usada pela seita de Djidja Cardoso

Após a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, a Polícia Civil do Amazonas deflagrou a Operação Mandrágora, que investiga a seita "Pai, Mãe, Vida", liderada por sua família. Ela incentivava o uso forçado de ketamina (também chamada de cetamina) em rituais e estupro de vulnerável.

O delegado relatou que a seita atuava em parceria com uma clínica no bairro Redenção, em Manaus. Segundo ele, a clínica oferecia ketamina e outras substâncias sem qualquer controle para a família de Djidja Cardoso, que morreu após o uso indiscriminado da substância.

O que é a ketamina?

A cetamina é um anestésico hospitalar usado em diversos países, incluindo o Brasil, com a finalidade de sedação, mas ela também é uma nova alternativa para o tratamento de depressão resistente.

O fármaco é considerado um anestésico dissociativo, ou seja, que causa efeitos alucinógenos, sensação de bem-estar e tem potencial sedativo. Em doses menores, quem consome a substância pode se sentir eufórico e ter episódios de sinestesia — mistura de sensações relacionadas aos sentidos, como "ver" sons e "ouvir" cores.

A substância é utilizada para produzir uma droga sintética conhecida "Keta" ou "special k". O primeiro caso da utilização da cetamina como droga recreativa foi registrado nos anos 1970, nos Estados Unidos. Na década de 1990, o uso como droga ilícita se disseminou no Reino Unido, especialmente em festas e raves.

No Brasil, a cetamina foi aprovada em novembro de 2020 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como medicamento para esse tipo de transtorno mental.

Para este fim, segundo a agência, deve ser administrada exclusivamente em um hospital ou em uma clínica especializada e na presença de um profissional da saúde. Seu uso está sendo feito de forma intravenosa ou como spray nasal, mas ela ainda não está disponível no SUS.

Apesar dos resultados de estudos feitos com a cetamina serem animadores, é preciso ter cuidado com as prescrições, segundo Alexander Moreira de Almeida, professor associado de psiquiatria da UFJF (Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora) e coordenador do PTA (Programa de Transtornos Ansiosos) da mesma instituição.

"É uma medicação que foi lançada recentemente e que parece ter um início de efeito mais rápido, mas ainda não se sabe sobre a eficácia e a segurança no uso a longo prazo", alerta Almeida. "Tem havido uma forte campanha de propaganda para promover esta medicação, mas é necessário cautela", afirma.

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Ao ser administrada, a substância entra no cérebro, dispara um processo de religação de neurônios e sai do organismo em aproximadamente 20 horas. Dessa forma, as células passam a "conversar" melhor umas com as outras, havendo uma melhor conexão. Com isso, as áreas afetadas pela doença voltam a funcionar melhor e os pacientes percebem uma melhora dos sintomas de depressão.

Efeitos colaterais

Os efeitos adversos da cetamina acontecem durante a infusão e são potencialmente graves e até fatais, pontua Tiago Gil, médico anestesista, fundador do Centro de Cetamina e membro ativo da ASKP3, American Society of Ketamine Physicians, Psychotherapists & Practitioners.

"Por isso, existe necessidade de um médico anestesista acompanhando o procedimento [em caso de uso medicinal, como tratamento de transtornos mentaos] e estar dentro de um hospital com monitorização completa —cardioscopio, oxímetro e pressão arterial medidas a cada 10 minutos".

Entre os efeitos colaterais mais recorrentes estão:

  • Aumento da pressão arterial;
  • Aumento da frequência cardíaca;
  • Anestesia geral com parada respiratória;
  • Náusea e vômitos;
  • Dissociação (um estado alterado de percepção do mundo ao seu redor).
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A substância também tem histórico de uso como remédio veterinário, um tranquilizante de cavalos.

* Com informações de reportagem publicada em 10/06/2022

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