Da impulsividade à dispersão: saiba dificuldades comuns de alguém com TDAH
"Foi só uma distração" ou "todo mundo comete enganos". Bem, no caso de quem tem TDAH, esses comentários são muito mais corriqueiros e envolvem sofrimento psíquico e social. O transtorno, que tem causa neurobiológica, quase sempre é associado a:
- Agitação
- Impulsividade
- Agressividade
Mas, em meninas e mulheres, esses fatores nem sempre ocorrem. "Nelas, o fator desatenção é mais predominante", afirma a médica psiquiatra Katia Beatriz Correa e Silva, membro da diretoria da ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção).
No caso delas, também são sintomas serem:
- Mais quietas
- Sonhadoras
- Durante a aula, na escola, ficam dispersas
Essas meninas passam despercebidas nas escolas, em suas casas e também nas pesquisas científicas, que embora tenham evoluído bastante ao longo do tempo, não abarcaram o gênero feminino, segundo artigo publicado em 2020 na revista científica BMC Public Health.
O consenso, que é assinado por 21 especialistas, reconhece que atitudes estigmatizantes para o TDAH ainda desempenham um papel clínico de resultado importante, deixando anualmente milhões de meninas e mulheres sem o diagnóstico.
A questão do gênero no diagnóstico
Estima-se que 5% das crianças e 3% dos adultos no mundo tenham TDAH. O transtorno, que tem início ainda na infância, pode persistir ou não na idade adulta. Enquanto na infância há prevalência de até quatro meninos para cada menina diagnosticada, na fase adulta ocorre a paridade entre os gêneros.
"Meninas com TDAH se esforçam para inibir o comportamento hiperativo, impulsivo e desorganizado porque entendem que tais atitudes violam a feminilidade esperada", relata o doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Amaury Cantilino da Silva Junior.
Quando as demandas sociais e de trabalho aumentam, essas mulheres não diagnosticadas acabam adoecendo e chegam aos consultórios psiquiátricos quase sempre por conta de uma comorbidade, como transtorno depressivo, ansioso, pelo uso de substâncias, entre outros.
Nosso público chega carregado de estigmas como lentos, muito agitados, desinteressados, que têm muita rotatividade nos seus empregos, esquecidos etc. E todas essas dificuldades oriundas do TDAH deixam algumas inscrições que dificultam a busca pelas causas. Ana Clara Leite, psicóloga do ATAI (Ambulatório de Transtornos de Atenção e Impulsividade) do Hospital de Saúde Mental da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará
Comprometimentos causados pelo TDAH, segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção:
- Dificuldades de relacionamento pela baixa autoestima;
- Problemas profissionais, como mudanças frequentes de trabalho, demissões e nível de realização abaixo da sua capacidade;
- Maior predisposição a transtornos por uso de álcool e drogas;
- Tendência em se envolver a vários tipos de acidentes, principalmente de trânsito;
- Maior risco de desenvolver outros transtornos, como depressão, transtornos ansiosos etc.
Identificação e tratamento
Pesquisas já demonstraram que o cérebro de uma pessoa com TDAH têm alterações na região frontal. Entretanto, não há um exame que revele o transtorno e o diagnóstico é apenas clínico, feito por um médico psiquiatra que leva em conta os critérios que foram estabelecidos pelo DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), da Associação Psiquiátrica Americana, e pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
"Nas doenças mentais não existe um marcador biológico, então o que vai distinguir um indivíduo hiperativo ou desatento daquele que tem TDAH é a intensidade e frequência dos sintomas, além do fato de eles causarem prejuízo funcional", explica Luís Augusto Rohde, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e coordenador do Programa de TDAH do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.
O tratamento para o transtorno envolve o uso de medicamentos psicoestimulantes que atuam sobre o neurotransmissor dopamina, ajudando no funcionamento cerebral e reduzindo sintomas de distração e hiperatividade. Por outro lado, a psicoterapia cognitivo-comportamental ajuda a paciente a mudar padrões de comportamento.
*Com informações de reportagem publicada em 02/20/2021
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