Morte de Pampa: quimioterapia pode oferecer riscos à saúde?
O ex-jogador de vôlei André Felipe Felbo Ferreira, o Pampa, morreu nesta sexta-feira (7), aos 59 anos. Ele tratava desde janeiro um linfoma de Hodgkin, câncer raro que atinge o sistema linfático (que faz a defesa do organismo).
Eram previstas quatro sessões de quimioterapia. Dias após a quarta etapa, o ex-jogador apresentou febre e precisou de atendimento emergencial. No dia 13 de março, foi transferido para a UTI.
Pampa ficou mais de um mês internado em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. O quadro piorou em decorrência de complicações pulmonares, que surgiram em meio à quimioterapia, e ele precisou ser intubado.
Quimioterapia pode ser perigosa?
Qualquer medicação tem efeitos colaterais, por isso a quimioterapia pode apresentar consequências, sejam imediatas ou no futuro. São mais de 200 tipos do tratamento, e as reações variam dependendo de cada um deles. No entanto, efeitos colaterais leves e imediatos são os mais comuns. É o caso de: náuseas, vômitos, dores de cabeça e reações alérgicas.
Complicações graves raras incluem neuropatias (dano ao funcionamento dos nervos), escamações de pele e unhas. "A longo prazo, pode causar consequências, como a lesão dos órgãos alvos [da quimioterapia], mas a maioria é reversível. Também pode aumentar o risco de outros tipos de neoplasia [câncer] ao longo da vida do paciente", diz Phillip Bachour, onco-hematologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
Outro exemplo raro é a pneumonite, reação alérgica à medicação que afeta o pulmão e que surge subitamente. "Não é uma complicação que vemos todos os dias, mas precisamos estar atentos a sintomas como cansaço, tosse e falta de ar", explica a oncologista clínica Clarissa Baldotto, presidente do GBOT (Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica) e diretora da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).
Isso não é tão comum. A gente acha que mais ou menos 10% dos quimioterápicos podem causar algum tipo de inflamação pulmonar. Clarissa Baldotto, oncologista clínica
O quadro de neutropenia também é uma consequência que preocupa os médicos. Nela, há queda em glóbulos brancos, aumentando o risco de infecções difíceis de serem controladas. Febre é um dos sintomas de alerta. "Essa, talvez, seja a complicação que mais precisa de atenção", diz Phillip Bachour, onco-hematologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
Segundo Bachour, não é necessária uma onda de medo à quimioterapia, já que as opções de tratamento sempre consideram os riscos e os benefícios ao paciente.
Mesmo que causem riscos, as quimioterapias ainda são a melhor opção de cura. Então, mantemos os tratamentos recomendados e avaliamos os tipos de riscos. Phillip Bachour, onco-hematologista
Ex-jogador teve complicação pulmonar grave
A esposa de Pampa, Paula Falbo, contou na terça-feira (4) que ele apresentava síndrome da angústia respiratória aguda, ou Sara. "Os médicos falam que o quadro dele é grave, e que não tem um diagnóstico exato do que levou a essa Sara", disse à revista Quem. "Não existe um medicamento específico para isso. Estão sendo tratadas eventuais infecções que surgem, a exemplo da infecção urinária que o desestabilizou há alguns dias."
Sara é uma síndrome grave e que surge de problemas anteriores, como infecções. "É uma complicação muito tardia, mas por consequência de condições clínicas mais graves de antes", explica Bachour.
É um tipo de insuficiência respiratória pulmonar, ou seja, o pulmão começa a ficar completamente disfuncional, incapaz de fazer trocas de oxigênio adequadas, pode ter acúmulo de líquido. Muitas vezes, é tão grave, que leva à insuficiência pulmonar e pode ser fatal. Phillip Bachour, onco-hematologista
Entenda o linfoma de Hodgkin
A doença pode ser altamente nociva quando não é descoberta em estágio inicial. O problema acomete os linfócitos, células do sistema linfático encontradas geralmente nos linfonodos (pequenos órgãos).
Em pacientes com linfoma, as células se tornam malignas e crescem desenfreadamente. Depois, elas começam a produzir, nos linfonodos, cópias idênticas, disseminando-se e atingindo outros tecidos.
Se não tratadas, também podem chegar a mais partes do corpo.
Quais os sintomas?
- Aumento dos gânglios linfáticos é o sintoma mais comum desse tipo de câncer. A alteração costuma ser lenta e indolor, especialmente na região do pescoço, das clavículas, axilas e virilhas;
- Calafrios;
- Coceira;
- Fadiga recorrente;
- Febre;
- Perda de peso (10% em menos de seis meses) e de apetite;
- Sensibilidade nos nódulos após a ingestão de bebidas alcoólicas;
- Suores intensos durante a noite.
*Com informações de reportagem publicada em 12/01/24.