Caso do brigadeirão envenenado: como morfina e clonazepam agem no corpo

Resquícios de morfina e clonezapam foram encontrados no organismo de Luiz Marcelo Antônio Ormond, empresário morto após suposto envenenamento no Rio.

A morfina é utilizada para o tratamento da dor, enquanto o clonazepam serve para tratar distúrbio do pânico, ansiedade e crises epiléticas. Em doses elevadas ou sem indicação, podem causar sérias consequências ao corpo.

Drogas são de uso controlado e têm efeitos colaterais
Drogas são de uso controlado e têm efeitos colaterais Imagem: Getty Images/iStockphoto

Morfina: tratamento para dor

A substância bloqueia parte da passagem dos estímulos da dor para o cérebro, agindo em receptores cerebrais específicos. Por ser um inibidor do sistema nervoso central, a morfina está associada à sonolência. Esse é um dos principais efeitos relacionados ao uso agudo do remédio, para tratar dores pontuais.

Os efeitos colaterais mais comuns são: náuseas; vômitos; tontura; vertigem; constipação intestinal; sonolência; depressão respiratória, quando a dose é excessiva. O nível do efeito colateral é usado como sinal de alerta para dosagem. Ao tomar morfina, a pessoa fica como se estivesse perto da hora de dormir após trabalhar um dia inteiro.

Em altas quantidades, a morfina pode causar a depressão respiratória — a incapacidade de proporcionar oxigênio às células e remover o dióxido de carbono.

A superdosagem aguda de morfina, ou seja, a ingestão de grande dose da medicação de uma só vez, pode ter sérias consequências à saúde. Inicialmente o indivíduo pode apresentar náuseas, vômitos, rubor, prurido [coceira], retenção urinária, hipotensão [pressão baixa], euforia, alterações cardíacas evidentes em eletrocardiograma e miose [contração da pupila]. A depender do caso e da dose, também pode ocorrer rebaixamento [diminuição] do nível de consciência e depressão respiratória que eventualmente podem levar à morte.
Luisa Albertino, psiquiatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo

Clonezapam: ação no sistema nervoso central

Trata-se de um fármaco do grupo dos benzodiazepínicos. O nome comercial é Rivotril. Esses medicamentos são capazes de agir no Sistema Nervoso Central e, assim, têm propriedades sedativas, relaxantes e anticonvulsivantes (combate as convulsões). Ele só pode ser comercializado com receita médica, que é retida.

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Ao ser administrado pela via oral, ele é rapidamente distribuído por todo o organismo, e preferencialmente captado pelas estruturas do cérebro. Ele é metabolizado pelo fígado e excretado pela urina e fezes.

O medicamento age diminuindo a atividade elétrica cerebral. Os efeitos podem ser notados quase que imediatamente após o uso, especialmente com comprimidos sublinguais.

Quando administrado em doses excessivas, o medicamento pode causar tontura, sonolência, fala arrastada, confusão mental e falta de coordenação motora, segundo a psiquiatra Luisa Albertino.

O remédio também é capaz de causar dependência. O uso deve ter acompanhamento médico e monitoramento de possíveis efeitos colaterais.

A ingestão concomitante destas duas drogas em altas doses não é recomendada. O risco de morte por overdose de opioides é 10 vezes maior em pessoas em uso concomitante de benzodiazepínicos do que em pessoas que só consomem opioides. A combinação dessas substâncias aumenta muito o risco de hipotensão [queda de pressão], depressão respiratória, convulsões, coma e até morte.
Luisa Albertino, psiquiatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo

Entenda o caso

Júlia Andrade Cathermol Pimenta, 29, foi presa na noite da terça-feira (4) acusada pela morte do empresário. Ela passou por audiência de custódia na tarde desta quarta-feira (5) e teve a prisão mantida. A psicóloga comprou medicamento à base de morfina duas semanas antes do crime, diz a polícia.

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Luiz Marcelo Antônio Ormond foi encontrado morto dentro do seu apartamento no Rio de Janeiro no dia 20 de maio. Vizinhos sentiram um cheiro forte vindo do apartamento e acionaram a polícia. Segundo a polícia, ele foi morto com um brigadeirão envenenado pela namorada.

Câmeras registraram vítima em elevador

Luiz havia sido visto pela última vez no dia 17 de maio. Câmeras de segurança registraram o momento em que Luiz e Júlia deixam a piscina e entram no elevador. As imagens mostram que ele segura um prato. Ela, uma garrafa de cerveja. Em determinado momento, eles se beijam.

O corpo do empresário foi encontrado no sofá do apartamento. O imóvel fica localizado no Engenho Novo, na zona norte do Rio. Conforme o laudo do Instituto Médico Legal, o homem morreu de três a seis dias antes de o corpo ser encontrado.

Júlia teria permanecido no apartamento da vítima por dias. "Ela teria permanecido no apartamento da vítima com o cadáver por três ou quatro dias. Lá, teria dormido ao lado do cadáver, se alimentado, descido para a academia, se exercitado", disse o delegado Marcos Buss. Para a polícia, o crime foi premeditado e teria interesse financeiro.

*Com informações de reportagens publicadas em 26/04/2023 e 28/09/2021.

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