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O que acontece com sua saúde se você tomar vinho todo dia

Para adquirir os benefícios da bebida, a dosagem deve ser de baixa a moderada Imagem: iStock

Colaboração para VivaBem*

08/06/2024 04h00

Enquanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) declara que não existe dose segura para bebidas alcoólicas, um padrão alimentar reconhecido como patrimônio da humanidade —a dieta mediterrânea— integra o vinho tinto na lista de ingredientes benéficos para a saúde. Mas, nesse caso, ele tem dose e tempo certos.

Embora o consumo possa ser diário, ele deve ser de baixo a moderado, e ainda precisa acontecer durante o almoço e o jantar, acompanhado de boa hidratação ao longo do dia. Portanto, beber vinho, nesse quadro específico, tem sido associado à boa saúde em geral.

Alguns cientistas acreditam que a combinação de compostos fenólicos presentes na bebida e o álcool possui propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes que atuam como uma espécie de "assistente" das funções das células e dos tecidos do corpo.

Apesar disso, até o momento, nenhuma pesquisa científica conseguiu provar uma relação de causa e efeito entre beber vinho e ter mais saúde do coração, um dos argumentos mais usados por quem consome a bebida diariamente. Isso significa que não é o caso de usar essa desculpa para iniciar esse hábito.

Afinal, álcool em excesso faz mal ao coração, já que pode aumentar a pressão arterial e promover arritmias, entre outros problemas.

O que se sabe é que os polifenóis do vinho e o álcool, juntos, são protetores contra enfermidades cardiovasculares crônicas, em especial a doença arterial coronariana, quando comparado a pessoas que não consomem esse tipo de bebida ou as que o fazem em excesso.

Os efeitos benéficos já observados pelos pesquisadores incluem a dilatação arterial, que facilita a circulação sanguínea, além da proteção contra a formação de coágulos (ação antiplaquetária), o que diminui o risco da formação de trombos que podem bloquear os vasos sanguíneos.

Soma-se a isso a ação anti-inflamatória, que facilitaria a inibição dos efeitos do colesterol "ruim" (LDL), ou seja, mais proteção contra a formação das famosas placas.

Entretanto, a recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia é: o melhor é não beber. Mas se deseja fazê-lo, que o consumo seja de baixo a moderado. Isso corresponde a duas taças para homens e uma taça para mulheres (cada taça com 200 ml a 250 ml).

A seguir, veja alguns benefícios em estudo relacionados a esse consumo controlado de vinho.

Redução na marcha do declínio cognitivo

Imagem: Reprodução/Sanar

Revisões de estudos que observaram o consumo de vinho tinto e o declínio cognitivo concluíram que há um possível efeito de proteção neurológica, independente da idade e do gênero.

A advertência dos especialistas é que esses achados também não autorizam aqueles que nunca bebem a começar a fazê-lo com o fim de adiar perdas cognitivas.

Não está totalmente claro para os cientistas como é que se dá esse benefício. As hipóteses se baseiam no fato de que o baixo consumo de álcool está associado à melhora das funções cardiovasculares, redução de eventos cardíacos e maior sobrevida em comparação a pessoas que não bebem ou as que bebem pesado.

Outra teoria aposta na combinação de polifenóis e álcool, que aumentaria os níveis de proteínas que regulam a sobrevivência dos neurônios e a plasticidade das sinapses.

Maior diversidade da microbiota

Imagem: iStock

Uma revisão de estudos publicada pela revista científica Food Research International concluiu que existe um consenso de que os polifenóis derivados do vinho tinto e do suco de uva integral podem atuar na microbiota intestinal (conjunto de microrganismos que vivem no intestino), contribuindo para a diversidade microbiana.

Uma pesquisa na qual participaram cientistas brasileiros também observou esse efeito. Foi identificada a predominância de microrganismos dos gêneros Parasutterella, Ruminococcaceae, Bacteroides e Prevotella, considerados essenciais para a saúde geral do organismo, bem como a melhora em processos que evitam o estresse oxidativo que leva à formação de placas de gordura nas artérias.

Nível da glicose melhor

Imagem: iStock

Dados os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios do resveratrol, presente no vinho, observa-se melhor controle das taxas de glicose em quem o consome.

Como os resultados das pesquisas ainda variam, não está totalmente esclarecida a relação entre o consumo de álcool e o aparecimento do diabetes do tipo 2. No entanto, alguns deles apontam o benefício do consumo moderado para grupos determinados.

Esteja atento ao fato de que o beber de forma exagerada e frequentemente pode ter como consequência o diabetes e o ganho de peso, além de prejuízos na sensibilidade à insulina, no metabolismo e fígado.

Quando o quadro de diabetes já está estabelecido, o consumo de bebidas alcoólicas requer cuidadoso monitoramento da glicose.

Excessos podem resultar na piora das taxas, especialmente quando isso ocorre fora das refeições, condição que pode levar à hipoglicemia em indivíduos que fazem uso de medicações hipoglicemiantes.

Na dúvida, fale com seu médico para saber se seu quadro de saúde permite que você tome vinho tinto diariamente.

O todo-poderoso resveratrol

Imagem: Reprodução/Instagram

Na uva, a substância está presente nas cascas e sementes. Esse componente é classificado pelos especialistas como um tipo de polifenol e é um dos mais estudados pelos cientistas porque ele também se associa à longevidade.

Vinhos tintos têm maior concentração desse composto porque são produzidos com a fruta inteira, enquanto casca e sementes são separadas na produção do vinho branco.

Entre os principais benefícios já documentados destacam-se:

  • Ação anti-inflamatória
  • Antioxidante
  • Antimutagênico (controle das mutações das células cancerígenas)
  • Antineuroinflamatório
  • Neuroprotetor
  • Controle de toxinas que levam ao déficit cognitivo
  • Inibição do efeito do colesterol (LDL)
  • Relaxamento das artérias (endotélio)
  • Supressão da coagulação
  • Proteção contra a formação de placas de gordura nas artérias (aterosclerose)

Vinho não é para todos

Apesar dos possíveis efeitos benéficos, o vinho tem contraindicações. Ele não deve ser consumido pelos seguintes grupos:

  • Gestantes e mulheres que desejam engravidar
  • Mulheres que amamentam
  • Crianças e adolescentes
  • Pessoas que usam medicamentos de uso contínuo e que possam ter algum tipo de interação com o álcool (anti-inflamatórios, antidepressivos, ansiolíticos etc.)
  • Pessoas com ou em tratamento de certas doenças crônicas, como o câncer
  • Indivíduos que estejam seguindo um programa alimentar que requer restrição de calorias: cada grama de álcool fornece 7 kcal

Fontes: João Eudes dos Santos Neto, nutricionista especialista em saúde do adulto e do idoso do HUAC/UFCG (Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); José Rocha Faria Neto, médico cardiologista, professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR e do Epicenter (Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica); Patrícia Moreira Gomes, endocrinologista e diretora da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo); Protásio Lemos da Luz, professor titular sênior do Instituto do Coração do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), pesquisador e membro da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).

*Com informações de reportagem publicada em 22/08/2023

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