O que acontece com sua saúde se você tomar vinho todo dia
Enquanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) declara que não existe dose segura para bebidas alcoólicas, um padrão alimentar reconhecido como patrimônio da humanidade —a dieta mediterrânea— integra o vinho tinto na lista de ingredientes benéficos para a saúde. Mas, nesse caso, ele tem dose e tempo certos.
Embora o consumo possa ser diário, ele deve ser de baixo a moderado, e ainda precisa acontecer durante o almoço e o jantar, acompanhado de boa hidratação ao longo do dia. Portanto, beber vinho, nesse quadro específico, tem sido associado à boa saúde em geral.
Alguns cientistas acreditam que a combinação de compostos fenólicos presentes na bebida e o álcool possui propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes que atuam como uma espécie de "assistente" das funções das células e dos tecidos do corpo.
Apesar disso, até o momento, nenhuma pesquisa científica conseguiu provar uma relação de causa e efeito entre beber vinho e ter mais saúde do coração, um dos argumentos mais usados por quem consome a bebida diariamente. Isso significa que não é o caso de usar essa desculpa para iniciar esse hábito.
Afinal, álcool em excesso faz mal ao coração, já que pode aumentar a pressão arterial e promover arritmias, entre outros problemas.
O que se sabe é que os polifenóis do vinho e o álcool, juntos, são protetores contra enfermidades cardiovasculares crônicas, em especial a doença arterial coronariana, quando comparado a pessoas que não consomem esse tipo de bebida ou as que o fazem em excesso.
Os efeitos benéficos já observados pelos pesquisadores incluem a dilatação arterial, que facilita a circulação sanguínea, além da proteção contra a formação de coágulos (ação antiplaquetária), o que diminui o risco da formação de trombos que podem bloquear os vasos sanguíneos.
Soma-se a isso a ação anti-inflamatória, que facilitaria a inibição dos efeitos do colesterol "ruim" (LDL), ou seja, mais proteção contra a formação das famosas placas.
Entretanto, a recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia é: o melhor é não beber. Mas se deseja fazê-lo, que o consumo seja de baixo a moderado. Isso corresponde a duas taças para homens e uma taça para mulheres (cada taça com 200 ml a 250 ml).
A seguir, veja alguns benefícios em estudo relacionados a esse consumo controlado de vinho.
Redução na marcha do declínio cognitivo
Revisões de estudos que observaram o consumo de vinho tinto e o declínio cognitivo concluíram que há um possível efeito de proteção neurológica, independente da idade e do gênero.
A advertência dos especialistas é que esses achados também não autorizam aqueles que nunca bebem a começar a fazê-lo com o fim de adiar perdas cognitivas.
Não está totalmente claro para os cientistas como é que se dá esse benefício. As hipóteses se baseiam no fato de que o baixo consumo de álcool está associado à melhora das funções cardiovasculares, redução de eventos cardíacos e maior sobrevida em comparação a pessoas que não bebem ou as que bebem pesado.
Outra teoria aposta na combinação de polifenóis e álcool, que aumentaria os níveis de proteínas que regulam a sobrevivência dos neurônios e a plasticidade das sinapses.
Maior diversidade da microbiota
Uma revisão de estudos publicada pela revista científica Food Research International concluiu que existe um consenso de que os polifenóis derivados do vinho tinto e do suco de uva integral podem atuar na microbiota intestinal (conjunto de microrganismos que vivem no intestino), contribuindo para a diversidade microbiana.
Uma pesquisa na qual participaram cientistas brasileiros também observou esse efeito. Foi identificada a predominância de microrganismos dos gêneros Parasutterella, Ruminococcaceae, Bacteroides e Prevotella, considerados essenciais para a saúde geral do organismo, bem como a melhora em processos que evitam o estresse oxidativo que leva à formação de placas de gordura nas artérias.
Nível da glicose melhor
Dados os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios do resveratrol, presente no vinho, observa-se melhor controle das taxas de glicose em quem o consome.
Como os resultados das pesquisas ainda variam, não está totalmente esclarecida a relação entre o consumo de álcool e o aparecimento do diabetes do tipo 2. No entanto, alguns deles apontam o benefício do consumo moderado para grupos determinados.
Esteja atento ao fato de que o beber de forma exagerada e frequentemente pode ter como consequência o diabetes e o ganho de peso, além de prejuízos na sensibilidade à insulina, no metabolismo e fígado.
Quando o quadro de diabetes já está estabelecido, o consumo de bebidas alcoólicas requer cuidadoso monitoramento da glicose.
Excessos podem resultar na piora das taxas, especialmente quando isso ocorre fora das refeições, condição que pode levar à hipoglicemia em indivíduos que fazem uso de medicações hipoglicemiantes.
Na dúvida, fale com seu médico para saber se seu quadro de saúde permite que você tome vinho tinto diariamente.
O todo-poderoso resveratrol
Na uva, a substância está presente nas cascas e sementes. Esse componente é classificado pelos especialistas como um tipo de polifenol e é um dos mais estudados pelos cientistas porque ele também se associa à longevidade.
Vinhos tintos têm maior concentração desse composto porque são produzidos com a fruta inteira, enquanto casca e sementes são separadas na produção do vinho branco.
Entre os principais benefícios já documentados destacam-se:
- Ação anti-inflamatória
- Antioxidante
- Antimutagênico (controle das mutações das células cancerígenas)
- Antineuroinflamatório
- Neuroprotetor
- Controle de toxinas que levam ao déficit cognitivo
- Inibição do efeito do colesterol (LDL)
- Relaxamento das artérias (endotélio)
- Supressão da coagulação
- Proteção contra a formação de placas de gordura nas artérias (aterosclerose)
Vinho não é para todos
Apesar dos possíveis efeitos benéficos, o vinho tem contraindicações. Ele não deve ser consumido pelos seguintes grupos:
- Gestantes e mulheres que desejam engravidar
- Mulheres que amamentam
- Crianças e adolescentes
- Pessoas que usam medicamentos de uso contínuo e que possam ter algum tipo de interação com o álcool (anti-inflamatórios, antidepressivos, ansiolíticos etc.)
- Pessoas com ou em tratamento de certas doenças crônicas, como o câncer
- Indivíduos que estejam seguindo um programa alimentar que requer restrição de calorias: cada grama de álcool fornece 7 kcal
Fontes: João Eudes dos Santos Neto, nutricionista especialista em saúde do adulto e do idoso do HUAC/UFCG (Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); José Rocha Faria Neto, médico cardiologista, professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR e do Epicenter (Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica); Patrícia Moreira Gomes, endocrinologista e diretora da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo); Protásio Lemos da Luz, professor titular sênior do Instituto do Coração do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), pesquisador e membro da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
*Com informações de reportagem publicada em 22/08/2023
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