Qual a diferença entre transtorno do pânico e crise de ansiedade?
Colaboração para VivaBem, em São Paulo
09/06/2024 04h00
Trata-se de duas faces do mesmo problema: a ansiedade, para além daquela que é natural, diante de uma prova ou um momento difícil da vida.
O transtorno do pânico é uma manifestação extrema dessa tensão, acompanhada de medo intenso da morte e outros sintomas físicos importantes, como a taquicardia e dificuldades para respirar.
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A crise clássica de pânico aparece do nada, quando a pessoa está, por exemplo, dormindo, e pode ser confundida com um infarto ou AVC. Já a ansiedade generalizada é outro transtorno da mesma "família", em que a preocupação é mais constante, com picos eventuais, mas diferentes de um ataque de pânico.
As raízes dos dois problemas ainda não estão totalmente esclarecidas, mas, no caso da ansiedade, frequentemente há um gatilho envolvido, além de certa predisposição genética. A maioria das pessoas têm rotinas estressantes e ela pode surgir em períodos de aumento desse estresse.
Sintomas do transtorno do pânico
Sem motivo aparente, o cérebro dispara um sinal de alerta para o corpo todo. É como se fosse um curto-circuito, que provoca uma descarga de noradrenalina e adrenalina pelo organismo. Essas substâncias são responsáveis, junto com outros processos, pelas manifestações físicas da crise, que duram poucos minutos e envolvem quatro ou mais dos sintomas a seguir:
- Palpitação, coração pulsando forte ou acelerado;
- Suor;
- Tremores;
- Falta de ar;
- Sensação de desmaio;
- Náusea ou desconforto abdominal;
- Formigamentos;
- Dor ou desconforto no peito;
- Calafrios e sensação de calor;
- Sentimentos de irrealidade;
- Despersonalização (sentir-se fora de si mesmo);
- Medo de perder o controle ou enlouquecer;
- Medo de morrer.
Dificilmente o ataque ocorre só uma vez e é justamente a repetição que caracteriza o transtorno do pânico, novo nome para a antiga síndrome do pânico. Além disso, um dos ataques deve ter sido acompanhado de um mês ou mais de preocupações persistentes com ataques adicionais, ou comportamentos voltados para evitar o ataque. O transtorno costuma ser tratado com remédios e precisa ser acompanhado por um psiquiatra, pois pode levar à depressão e limita muito a qualidade de vida de quem sofre com ele.
Além da versão mais clássica e súbita do pânico há também a agorafobia, quando o episódio é provocado por um gatilho específico. Geralmente, quando a pessoa está em um lugar muito cheio, ou de difícil acesso, de onde não conseguirá sair se começar a passar mal, como um túnel muito longo ou um avião, por exemplo. Nesse segundo caso, além do medicamento, entra em cena a terapia cognitivo-comportamental, que expõe gradativamente a pessoa ao que provoca mais medo para combater a fobia desmedida.
Sintomas da ansiedade
São também emocionais e físicos, mas aqui eles não duram poucos minutos. Vão crescendo com o tempo, com picos de melhora ou piora. Quando a tensão atinge o ápice, tremedeira, suor, dores de cabeça, problemas de estômago e náusea podem aparecer.
Os emocionais, por sua vez, são bem intensos e constantes. A pessoa se sente à flor da pele, sempre irritada e a ponto de explodir. Inquietação e sensação de estar no limite, se cansar facilmente, ter dificuldade de concentração e sentir tensão muscular constante são outros indicativos. Além disso, ansiosos não dormem bem, têm insônia ou sentem que o sono não é o suficiente.
Se estes sinais estiverem presentes na maioria dos dias dos últimos seis meses, é interessante procurar um psiquiatra para investigar se o TAG (transtorno de ansiedade generalizada) se instalou. Até mesmo porque em mais de 70% dos casos ele está associado à depressão e pode levar a outros transtornos, como o próprio pânico e o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).
Apesar da forte relação com o estresse, a ansiedade também pode surgir por tendência genética, traumas na infância e abuso de substâncias estimulantes, como cafeína e cocaína, para citar dois exemplos. Na dúvida, consulte um especialista e não hesite em procurar ajuda. Se não controlada, o TAG leva até a doenças físicas como problemas cardíacos e hipertensão arterial.
E como diferenciar a dor no peito de um infarto?
O ataque cardíaco acontece quando as artérias que irrigam o coração sofrem algum problema, como o entupimento, e são impedidas de levar sangue até o músculo, que começa a morrer.
O sintoma mais clássico? Dor opressiva na região do tórax. Você sente uma pressão muito forte no peito e é comum sentir os reflexos da dor nos ombros, nos braços, queixo e até no abdômen.
Quem infarta também pode suar frio e ter falta de ar.
É possível ter dores por cerca de 20 minutos, o que mostra que as artérias realmente estão com problemas e você está de fato tendo um ataque. Porém, também é possível ter dores por quatro minutos, que evidenciam que as artérias não entupiram por completo, mas já estão dando sinais de falhas.
E fique de olho, nem sempre uma dor aguda é sinônimo de infarto. Médicos afirmam que muitas vezes órgãos que ficam entre o umbigo e o pescoço podem causar reações fortes e parecer um ataque cardíaco, como o estômago com gastrite forte, o esôfago com refluxo ou o pâncreas com pancreatite.
Pode existir confusão, mas só o ataque cardíaco é conhecido por trazer a sensação de pressão no peito, que pode chegar até as costas.
Fonte: Raphael Boechat Barros, psiquiatra e professor da UnB (Universidade de Brasília); Luciana Sarin, psiquiatra e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Antonio Pesaro, cardiologista do hospital Albert Einstein, em São Paulo.
*Com matéria de março de 2018.