Homens choram menos que mulheres, mas segurar emoção faz mal à saúde

Chorar é uma forma de expressão emocional com a qual todos nós nascemos. Derramar uma ou muitas lágrimas pode significar tristeza profunda, emoção, felicidade e até raiva. E vale reforçar: é uma reação totalmente normal do nosso organismo.

Sabe-se hoje que o choro é uma das formas que o corpo encontra para aliviar o estresse e a dor (seja ela física ou emocional), liberando substâncias como endorfinas, que estimulam o bem-estar e ajudam na regulação psíquica, como mostrou estudo publicado em maio de 2014 no periódico Frontiers in Psychology. Mas existem outras razões pelas quais os humanos choram.

Os bebês, por exemplo, se comunicam pelo choro quando sentem fome, dor ou solidão.

Algumas pessoas choram ao ver outras chorando em um sinal de empatia.

E há quem chore simplesmente por sentir uma emoção tão forte e intensa (positiva ou negativa), em uma tentativa de processar aquele sentimento.

A principal função do choro é devolver ao nosso sistema o seu estado de equilíbrio, porque traz alívio das tensões e uma sensação de relaxamento logo depois. Cassandra de Lima Machado, profissional da área de psicologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, que atua na unidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul

Machado lembra ainda que os seres humanos são os únicos animais que têm a capacidade de pensar sobre o que sente e pensa. "O choro, assim, pode também ser uma oportunidade de refletir sobre nós e o que desencadeou essa emoção arrebatadora", diz.

Segurar faz mal

Chorar é um ato totalmente normal e fisiológico do nosso corpo. Só que, em muitos casos, ele ainda é visto como um problema —seja porque esse tipo de expressão provoque desconforto nos outros, seja porque pode ser associado a algum tipo de fraqueza ou vergonha.

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Não à toa, é bastante comum que os adultos se incomodem com o choro de bebês e crianças, que ainda não têm maturidade emocional e acabam ouvindo expressões como "engole esse choro" diante de alguma necessidade não atendida ou conflito.

Isso pode se tornar um enorme problema no longo prazo, especialmente se a pessoa internalizar a ideia de que expressar suas emoções é inaceitável.

A saúde humana é um estado de equilíbrio entre o corpo e a mente. Quando as emoções são reprimidas e o choro é evitado, o corpo reage de forma negativa porque algo está em desarmonia. Vania Bastos, psicóloga da UBS Jardim Herculano, gerenciada pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim", em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo

Ao guardar para si as emoções e não deixar o corpo se regular naturalmente, ele pode apresentar desarranjos causados por esse desequilíbrio.

No lado emocional, pode-se gerar ou potencializar distúrbios mentais como depressão, ansiedade e transtornos de humor.

Já o acúmulo de tensão física também se reflete no corpo, com mais episódios de dor de cabeça, problemas gastrointestinais, alergias e dores musculares, além de alteração da pressão arterial.

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Quem esconde o choro para chorar sozinho, por exemplo, evidencia que, além do sofrimento, ainda vive uma solidão emocional e isso é bastante preocupante. Rita Calegari, psicóloga do Hospital Nove de Julho, em São Paulo

Quem sofre mais?

Nesse jogo de esconder as lágrimas e fingir costume, os homens tendem a sofrer mais, já que são ativamente incentivados a não chorar. "Existe uma ideia muito forte na cultura latina, na cultura ocidental, de que o choro é um sinal de fraqueza e, por isso, o homem não pode chorar", afirma Calegari.

Essa construção social começa justamente na infância, quando os meninos são orientados a reprimir o choro e os sentimentos. Não raro, eles crescem sendo vítimas de violência física e verbal, sendo castigados ou sofrendo preconceito por chorarem.

Por outro lado, muitas mulheres também são vistas como "descontroladas", "muito emotivas" ou até "histéricas" simplesmente por irem às lágrimas com mais frequência.

No geral, nós somos todos ensinados a restringir nossas emoções no ambiente social, principalmente quando elas são consideradas negativas ou desagradáveis, como a raiva e a tristeza. Cassandra de Lima Machado

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"Mas isso dificulta a expressão emocional e nos impossibilita de nos acolhermos, termos autocompaixão e validar nossos sentimentos. Não nos damos nem o direito de sentir o que sentimos", lamenta Machado.

Como se libertar e chorar quando necessário?

Não tem jeito: para se sentir mais confortável ao expressar emoções, incluindo aí chorar quando sentir necessidade, é preciso trabalhar o autoconhecimento, exercitar a autocompaixão e, se necessário, buscar auxílio especializado com um psicólogo para lidar melhor com os próprios sentimentos.

"Compreender os próprios limites emocionais e se permitir questionar e romper padrões de comportamento obsoletos, que não fazem mais sentido, é um bom começo para vivenciar esse momento de forma genuína", acredita Bastos.

Nesse sentido, a psicóloga afirma que algumas práticas, como meditação, sessões de terapia e até atividades físicas ao ar livre podem ajudar o corpo e a mente a "evoluir" na construção de uma boa saúde mental.

Vale dizer, no entanto, que buscar um lugar reservado para chorar ou ainda buscar a companhia de alguém de confiança para um desabafo pode ser uma forma de se preservar e não necessariamente tem a ver com a vergonha de chorar.

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"Chorar em público é expositivo mesmo, quem faz isso é muito corajoso, pois está muito exposto", afirma Calegari. "Quem se sente mal pode levar isso a um espaço mais privado, onde não terá tanta gente olhando e julgando, já que é esse sentimento de estar sendo julgado o que muitas vezes impede a pessoa de extravasar uma emoção mais intensa", diz.

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