Dá para controlar pensamentos intrusivos? Por que eles surgem?

Ter vontade de gritar em um ambiente silencioso, ideias inaceitáveis envolvendo sexo ou desejo de jogar o celular pela janela "do nada", sem qualquer motivo aparente, tem nome: pensamento intrusivo. Ele vem à mente de imprevisto e causa enorme angústia.

Pessoas que experimentam pensamentos assim, envolvendo atos estranhos, ficam com medo de que eles assumam o controle de suas decisões, ou temem que signifiquem algo terrível sobre elas, como uma falha de caráter. Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) e membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria)

O médico acredita que muita gente passa, passou ou passará, em algum momento, por situações como essas. Ocasionalmente e de forma breve, elas são encaradas como normais, pois o cérebro, bombardeado por informações de todos os lados, está sujeito a produzir pensamentos inúteis.

Outra questão importante é que, diferente da crença geral, ideias indesejáveis não refletem desejos íntimos. "Existem muitos mitos a respeito desses pensamentos, como inconscientemente querer realizá-los, ou estar alinhado com eles, o que não é verdade. O oposto é que é verdadeiro: os pensamentos vêm, sem que sejam desejados, ou façam parte do contexto da realidade. Prova é que há um desacordo, uma luta contra eles", afirma Scocca.

Se você não der atenção a esses pensamentos, eles se dissipam, o que acontece na maioria das vezes.

Quando passa a ser um problema?

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Imagem: iStock

"Se for algo recorrente, sem controle e que gere sofrimento ou seja incapacitante, pode ser um sintoma de doença mental, como transtornos ansiosos. Quando eles causam prejuízos, a doença que os gera precisa ser tratada adequadamente", diz o psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

Segundo o psiquiatra, os pensamentos intrusivos são um dos principais sintomas dos transtornos de ansiedade, mas precisam estar associados a outros sintomas. "Um médico psiquiatra fará o diagnóstico e indicará o tratamento ideal."

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Pensamento obsessivo, que é diferente do intrusivo, também pode atrapalhar e tem relação com transtorno obsessivo compulsivo, o TOC, por exemplo. "Um pensamento é intrusivo quando ele surge do nada, sem a vontade da pessoa, quando ele simplesmente se intromete no meio dos outros pensamentos. Se este pensamento persistir, ele passa a ser um pensamento obsessivo", diz Geraldo.

Também podem explicar a origem dos pensamentos intrusivos neuroses, transtorno do estresse pós-traumático e depressão, em que o pensamento predominante é de fracasso, inferiorização, suicídio.

Como cessar ou lidar com pensamentos

Se os pensamentos intrusivos forem frequentes, é importante buscar ajuda de profissionais, como psicólogos ou psiquiatras.

"Sem esse apoio, o indivíduo, por mais que sofra, pode ficar paralisado, preso na compulsão obsessiva por dias, às vezes anos seguidos. Aí o quadro se cristaliza e exige muito mais empenho para ser revertido", diz aponta Henrique Bottura, psiquiatra colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo ele, tratamentos em geral (psicoterapia associada a medicamentos) surtem bons resultados, embora existam algumas limitações.

Em conjunto com técnicas terapêuticas específicas, vale investir em meditação, fazer atividade física, ouvir música. O objetivo é deslocar os pensamentos intrusivos para o fundo, reforçando os que sejam positivos e fazer o paciente reconhecer que não refletem vontades ou verdades. A compreensão disso é um ponto fundamental para a possibilidade de melhora.

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*Com informações de reportagens publicadas em 23/04/2022 e 19/02/2024

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