Afeta região maior do cérebro: entenda AVC massivo, que Noam Chomsky teve
O linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky, 95, teve um acidente vascular cerebral massivo em junho do ano passado. Segundo matéria do jornal Folha de S.Paulo, ele está com dificuldades na fala e o lado direito do corpo entorpecido.
O que é AVC massivo?
Primeiro, é preciso entender o que é AVC (Acidente Vascular Cerebral). De acordo com o neurocirurgião Wuilker Knoner Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Funcional e Estereotaxia, o problema pode acontecer de dois modos:
Isquêmico: acontece quando há um entupimento de um vaso cerebral, causando impedimento da passagem de oxigênio (o que causa morte de células cerebrais).
Hemorrágico: acontece da ruptura de algum vaso, causando hemorragia no cérebro e podendo comprometer a passagem de oxigênio, por comprimir órgão.
O AVC massivo é comumente chamado de AVC maligno, de acordo com o Campos, e vai afetar de formas diferentes conforme o tipo de AVC.
"A diferença é o tamanho. No isquêmico, se entupir uma das artérias principais que levam o sangue para cabeça, vai levar à isquemia de todos os outros vasos que nascem desse vaso principal, causando um AVC massivo", diz o médico.
É como uma árvore: se fechar um tronco principal, que ramifica outras áreas e galhos, como a artéria cerebral média, que nutre todo o cérebro, interrompe-se a circulação para várias áreas do órgão. Wuilker Knoner Campos, neurocirurgião
Quando há um AVC hemorrágico, o problema tende a comprimir o cérebro pelo excesso de sangue derramado dentro da cabeça. Por conta da calota craniana, o órgão não consegue se expandir. "Nesses casos, pode ser considerado AVC massivo quando o sangue começa a comprimir e desviar áreas cerebrais", aponta Campos.
De acordo com Guilherme Torezani, Coordenador de Doenças Cerebrovasculares do Hospital Icaraí e coordenador da Neurologia do Hospital e Clínica São Gonçalo, o AVC massivo também é chamado de AVC extenso. "No AVC extenso, você está colocando que ele infartou ou morreu uma região maior do cérebro. Há AVC pequenos, em que apenas uma área menor do cérebro morre", diz.
Quais as sequelas de um ACV massivo?
Renato Andrade Chaves, neurocirurgião especialista em cérebro, aponta que as sequelas do AVC massivo estão relacionadas a uma lesão cerebral extensa, podendo resultar em quadro clínico mais grave, geralmente com os seguintes agravantes:
Paciente pode ficar em estado vegetativo (quando a maior parte do cérebro sofre uma lesão grave, impossibilitando as funções mentais, mas o sistema ativador continua funcionando, permitindo a vigília)
Grave dificuldade na fala
Paralisia de um lado ou em todo o corpo
Em termos de impacto, um AVC massivo geralmente apresenta um risco maior de morte ou sequelas graves em comparação com um AVC de menor magnitude.
Sequelas de um AVC massivo são permanentes?
De acordo com a reportagem da Folha de S.Paulo, esse não aparenta ser necessariamente o caso de Noam Chomsky, que foi capaz de levantar um dos braços e expressar revolta ao ver as notícias sobre Gaza na TV.
Muito provavelmente, o linguista já fez um tratamento inicial e está fazendo a reabilitação. Para recuperar esse paciente, o melhor estado será depois de um ano com muita fisioterapia ?somente a partir desse ponto se pode avaliar as sequelas permanentes de um AVC. Wuilker Knoner Campos, neurocirurgião
Apesar de graves, os AVC massivos representam cerca de 5% dos casos, de acordo com Campos. "O normal é o entupimento de um vaso mais distante, que não afete o cérebro todo", diz o neurologista.
Tratamento é mais difícil
De acordo com Chaves, o tratamento do AVC massivo é mais difícil devido à gravidade e extensão do dano cerebral, que pode envolver múltiplas áreas críticas do cérebro simultaneamente.
A janela de tempo para intervenções eficazes, como a administração de trombolíticos no caso de AVC isquêmico, é muito curta, e a complexidade e a urgência do tratamento são maiores, exigindo intervenções rápidas e frequentemente multidisciplinares, incluindo cuidados intensivos, neurocirurgia e suporte vital avançado.
A recuperação também tende a ser mais desafiadora, exigindo reabilitação intensiva e prolongada.
Campos ainda complementa que, entre os tratamentos no período crítico, na área cirúrgica, pode estar a abertura da calota craniana, para permitir a expansão do cérebro e evitar maiores danos ao órgão.
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