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Por que Brasil foi eficaz na luta antitabaco, mas perde batalha contra vape

Imagem: iStock

Janaína Silva

Colaboração para o VivaBem

12/06/2024 04h00

O Brasil ocupa posição de destaque no combate ao tabagismo nas Américas, de acordo com a plataforma Progress Hub, que monitora a implementação das propostas da OMS (Organização Mundial da Saúde) para o controle do tabaco. Entre as propostas que coloca o país em 1º lugar nas Américas e na 18ª posição entre 180 países, estão redução da interferência da indústria, regulamentação do conteúdo dos produtos de tabaco e coordenação da vigilância e da investigação dos produtos ligados ao tabagismo.

No entanto, o uso dos cigarros eletrônicos, proibidos desde 2009 no país, tem apresentado crescimento entre os jovens e preocupado as entidades e associações médicas. Em abril, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu que segue proibida a fabricação, venda, importação e propaganda dos "vapes" no Brasil.

De acordo com Mariana Pinho, enfermeira, mestra em saúde pública e coordenadora do Projeto Controle do Tabaco, na ACT Promoção da Saúde, a regulação, obviamente, tem sua importância. "Impediu que o consumo fosse desenfreado como ocorreu nos Estados Unidos, onde esses dispositivos foram incluídos no mercado como bem de consumo, ou seja, eram vendidos da mesma forma que se vende uma xícara, um copo, assim, sem regras."

Além disso, as leis de ambientes livres de fumaça, que proíbem a venda de cigarro para menores de 18 anos e que determinam o preço mínimo do produto, fazem com que diminua o número de tabagistas, conforme Maria Vera Cruz, pneumologista do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) e da comissão de tabagismo da SBPT. "Todas obtiveram sucesso e são uma das razões para que as taxas no país sejam cada vez menores de prevalência de tabagistas na população geral", analisa.

Para ela, quando se fala em ambientes livres de tabaco, de fumaça, isso inclui o cigarro eletrônico, mesmo que quando as leis para controle do tabagismo foram promulgadas no Brasil, ele ainda não existisse.

Na opinião de Aldo Agra de Albuquerque, pneumologista da comissão de tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), a lei antifumo engloba o cigarro eletrônico, no entanto, o problema não está na lei e, sim, na sua aplicação, com o combate ao contrabando e ao comércio sendo insuficientes para o controle dessa nova onda de usuários de produtos de nicotina.

O Brasil segue no caminho certo, mantendo a proibição, ao contrário do que se fez em outros países e que hoje apresentam altíssimas taxas do seu uso. Entretanto, os jovens ainda acham que fumar é um hábito interessante, e como o cigarro eletrônico não tem os cheiros desagradáveis e o sabor do cigarro, há a ilusão que não causa doenças. Aldo Agra de Albuquerque, pneumologista da comissão de tabagismo da SBPT

Os cigarros eletrônicos foram colocados no mercado para circular com uma mensagem muito clara de que eles seriam produtos diferentes dos cigarros convencionais, segundo Pinho. Junto dessa mensagem, divulgava-se que era apenas vapor d'água, sem substâncias que fizessem mal. Isso criou a falsa impressão de que o uso pudesse ser feito em qualquer ambiente, ao lado de qualquer pessoa, sem expor o outro, às substâncias. "Demorou para que se compreendesse que aquele aerossol tem substâncias tóxicas."

O que a luta contra o cigarro ensinou, segundo Albuquerque, é que são necessárias políticas claras e objetivas contra o eletrônico, assim como foi feito com o convencional, com o monitoramento da prevalência de usuários, tratamento dos dependentes e, principalmente, o combate ao contrabando e venda.

Como reduzir o uso dos "vapes" entre a população jovem

"Orientar esse público dos malefícios do cigarro eletrônico e diminuir o acesso a esses dispositivos fazem parte de medidas que podem reduzir o consumo entre os jovens", afirma o pneumologista.

Para ele, a proibição da Anvisa não é suficiente e a única forma de sensibilizar os jovens é a informação sobre os danos que os cigarros eletrônicos causam à saúde. Esse trabalho é parecido com o que é feito com o tradicional há muitos anos.

Os prejuízos causados pelo [cigarro] tradicional começaram a ocorrer 30 anos depois que o consumo do cigarro aumentou, ou seja, é preciso tempo para que os malefícios fiquem evidentes, e o 'vape' tem pouco mais de dez anos. Então, já temos muitos artigos mostrando que pioram os sintomas da asma, os alérgicos e os riscos cardíacos, mas ainda vão aumentar o número de estudos. Maria Vera Cruz, pneumologista

Nas palavras da médica, devem se repetir as campanhas já realizadas com o cigarro comum, voltadas aos jovens e incluindo a divulgação nas mídias sociais.

A ACT Promoção da Saúde fez uma campanha para o Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado no dia 31 de maio, com um concurso de vídeos para o Instagram e TikTok. "O objetivo era estimular os jovens de 15 a 29 anos a produzirem conteúdo para informar os prejuízos à saúde, mas também das estratégias da indústria do tabaco para chamar e despertar curiosidade e atenção desse público", informa coordenadora do Projeto Controle do Tabaco.

Fontes: Aldo Agra de Albuquerque, pneumologista da comissão de tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia); Mariana Pinho, enfermeira, mestra em saúde pública e coordenadora do Projeto Controle do Tabaco, na ACT Promoção da Saúde; Maria Vera Cruz, pneumologista do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) e da comissão de tabagismo da SBPT.

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