Não é só para evitar gravidez: DIU ajuda a tratar algumas questões de saúde
Janaína Silva
Colaboração para VivaBem
12/06/2024 04h05
Uma postagem no X (antigo twitter) sobre o uso do DIU —dispositivo intrauterino— no tratamento contra o câncer levou a uma série de comentários sobre a indicação para problemas de saúde, como endometriose, cólica e fluxo menstrual excessivo, assim como dúvidas sobre tipos, dor para colocação e acesso pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Sim, o dispositivo ainda é alvo de polêmicas, apesar de ser um dos métodos mais antigos e de ter alta eficácia na contracepção, além de ser prescrito em tratamentos de reposição hormonal na menopausa, entre outros.
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Existem 2 tipos de DIUs, os hormonais e os não hormonais. Os hormonais são o Mirena e Kyleena, o segundo é mais recente, e apresentam concentrações diferentes de hormônios.
Já os não hormonais também são dois: o de cobre e o de cobre com prata. Existem tamanhos diferentes para uso de acordo com o volume uterino e a validade de cada um varia, sendo preciso realizar a substituição.
Os DIUs não hormonais são liberados pelo SUS, e deve-se procurar o médico que faz o encaminhamento.
Os dispositivos intrauterinos têm menos contraindicações e efeitos colaterais, comparados aos demais métodos, e há ainda inúmeros benefícios. O DIU não é abortivo, não causa câncer e nem aumenta o risco, pelo contrário, protege de câncer de colo de útero e de outros; além do risco de falhar ser muito menor. Mariane Nunes, ginecologista e obstetra, membro da Comissão de Anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia)
Eficaz como método contraceptivo, mas não só isso...
Engravidar usando DIU? As chances são baixas, iguais ou menores do que a laqueadura, cerca de 1 a 5 a cada mil mulheres. Quando isso ocorre, tirar o DIU pode levar a perda da gestação, mas, ao mantê-lo, o risco é ainda maior. "Assim, se o fio estiver visível, é menos arriscado tirá-lo do que deixar no lugar", explica Nunes.
Larissa Cassiano, ginecologista e obstetra, explica que é também utilizado como método contraceptivo de emergência, se inserido em até 72 horas da relação consegue-se evitar a gestação.
Trata câncer ginecológico, de mama e colo de útero. "Para casos de câncer com contraindicação hormonal, o DIU de cobre é uma opção, pois o efeito dele ocorre por meio da liberação de íons de cobre sem nenhum efeito hormonal, ainda que o hormônio presente no DIU possua poucas contraindicações", explica Cassiano.
Trata endometriose e fluxo menstrual intenso. Para Raimundo Nunes, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista, os DIU hormonais são a primeira escolha para tratamento da endometriose, não sendo endometriose profunda.
A endometriose ocorre quando o tecido do endométrio fica fora da cavidade uterina, ou seja, no ovário, na trompa ou no intestino, em várias localizações. Assim, o dispositivo por meio da liberação de hormônio diminui a ação do estrogênio no endométrio, afinando-o.
"Ele é importante no tratamento, pois depois de um determinado tempo, as pacientes deixam de menstruar e isso ajuda muito para evitar dores", afirma. "Em casos de menstruação intensa, a indicação é de utilização do dispositivo com hormônio, pois consegue criar um bloqueio hormonal reduzindo o fluxo", esclarece Larissa Cassiano.
Como terapia de reposição hormonal na menopausa. O DIU hormonal possui a progesterona, um dos hormônios utilizados para reposição hormonal, em conjunto com o estrogênio, feito via oral ou transdérmico, na forma de adesivo ou creme.
Dói para colocar?
A dor depende de cada mulher, é comum um leve desconforto ou uma cólica, sim, de acordo com os especialistas, mas existem medidas para controle da dor, como analgesia de colo de útero, ou sedação em ambiente hospitalar.
"A dor é muito subjetiva, mas a inserção do DIU é bem tranquila. Coloca-se uma música, explica-se bem o que vai acontecer. Existem medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos que podem ser usados antes do procedimento, que é bem rápido", esclarece Lorena Porto Magalhães, ginecologista e obstetra da Maternidade Climério de Oliveira e Hospital Universitário Professor Edgard Santos da UFBA (Universidade Federal da Bahia), ligado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).