Pai briga por tratamento de R$ 400 mil negado à filha em estado vegetativo
A família de Larissa Moraes de Carvalho, 31, que vive há um ano em estado vegetativo após ter feito uma cirurgia ortognática na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora (MG), enfrenta duas batalhas: a primeira é a recuperação da estudante de medicina. A segunda é uma briga na Justiça para que a jovem possa ter acesso ao tratamento de neuromodulação.
O que aconteceu
Em abril, o UOL revelou que Larissa Moraes de Carvalho vive em estado vegetativo desde março de 2023, quando passou por uma cirurgia para corrigir mordida cruzada. A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora está sendo investigada por suposto erro médico.
Logo após completar um ano da cirurgia, a família da Larissa conseguiu, pela Justiça, acesso ao home care, que é o tratamento e acompanhamento médico domiciliar.
Agora, a família está em outra batalha: conseguir a liberação para que Larissa consiga o tratamento de neuromodulação. Segundo o pai da jovem, Ricardo Carvalho, o Saúde Servidor, plano de saúde da Prefeitura de Juiz de Fora, negou duas vezes o tratamento, alegando que a neuromodulação não está no rol de procedimentos médicos cobertos pelo Plano de Assistência à Saúde.
Carvalho explica que o tratamento custa cerca de R$ 400 mil por ano, algo que a família não tem como arcar. "Não temos condições de pagar. Estamos tentando a liberação do tratamento desde junho de 2023", explicou.
Diante das recusas do plano de saúde, a família buscou a Justiça. O processo foi negado em 1ª Instância e, atualmente, aguarda uma decisão da 2ª Instância. O processo está nas mãos do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em Belo Horizonte, desde o dia 10 de maio. Não há data para ser analisado.
Esse tratamento é a nossa esperança. A Larissa tem reagido bem ao que está sendo feito até agora, que é fonoaudiologia e outros tratamentos em casa. Pelo que nossos médicos disseram, a neuromodulação é o que tem de mais moderno na área. Ricardo Carvalho, pai de Larissa
Benefícios da neuromodulação
Especialistas ouvidos por VivaBem não conseguem cravar que a neuromodulação possa dar resultados para o caso da Larissa, por não conhecerem o histórico clínico da estudante. No entanto, explicaram que a técnica tem tido aplicações consideradas positivas.
Filipe Aydar Sandoval, neurologista do Hospital Sírio-Libanês e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, explicou que a neuromodulação "se refere ao conjunto de tecnologias que, por meio de estímulos direcionados em áreas específicas do sistema nervoso, são capazes de alterar seu funcionamento".
Segundo o professor Abrahão Baptista, da Universidade Federal do ABC, a neuromodulação pode ser feita através de estímulos elétricos ou magnéticos. "Modular a atividade do sistema nervoso significa tentar mudar a atividade neuronal. Ou seja, os neurônios disparam de uma determinada forma, e você pode, com estimulação elétrica fraca ou magnética, tentar mudar para que eles recuperem uma função que está danificada ou perdida", explicou.
Na condição de Larissa, que ficou 17 minutos em parada cardiorrespiratória, a neuromodulação pode ajudá-la na recuperação.
No caso da Larissa parece que uma parte provavelmente grande do córtex cerebral foi danificada com a lesão. Com a neuromodulação a gente pode tentar ativar de novo a parte que sobreviveu (à falta de oxigênio por causa da parada cardiorrespiratória). Nosso objetivo (com a neuromodulação) é aumentar a atividade cerebral. Abrahão Baptista
Neuromodulação pelo SUS
A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira (5), a inclusão da neuromodulação no rol de procedimentos a serem feitos pelo SUS. Agora, o PL de autoria da deputada Maria Rosas (Republicanos/SP) vai passar por outras comissões até ser votada em plenário.
A expectativa dos especialistas é de que a neuromodulação se torne cada vez mais usada.
Assim como outras tecnologias em saúde que surgiram progrediram e pouco a pouco se incorporaram à prática, acredito que com o passar do tempo, a maior difusão e disponibilidade da neuromodulação podem, sim, torná-la mais acessível a maior número de pacientes e profissionais de saúde. Filipe Aydar Sandoval, neurologista
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