Maconha e exercício físico: o que a ciência já sabe dessa relação
Muitas pessoas que frequentemente usam maconha também parecem ser aquelas que se exercitam frequentemente, de acordo com um grande estudo sobre a Cannabis legal e os hábitos de exercício, publicado em 2019 no periódico Frontiers in Public Health.
A pesquisa mostrou que muitas pessoas que relatam o uso de maconha antes ou depois de um treino acreditam que isso deixa o exercício mais agradável e que talvez os motive a se exercitar. Entretanto, poucos garantem que ela de fato melhore seu desempenho físico.
Como tal associação foi investigada?
Os pesquisadores procuraram usuários de Cannabis em vários estados americanos onde a droga é legal, incluindo Colorado, Califórnia, Washington e Oregon.
Os participantes foram recrutados por meio de sites, dispensários e clínicas.
Ao todo, reuniram respostas de mais de 600 homens e mulheres que usavam Cannabis, a maioria dos quais disse também que se exercitava, pelo menos às vezes.
Quais foram os resultados
Os pesquisadores descobriram que quase 82% dos participantes disseram usar Cannabis por volta do horário do treino.
Esse grupo tendia a ser mais jovem, mais magro e frequentemente mais masculino que aqueles que não usavam maconha em conjunto com o exercício.
Eles também se exercitavam mais frequentemente e usavam mais Cannabis.
Cerca de 70% dos participantes relataram que o uso de maconha aumentava seu prazer durante os treinos, enquanto quase 80% sentiam que a erva melhorava sua recuperação, e mais da metade estava convencida de que o uso os motivava a ser fisicamente ativos.
Porém apenas cerca de 35% consideraram que ela realmente melhorava seu desempenho nos exercícios.
Tema requer estudos aprofundados
À época, os pesquisadores se pronunciaram sobre esses achados não serem vistos como um endosso da maconha em associação com o exercício, mas como sugestões de que algumas ideias arraigadas sobre Cannabis e estilo de vida podem estar ultrapassadas.
Os resultados do estudo também se demonstraram severamente limitados por serem autoavaliações de voluntários selecionados que vivem em estados norte-americanos. Os estados que legalizaram a Cannabis são aqueles notoriamente mais ativos fisicamente. Se as pessoas em estados menos ativos respondessem de forma semelhante, é incerto.
A pesquisa também não respondeu como a Cannabis afeta as pessoas durante o exercício, inclusive a probabilidade de aumentar as lesões, a disposição de assumir riscos ou, como algumas evidências indicam, a tendência de rir e de se distrair enquanto caminham depois de fumar.
Ele também não explicou como a maconha afeta a maneira de encarar o exercício, embora haja suspeitas de que as mudanças na química cerebral, na sensibilidade à dor e à inflamação estimuladas pela droga estejam provavelmente envolvidas.
Os cientistas afirmaram que gostariam de ver muito mais pesquisas sobre Cannabis e exercício, mas o financiamento e a aprovação para experimentos relevantes permanecem difíceis de obter, dada a atual regulamentação federal.
Possíveis riscos da maconha no treino
Segundo Paola Machado, doutora em saúde e diretora de comunicação do CREF4/SP (Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região), enquanto a pessoa fuma, e por cerca de uma hora depois, a maconha faz com que a frequência cardíaca aumente, ocasionando uma elevação da pressão arterial e, posteriormente, um risco elevado de ataque cardíaco.
Esses efeitos são dependentes da dose, ou seja, quanto mais maconha for utilizada, maiores serão os prejuízos no sistema cardiovascular. Por isso, fumar maconha é arriscado para pessoas com alto risco de doenças cardíacas. Quanto maior o risco subjacente devido à idade, pressão arterial, diabetes etc., maior o risco potencial da maconha, diz Machado.
Mas mesmo sendo um indivíduo saudável, as mudanças na pressão arterial e frequência cardíaca durante o exercício após usar maconha têm o potencial de causar tontura e quedas, continua a doutora.
Os efeitos eufóricos e sedativos da maconha também podem ser prejudiciais e até perigoso em um treino. A droga pode reduzir a coordenação durante a atividade física e aumentar o risco de traumas, acidentes etc.
Além disso, evidências mostram que os compostos canabinoides encontrados na Cannabis afetam a percepção da dor e do desconforto. A redução de percepção de dor pode causar lesões severas, exagero nos treinos e até mesmo efeitos adversos e irreversíveis para o organismo.
*Com informações de reportagens publicadas em 18/05/2019 e de texto de coluna de 21/06/2019
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