'Senti textura estranha no testículo e descobri câncer aos 24 anos'
Guilhermo Dal Lago, 25, começou a sentir um desconforto no testículo em fevereiro desse ano. De início, ele encarou como uma textura estranha na região, que ficou sensível e "rígida". Mas depois de ignorar o sintoma por duas semanas, o empresário decidiu ir a um urologista, que apontou na mesma hora o provável tumor no testículo.
"Uma coisa que já me preocupava no começo é que eu não sentia dor. Por que todas as outras doenças que envolvem o testículo causam muita dor, então dificilmente seria uma inflamação", detalhou ele a VivaBem, lembrando suas primeiras pesquisas após o início dos sintomas.
As causas já comprovadas para o tumor nos testículos podem ir de lesões e traumas até, simplesmente, genética. Guilhermo prefere não pensar demais no que pode ter acontecido no seu caso, mas lembra da primeira vez que sentiu um incômodo na região.
"Uma semana antes [do diagnóstico] tinha viajado e feito uma corrida com um shorts daqueles que tem uma cueca por dentro, pra você não usar outra e ficar com calor. Estava no interior e assim que voltei para o sítio fui sentar na beira da piscina. Parecia que tinha sentado em cima do meu testículo, senti uma dor horrível, mas passou."
Alguns dias depois, o empresário mineiro, que mora em São Paulo, começou a sentir a região dura e com uma textura diferente, o que o deixou em alerta.
Logo em sua primeira ida ao urologista, Guilhermo ouviu sem rodeios que todos os sintomas apontavam apenas para um tumor. Junto ao pedido de exames para confirmar o diagnóstico, ele já recebeu a guia de exames para a remoção do testículo afetado.
"Você retira direto porque não há possibilidade de fazer biópsia no testículo. Meu oncologista chamou o testículo de 'santuário', é uma região ultraprotegida, que não aceita quimioterapia, por exemplo. Tem câncer que você tira na quimioterapia e vai embora. Mas esse não tem como fazer nada antes."
A primeira confirmação do câncer de Guilhermo veio pelo exame de sangue com alteração do beta HCG, tipicamente medido para atestar gravidez.
Em homens cis, a elevação nos níveis desse hormônio costumam apontar a presença do tumor.
"Antigamente, o convênio até se negava a fazer esse exame em homem porque não achava sentido. O meu nível estava umas 11 vezes acima do normal. E quando fiz o exame de ultrassom tive certeza. O meu urologista já entrou em contato querendo marcar a retirada."
Entre a primeira consulta e a cirurgia, o testículo afetado cresceu cinco centímetros. Apesar da situação, o empresário diz que sofreu para conseguir autorização do convênio para a retirada do tumor.
"Fiz a retirada no dia 26 de abril. Para poder aprovar, foram umas duas, três semanas. Fiz em um pronto-socorro, porque o convênio simplesmente tratava como se não fosse urgente. Tinha vários laudos dos médicos, falando que era urgente, o médico enviava e eles falavam que não havia sido enviado", detalha.
O jovem imediatamente ganhou uma prótese na região íntima. Ele descobriu o tumor no início e não foi diagnosticado com metástase, mas ainda vai passar por ciclos de quimioterapia por precaução.
Segundo ele, a notícia de que o tratamento não acabava com a cirurgia foi o maior "baque" até agora.
"Acho que o medo de muitas pessoas que enfrentam o câncer nem é o câncer em si, mas, sim, o procedimento da quimioterapia que derruba a pessoa. Fiquei bem chateado, não queria nem conversar direito, e tive que viajar até Minas porque era Dia das Mães no domingo e meu aniversário também."
O empresário demorou um pouco para contar sobre a doença aos parentes e amigos. De início, ele dividiu a notícia apenas com os pais e o irmão, que também moram em São Paulo.
"Você está passando por uma situação difícil, focando em ficar bem, e aí você conta para alguém e essa pessoa desaba na sua frente? Evitei muito isso. Com meus pais e irmão comentei de cara: 'ó, pode ser um tumor' e eles não acreditavam nem a pau. 'Você é novo, saudável, como que você tem uma coisa dessa? Deve ser só uma lesão'. Mas quando foram aumentando os problemas, as pessoas foram desabando."
Em sua primeira visita a Minas, na comemoração do Dia das Mães, Guilhermo passou por situações que o fizeram ter vontade de compartilhar sua história no TikTok, onde seu relato viralizou.
"Quando cheguei, senti que todo mundo sabia, todo mundo estava fingindo que não sabia e estava fingindo que eu não tinha nada. Então pensei: 'estou mal, triste, mas quer saber? Eu vou tentar fazer algo bom disso, compartilhar e ver o que dá'."
Hoje, além das mensagens de apoio vindas de conhecidos, ele recebe comentários de pessoas que tiveram histórias parecidas, desejando uma recuperação rápida.
Ao longo da busca pela cura, o empresário também já ouviu recomendações de alternativas como detox "milagrosos", mas destaca: levava uma rotina saudável antes de receber o diagnóstico.
"Não faço uso de esteroides, anabolizantes, nada. Realmente você fica: 'por que comigo?'. Só que eu sempre quis procurar o lado positivo das coisas, então até nessas porcarias tento achar algum sentido."
A expectativa inicial é que Guilhermo termine o tratamento agora em junho, após dois ciclos de quimioterapia —que ainda dependem de liberação do convênio.
O jovem se diz "tranquilo" com o processo e feliz com a repercussão nas redes sociais, destacando a importância da saúde mental em todo o processo.
"Estou trabalhando normal, viajando e tudo mais. Só não consigo fazer os meus exercícios, porque estou em pós-cirúrgico. Falo com a minha terapeuta: não posso ser muito positivo, acreditar que tudo vai ser curado em nome de Deus, mas também não posso achar que vou morrer e ficar parado. Sei o que tenho que fazer e faço."
Autoexame ajuda na identificação do câncer de testículo
Os órgãos reprodutores masculinos, conhecidos como testículos, encontram-se alojados na bolsa escrotal, desempenhando o papel fundamental na produção dos espermatozoides e da testosterona, o hormônio responsável pelos traços sexuais masculinos.
Embora represente apenas 1% dos casos de tumores que acometem os homens, a incidência de câncer testicular tem crescido nos últimos anos.
Ao contrário de outros tipos de tumor, como o de próstata, o câncer de testículos é mais comum em homens mais jovens, entre 15 e 34 anos.
Ele é facilmente identificável por meio do autoexame, realizado pelo toque nos testículos, que são órgãos externos. Quando diagnosticado em estágio inicial, dentro do próprio testículo e sem metástase, possui índices de cura que variam entre 90% e 95%. Portanto, destaca-se a importância do autoexame.
Desde a adolescência, é recomendado que os jovens verifiquem seus testículos, comparando um lado com o outro e observando possíveis discrepâncias, especialmente a presença de nódulos endurecidos, variação de tamanho, desconforto abdominal, na virilha ou na região escrotal.
A partir dessa fase da vida, é aconselhável instruir os jovens sobre a importância da sensibilidade testicular, pois o conhecimento adequado facilita a detecção de qualquer alteração, seja em relação ao volume, posição ou desconforto não habitual.
É igualmente importante estar atento a mudanças na consistência, pois os testículos podem apresentar endurecimento, nódulos ou protuberâncias na superfície, que são sinais de alerta nas fases iniciais do câncer testicular.
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