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O que acontece na sua boca quando você não usa fio dental todo dia

Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

18/06/2024 04h10

Para executar funções como comer, respirar, falar e ainda sentir-se bem e confiante nas atividades sociais e profissionais, é essencial que os dentes e as estruturas da boca e da face estejam saudáveis.

Como a saúde bucal integra a saúde geral, as doenças a ela associadas têm como fatores de risco os mesmos das DCNT (doenças crônicas não transmissíveis), destacando-se o consumo de açúcar e de bebidas alcoólicas, o tabagismo, além da falta de cuidados com a higiene.

Neste último quesito, a escovação e o uso do fio dental possuem papel determinante.

No Brasil, 63% das pessoas usam escova de dentes, creme e fio dentais. As mulheres formam o maior grupo. Dados do Ministério da Saúde/IBGE.

Embora a maioria das doenças bucais possa ser prevenida, elas acometem 3,5 bilhões de pessoas no mundo, número que tem se mantido nos últimos 30 anos.

A lesão por cárie não tratada em dentes definitivos é a doença mais frequente.

Países de baixa e média rendas não têm serviços suficientes para prevenir e tratar doenças bucais. Dados da OMS.

Os efeitos no seu corpo

Relacionada à saúde integral e à qualidade de vida, a saúde bucal pode ser garantida por meio de práticas preventivas, principalmente hábitos de higiene como a escovação, o uso do fio dental, além de visitas regulares ao dentista.

No caso do fio dental, a falta ou a falha do seu uso pode ter como resultado os seguintes quadros:

  • Cárie
  • Doença periodontal (Gengivite e periodontite)

Você bagunça o ecossistema e abre espaço para lesões

Na sua boca convivem cerca de 700 espécies diferentes de microrganismos que formam um ecossistema.

Nele, algumas bactérias têm função específica: ao metabolizar açúcares, elas produzem ácidos. Ao se juntarem entre si, elas formam uma película —o biofilme, também conhecido como placa bacteriana, uma colônia organizada formada por 98% de bactérias.

Quando esse processo não é controlado, o resultado é o desequilíbrio do pH bucal que pode levar à destruição [desmineralização] da estrutura da superfície do dente (esmalte ou dentina), assim como a lesões, popularmente conhecidas como cáries.

Tais lesões podem ocorrer entre os dentes, justamente na área que deve ser higienizada pelo fio dental.

Você facilita para as inflamações e perdas dentárias

Pular o uso do fio dental pode abrir espaço para a gengivite induzida pela presença do biofilme próximo ou nos espaços entre a gengiva e o dente (sulco gengival), a causa principal desse tipo de enfermidade.

Com a proliferação de bactérias no local o risco de ter inflamação aumenta.

A inflamação pode até não apresentar sintomas. No entanto, em geral, o sangramento logo aparece durante a escovação, o uso de fio dental e até mesmo ao comer alimentos mais duros.

Inchaço e alteração da cor da gengiva também são comuns.

A inflamação não tratada pode avançar para outras estruturas como o periodonto, ou seja, o osso e o ligamento que dão suporte aos dentes.

O resultado é a periodontite, que pode destruir essa estrutura, amolecer os dentes e, a longo prazo, pode levar à perda deles.

Aliás, a gengivite sempre antecede a periodontite.

Adicionar o fio dental à higienização com a escova de dentes reduz em 50% as inflamações entre os dentes. Dados publicados pela revista especializada Clinical Oral Investigation.

Dupla dinâmica

Imagem: iStock

A regra de ouro da higiene bucal é, sim, escovar os dentes —pelo menos 2 vezes ao dia— e por 2 minutos a cada vez.

No entanto, nem mesmo a melhor das escovas será capaz de fazer, sozinha, uma faxina completa.

A razão para isso é que os dentes possuem 5 lados e as cerdas não conseguem penetrar nos espaços (interproximais) entre eles, deixando para trás restos de alimentos e o biofilme, que pode se instalar e endurecer [calcificar] formando o tártaro.

Nessa altura, somente uma limpeza profissional poderá solucionar o caso.

Para prevenir tais ocorrências, conte com a ajuda da dupla escova e fio dental.

Toda boca é única

A depender das características de cada um, as medidas de higiene poderão ser mais ou menos intensas, assim como as visitas ao dentista também podem acontecer com maior ou menor frequência.

Converse com seu dentista para saber quais seriam as melhores estratégias para garantir as melhores práticas preventivas para você.

Pessoas com doenças como hipertensão, diabetes, doenças do coração, entre outras, precisam redobrar os cuidados bucais porque enfermidades da boca podem agravar problemas sistêmicos e até sinalizar a presença deles.

Mudanças hormonais femininas promovidas pelo ciclo menstrual, gravidez, uso de anticoncepcionais e menopausa também influenciam a saúde bucal. O resultado podem ser gengivas mais sensíveis, inchaço e sangramento, além de boca seca.

Para prevenir-se, fique atento à higiene local em todas as etapas da vida.

Fio ou fita, eis a questão

Para quem acha que usar fio de cabelo, palito, papel e até a unha pode ser eficaz na hora da higiene, a American Dental Association adverte: estas não são as melhores ferramentas para a higiene dos dentes e ainda podem causar algum tipo de dano, já que 40% desses "usuários" relataram ter dores com esse tipo de prática.

Escovas interdentais ou interproximais são consideradas aliadas da boa higiene, principalmente para quem tem perda óssea decorrente da periodontite.

Para a população em geral, elas não substituem o fio dental. Isso porque não alcançam os espaços onde os dentes se tocam e nem todos se adaptam; além disso, nem sempre são acessíveis para a maioria.

O fio ou a fita dental continua sendo a melhor opção e a escolha entre um e outro fica a seu critério, a depender dos maiores ou menores conforto e habilidade na hora da limpeza.

Outra possibilidade são as forquilhas, hastes que contêm um fio estirado —que são úteis, mas podem dificultar o trabalho completo de limpeza porque não permitem a mobilização/vibração do fio. Apesar disso, melhor o uso delas que nenhuma higienização.

Já os jatos de água não são considerados capazes de fazer o trabalho completo. Eles promovem a retirada de restos de alimentos, especialmente na presença de dificuldades motoras que impeçam o uso de outras ferramentas. Além disso, eles nem sempre removem todo o biofilme. Porém, melhor o uso de jatos do que nada.

Todo santo dia, mas a que hora?

Quanto ao melhor momento de fazer o uso do fio dental, nossos consultores concordam que isso deve acontecer junto com a escovação, que desorganiza a formação do biofilme.

Alguns especialistas sugerem que o fio dental seja usado antes da escovação, pois a placa e os restos dos alimentos ficam espalhados pela boca, e a escova e o bochecho completam o serviço.

Outros entendem que o fio dental pode entrar antes ou depois das escovações diárias com creme dental com flúor, mas é sempre necessário o enxague com água para garantir a remoção desses resíduos. Na dúvida, converse com o seu dentista.

O que ninguém discorda é que o ideal seria usar o fio dental 2 vezes ao dia (após o almoço e antes de dormir) porque se ele não for bem utilizado na primeira vez, ainda haverá outra oportunidade para completar a limpeza.

Caso isso não seja possível, antes de dormir é o melhor momento para caprichar na higienização.

O fator enxaguante

Será que o uso de enxaguantes com ação antimicrobiana poderia levar a sua higiene bucal à excelência? Veja o que dizem os especialistas:

Enxaguantes não compensam higiene mal feita; os seus efeitos só acontecem se o dente estiver limpo, ou seja, usar o produto em cima de camadas de sujeira não funciona.

Não há necessidade de uso diário/constante, mas isso dependerá das condições de saúde bucal de cada um: pessoas com alto risco de cárie ou com inflamação gengival muito aguda podem ser beneficiadas. Mas aqui vale conversar com seu dentista para ter as melhores orientações no seu caso.

Dicas de prevenção

Para ficar longe das lesões de cárie e doenças bucais é preciso evitar seus principais fatores desencadeantes, que são o consumo de açúcar adicionado (principalmente o branco) e o biofilme. Para alcançar esse objetivo, coloque em prática as seguintes medidas:

Visite seu dentista regularmente, mesmo que não apresente sintomas. Esse acompanhamento é essencial para o controle dos hábitos de higiene oral e manutenção da saúde da boca. O ideal seria fazer isso a cada 6 meses.

Peça ao seu dentista uma orientação personalizada sobre como fazer a limpeza bucal, inclusive para os bebês. A repetição de erros básicos pode abrir caminho para a contaminação.

Prefira escovas convencionais macias, e use fio ou fita dental diariamente.

Redobre o cuidado com a higiene caso sua gengiva sangre. Gengiva saudável não sangra.

Alimente-se corretamente. Uma dieta rica em vegetais, frutas e gorduras saudáveis (presentes em oleaginosas, peixes ricos em ômega 3, azeite de oliva e abacate, por exemplo), contribui para manter o organismo protegido. Controle o consumo de alimentos ácidos (sólidos ou líquidos).

Fontes: Carla Andreotti Damante, professora associada da disciplina de periodontia da FOB (Faculdade de Odontologia de Bauru) da USP e coordenadora do curso de odontologia da mesma instituição; Eduardo Karam Saltori, professor do curso de odontologia da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Marcelo Cavenague, presidente da Câmara Técnica de Periodontia do CRO-SP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo). Revisores técnicos: Carla Andreotti Damante e Marcelo Cavenague.

Referências: Ministério da Saúde, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Ministério da Economia: Pesquisa Nacional de Saúde 2029 - Percepção do Estado de Saúde, Estilos de Vida, Doenças Crônicas e Saúde Bucal; OMS (Organização Mundial da Saúde); ADA (American Dental Association).

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