O que acontece quando adolescentes deixam de usar seus celulares?
Com a popularização de dispositivos como celulares e tablets e a multiplicação de canais de vídeos, jogos e aplicativos educacionais, crianças e adolescentes têm passado cada vez mais tempo em frente às telas. Nesses momentos, é comum adotarem posturas inadequadas, que podem causar, entre outros problemas, dores na coluna vertebral.
Além disso, problemas de alimentação (que podem levar ao sedentarismo e obesidade), psicológicos e comportamentais, ou uma combinação destes, estão associados ao uso do celular por adolescentes.
Claro que o celular não é o único responsável, mas ele colabora para agravar problemas como depressão e bullying, por exemplo. "As pessoas acabam comparando a vida delas com a dos outros, o que pode causar frustração, inveja, tristeza e outros sentimentos negativos", afirma Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em neurociência cognitiva pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Como dar um tempo no celular?
O objetivo pode não ser deixar totalmente a tecnologia de lado, e sim tornar a relação com o smartphone mais saudável. O intuito é usar apenas as coisas boas do aparelho e fazer o adolescente ganhar mais tempo para fazer o que realmente importa: viver a vida offline.
Uma semana sem uso pode ajudá-lo a avaliar sua relação com o smartphone e saber onde se consegue chegar sem ele. Mas, para isso, é preciso que sejam traçadas metas bem direcionadas e ele pode começar reduzindo de quatro para duas horas o tempo que passava até então nas redes sociais. Para atingir essa meta, vale desinstalar Facebook, Instagram e, se possível, WhatsApp.
Benefícios da redução do uso tecnológico
Passar 24 horas sem tecnologia pode ser surpreendentemente relaxante (após conseguir controlar o nervosismo inicial), mas mesmo ser capaz de deixar o telefone de lado durante o almoço é um passo na direção certa. Além disso, antes de alguém se entregar de imediato à ansiedade de pegar o celular, deve tentar observar qual a sensação que isso faz disparar no cérebro e no corpo.
Se fizer uma autoanálise, chegará à conclusão de que é capaz de decidir sobre suas próprias escolhas. Não precisamos estar à mercê de algoritmos que estão promovendo o medo de estarmos perdendo algo. Jack Kornfield, professor de budismo do Centro de Meditação Spirit Rock, na Califórnia (EUA)
Quase três quartos dos adolescentes americanos dizem que se sentem mais felizes ou tranquilos quando não estão com seus telefones, de acordo com um novo relatório da instituição de pesquisa Pew Research Center, publicado em março de 2024.
Diminuir o tempo em frente às telas também pode ajudar adolescentes a prestarem mais atenção ao que estão comendo e à forma como comem; a se exercitarem e lerem mais; a irem para a cama cedo e dormir melhor; a melhorarem sua sociabilidade, ou seja, a capacidade de se portar em sociedade, que é uma das principais.
Reduzir o tempo de tela para crianças e adolescentes é, antes de tudo, um imperativo de saúde pública. Mas também pode ser uma necessidade econômica: garantir gerações futuras mais focadas —e produtivas.
É evidente que essa espécie de "sequestro do foco", um verdadeiro arrastão promovido pelas tecnologias digitais, não se resume à chamada geração Z, dos nascidos no final dos anos 1990. Quem não se sente ansioso hoje em dia? Aliás, se você avançou até aqui neste texto, sinta-se parte de um clube bastante seleto.
*Com informações de reportagens publicadas em 23/03/2023, 18/02/2019, 13/12/2023, 12/03/2024 e texto de coluna do UOL de 04/06/2024
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