Coletivo, traumático: conheça os sete tipos de luto e como elaborar a perda

O luto provoca sentimentos complexos, como tristeza profunda, dor, raiva, negação, culpa e sensação de vazio, após a perda de algo ou alguém significativo em nossas vidas. Embora esteja associado à morte, todos experimentarão diferentes tipos de luto ao longo dos anos.

De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, a intensidade da dor e a forma como cada um vivenciará essa perda é bastante individual e deve sempre ser respeitada.

"É preciso lembrar que o luto é sempre singular. Portanto, é necessário muito cuidado ao comparar os lutos ou definir normas. Isso porque a forma como o sujeito irá lidar com a perda tem a ver com seus recursos simbólicos e sua trajetória de vida", explica Mônica Venâncio, psicóloga, psicanalista e coordenadora do ambulatório do Luto do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

De acordo com ela, geralmente, com o tempo e a ajuda especializada, a pessoa poderá ressignificar a perda e retomar seu interesse para as atividades de que antes gostava. Mas, para isso, é preciso viver cada luto, respeitando o seu próprio tempo.

Diferentes tipos de luto

Você sabia que existem diferentes tipos de lutos? A seguir, veja detalhes de cada um e como acolher os enlutados.

Luto agudo (ou natural)

Ocorre logo após a perda de um ente querido e é o tipo de luto mais conhecido. Provoca diversas emoções e reações, como a tristeza profunda, choro, choque inicial, saudade e confusão.

Além da dor emocional intensa, a pessoa pode ter sintomas físicos, como dificuldade para dormir, perda de apetite e fadiga. Também é comum a falta de concentração, isolamento social ou não querer ficar sozinho.

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Esse luto é considerado uma fase normal e até esperada que pode durar semanas ou meses. A tendência é que os sintomas amenizem com o tempo, mas a intensidade dos sentimentos varia muito de acordo com a conexão com a pessoa falecida e quais recursos o enlutado teve para lidar com a perda.

Luto antecipado (antecipatório)

Acontece quando a pessoa recebe a notícia de uma doença grave que não tem cura ou em situações em que a morte é iminente. Geralmente, também afeta os familiares e os indivíduos vão lidando com a perda gradualmente.

Nesse momento, podem iniciar conversas sobre a morte e surgirem sentimentos de angústia, tristeza e sensação de impotência.

"É um luto que tem início após o diagnóstico de uma doença potencialmente fatal. Os sentimentos de luto antecedem a morte. No entanto, possibilita uma regulação entre as relações durante o processo. As pessoas conseguem se despedir, conversar, organizar as finanças, por exemplo. Portanto, o processo pós-morte tende a ser menos sofrido porque foi elaborado", afirma Luiz Antônio Manzochi, psicólogo clínico, especialista em morte e luto do Hospital Sírio-Libanês.

Luto coletivo

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Trata-se de um luto compartilhado por um grupo de pessoas que vivenciaram uma perda ou evento traumático que afeta a comunidade inteira. A dor da perda e sentimentos de tristeza e indignação são vivenciados de forma coletiva e pode unir os indivíduos.

O luto coletivo ocorre durante desastres naturais, guerras, pandemias ou acidentes de grande proporção.

Luto não autorizado (ou não reconhecido)

É o tipo de luto que não é reconhecido pela sociedade, ou seja, os sentimentos de perda e dor não são legitimados. Dessa forma, a pessoa se sente com vergonha ou com vontade de se isolar, já que não se sente acolhida.

Nesses casos, a falta de validação prolonga o processo de luto e dificulta a sua resolução. Pode ocorrer após a perda de um animal de estimação, aborto espontâneo ou relacionamento não oficializado.

Luto complicado (ou prolongado)

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Quando a pessoa enlutada não consegue avançar no processo de luto de maneira saudável e adaptativa, ela se enquadra no luto complicado. Surgem sintomas intensos de tristeza, saudade e dor que persistem por meses ou anos e interferem na vida da pessoa.

É comum que o indivíduo não consiga aceitar a perda, evite locais para não ter lembranças do ente querido que faleceu ou se recuse a falar sobre o assunto. Além disso, sentem dificuldade de se concentrar e tomar decisões.

Nesses casos, há um aumento do risco de desenvolver ansiedade, depressão e uso de substâncias, como álcool. Geralmente, o enlutado precisa de ajuda especializada para lidar com a perda.

Luto traumático

É a forma de luto que acontece após a perda de um ente querido de forma súbita, violenta ou inesperada. Isso dificulta que a experiência seja processada e pode ser traumática.

Em algumas situações, o enlutado vive constantemente em alerta, sem esperança e com uma tristeza profunda.

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Geralmente, ocorre após acidentes fatais, homicídios, suicídios, perdas em desastres naturais, como enchentes, terremotos e tsunamis.

Luto inibido (ou reprimido)

É o luto em que a pessoa não expressa seus sentimentos e evita lidar com a dor da perda. Geralmente, suprime as emoções e tenta continuar a vida como se nada tivesse acontecido.

O indivíduo não apresenta emoções, não chora ou se mostra indiferente. Além disso, evita falar da pessoa falecida ou da situação de perda e também luta contra as lembranças que possam desencadear sentimentos de luto.

É comum que a pessoa se mantenha ocupada o tempo inteiro, com o trabalho, hobbies ou atividades domésticas para não ter tempo de pensar na perda.

Riscos de não elaborar a perda

O luto não resolvido provoca diversos impactos negativos para a saúde mental e física. Pode causar:

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  • Depressão
  • Ansiedade
  • Transtorno de estresse pós-traumático
  • Dificuldade em formar novos relacionamentos
  • Sentimentos persistentes de culpa ou raiva
  • Problemas de sono e apetite
  • Imunidade enfraquecida
  • Dores corporais inexplicáveis
  • Aumento do risco de condições crônicas, como doenças cardíacas

Superar uma perda significativa envolve várias estratégias, como expressar e aceitar os sentimentos de perda.

É importante continuar cuidando de si mesmo e manter uma rotina saudável. Vale a pena participar de rituais ou criar memórias que honrem a pessoa perdida. É fundamental reconhecer que é normal sentir uma gama de emoções e permitir-se vivenciá-las. Thaís Martins, psicóloga hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein

Como oferecer apoio aos enlutados

Ajudar uma pessoa enlutada é uma tarefa complexa, pois envolve empatia e compreensão de sentimentos diversos. O primeiro passo é oferecer apoio e escutar ativamente.

Outras formas de tornar esse momento mais leve e menos desafiador:

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Reconhecer a dor alheia e não minimizar a perda.

Ajudar nas tarefas do dia a dia, como cozinhar ou fazer compras.

Respeitar o ritmo e o tempo do enlutado. É fundamental não pressionar a pessoa para superar a perda rapidamente.

Escutar o que a pessoa deseja fazer: ficar sozinha ou ter companhia.

Incentivar o autocuidado. De forma gentil, confira se o enlutado está conseguindo realizar hábitos de higiene, como tomar banho ou escovar os dentes.

Reforce a importância do apoio profissional.

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Mantenha sempre contato e mostre que se importa.

Evite julgamentos e frases clichês, como "ele está em um lugar melhor agora" ou "foi melhor assim".

Não compare a dor de uma pessoa com a outra.

Quando procurar ajuda especializada

Geralmente, procurar ajuda especializada é indicado quando os sintomas de tristeza intensa ou raiva persistem e não diminuem com o passar do tempo. Além disso, o enlutado pode ter dificuldade em retomar a vida diária e as responsabilidades. Também é importante avaliar se a pessoa se afastou dos amigos e familiares e não quer contato social.

Outro indício é quando ela começa a ter comportamentos autodestrutivos, como abusar de álcool e drogas, colocar-se em situações de perigo, praticar a automutilação ou pensar em suicídio.

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Vale ressaltar que é preciso reconhecer a diferença entre luto e depressão. "Profissionais especializados podem diferenciar a ajuda necessária em cada situação. Quando os sintomas persistem e se intensificam, podemos estar diante de um quadro que precisa de um cuidado maior. No entanto, o luto não é um processo linear e o sofrimento humano não pode ser lido sempre como uma patologia. O enlutado precisa ser acolhido e receber apoio psicológico", complementa Venâncio.

Atualmente, existem profissionais especialistas em luto que ajudam os indivíduos a lidarem melhor com a perda. A terapia do luto visa dar acolhimento e fazer com que o enlutado expresse seus sentimentos, aceite e se adapte a essa nova realidade.

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