Chuva pode afetar a nossa saúde, mas não do jeito que você está pensando
Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem
19/06/2024 04h05
Fenômeno natural essencial para a vida na Terra (para a manutenção de fontes de água doce, regulação do clima, boa umidade do ar, irrigação da agricultura, produção de energia e alimentos), a chuva, por outro lado, pode causar problemas de saúde quando excessiva, contaminada ou mal utilizada.
A seguir, VivaBem mostra como a chuva pode nos afetar, quais são os principais equívocos e riscos associados a ela e como podemos preveni-los ou mitigá-los.
Banho de chuva causa gripe?
Não e nem resfriado. Da mesma forma como ficar no frio, tomar sorvete, tomar vento e água gelada, banho de chuva também não provoca gripe ou resfriado.
Essas doenças são provocadas por vírus e seus sintomas são espirros, tosse, dor de garganta e nariz entupido ou escorrendo. Ainda assim, ao tomar chuva vale se secar depois e trocar de roupa.
Enfraquece o sistema imunológico?
Sim. Daí a recomendação de não se manter úmido por muito tempo após tomar chuva. O contato com a água, cuja temperatura é menor que a do corpo, causa choque térmico ou hipotermia, que reduz a resposta imune do corpo, facilitando a entrada de agentes nocivos, causadores de infecções, sobretudo respiratórias.
Consumida pura, a água da chuva causa dor de barriga?
Sim, há esse risco. Em seu estado original, a água da chuva não é potável, por haver risco de contaminação por microrganismos e poluentes da atmosfera.
Para ser bebido ou utilizado para cozinhar, o líquido deve ser captado de cisternas, filtrado (em filtro de cozinha, por exemplo) e fervido por cerca de cinco minutos.
Pode ser usada para limpar o corpo?
Não é indicada, principalmente sem sabão. Apesar de ser uma experiência divertida, sobretudo na infância, a água da chuva pode ter impurezas, principalmente quando escoada de telhados e calhas, por onde passam ratos, pássaros, gatos, pode causar doenças infecciosas e fúngicas em pele e mucosas.
Nas grandes cidades é mais prejudicial?
Sim, devido aos altos níveis de materiais contaminantes, tóxicos e poluentes. A chamada chuva ácida, resultante da queima de combustíveis fósseis em indústrias e automóveis, pode contaminar o solo, os lençóis freáticos e animais, além de causar cânceres, ulcerações e doenças respiratórias e cardiovasculares.
Ajuda a limpar ruas e eliminar doenças?
Não. Pelo contrário. Durante períodos de chuvas intensas e enchentes, o risco de se contrair leptospirose (doença causada por uma bactéria presente na urina infectada de animais, principalmente roedores) é maior. Por isso, evite ao máximo entrar em áreas alagadas, sujas e barrentas, sobretudo com machucados na pele.
Na praia os riscos de contaminação pela chuva são menores?
Não. Chuva na praia é sinal de perigo iminente. Por isso, se o céu escurecer saia depressa desse ambiente aberto. Com o corpo molhado, a chance de conduzir eletricidade também aumenta e, a depender da proximidade com o local da queda de um raio, o choque pode ser fatal, mesmo sem ser atingido.
Chuva represada favorece epidemias?
Sim. Empoçada, por exemplo, em pneus, pratos de vasos, garrafas plásticas, ela pode contribuir para a multiplicação dos mosquitos Aedes aegypti, vetores da dengue e de outras doenças, como chikungunya, zika e febre amarela urbana. Por isso, a vistoria e descarte de possíveis criadouros pós-chuvas é fundamental.
Em excesso, diminui com agrotóxicos?
Não diminui e ainda potencializa seu uso. Verduras e legumes acabam recebendo mais pesticidas no seu cultivo para combater os danos que a alta umidade provoca, como doenças fúngicas e bacterianas. Esse excedente, então, pode causar efeitos agudos ou crônicos no organismo, como dor de cabeça, insônia, náuseas e até aborto.
Existem doenças típicas de chuva?
Sim. Para além das citadas, são comuns em épocas de chuva:
- bicho geográfico (as chuvas facilitam a disseminação das larvas do parasita no solo/areia, que ficam úmidos)
- viroses
- cólera
- febre tifoide
- hepatite A
A probabilidade é maior quando não há separação entre as redes de esgoto e pluvial e conscientização ambiental.
Fontes: Cícero Matsuyama, otorrinolaringologista do Hospital Cema, em São Paulo; Maria de Fátima Amorim, dermatologista na Afya Educação Médica; e Nanci Silva, infectologista do Hospital Aliança, Rede D'Or, em Salvador.