Alguns de nós têm DNA neandertal; veja as implicações no corpo e saúde
Colaboração para VivaBem*
20/06/2024 14h40
Os genes dos neandertais desempenham um papel importante em nosso metabolismo, fisionomia facial e sistema imunológico. Um estudo publicado em 20 de março na revista científica eLife, por exemplo, mostrou relação entre nós e eles.
Com base em dados genéticos do UK Biobank (um banco de dados biomédicos do Reino Unido), os pesquisadores identificaram mais de 235 mil variantes genéticas de possível origem neandertal ligadas a 47 características humanas. Um gene específico herdado, chamado ATF3, está relacionado à regeneração dos tecidos nervosos.
Nessa mesma linha de investigação, outro estudo publicado em 8 de maio na revista Communications Biology identificou 26 regiões no código genético humano relacionadas às características faciais dos neandertais, mais especificamente o formato do nariz.
Foi descoberto ainda que a genética neandertal em nosso genoma pode variar entre 1% e 4%, dependendo da origem —ela não está igualmente distribuída em todos os humanos modernos.
Complementar a este assunto, uma reportagem de VivaBem mostrou que um estudo publicado em 14 de dezembro de 2023 na revista Genome Biology and Evolution descobriu que o DNA dos neandertais pode ainda ter influenciado a tendência de algumas pessoas gostarem de acordar cedo.
Quem eram os neandertais
Os neandertais, uma espécie de hominídeos extinta há cerca de 40 mil anos, coexistiram com os humanos modernos na Europa e Ásia por, aproximadamente, 10 mil anos. Eram semelhantes a nós, mas tinham algumas diferenças notáveis:
Os neandertais tinham sobrancelhas mais proeminentes, faces salientes e costelas mais curtas, profundas e largas.
Suas órbitas oculares eram maiores, embora não esteja claro se sua visão diferia da nossa.
O tamanho do cérebro dos neandertais era aproximadamente igual ao dos humanos modernos, apesar de ser mais alongado.
A altura média dos neandertais masculinos era de pouco mais de 1,60 metro, enquanto as fêmeas tinham cerca de 1,50 metro.
Adaptados ao clima frio, tinham musculatura compacta e maciça, necessitando de até 4.480 calorias por dia para sobreviver.
Investigar essa herança é fundamental
O DNA neandertal fornece informações valiosas para compreendermos melhor nosso próprio corpo, o que nos torna humanos e nos permitiu chegar aos dias atuais. Em síntese, moldou aspectos importantes de nossa biologia e história evolutiva.
No caso da descoberta sobre o sono, por exemplo, ela pode colaborar com potenciais aplicações no desenvolvimento de intervenções voltadas para o bem-estar.
A presença do DNA do neandertal em populações humanas modernas fornece informações valiosas sobre a interação entre Homo sapiens e os neandertais durante a evolução humana. Ricardo Di Lazzaro, doutor em genética e cofundador da Genera, laboratório de exames de DNA e testes de ancestralidade
No Brasil, segundo levantamento da Genera, estima-se que cada brasileiro tenha uma média de 2,5% do DNA neandertal em seu genoma.
Alguns estudos ainda sugerem que os genes herdados dos neandertais podem estar associados a condições de saúde, como doenças autoimunes, distúrbios neuropsiquiátricos e risco cardiovascular aumentado, e também com características como tom de pele, cor do cabelo, altura, entre outras.
De acordo com Di Lazzaro, a presença desses genes não implica em risco significativo de problemas de saúde. "Em muitos casos, esses genes teriam desempenhado papéis adaptativos ao longo da evolução humana."
*Com informações de reportagem publicada em 09/01/2024