Planta no lugar do papel higiênico? É sustentável, mas não a melhor maneira
Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem
24/06/2024 04h05
Plectranthus barbatus, já ouviu falar nessa planta? Provavelmente sim, mas não com o seu nome científico. Ela é conhecida popularmente como boldo, muito usada no Brasil para fazer chá quando se está com problemas digestivos e que de uns tempos para cá vem sendo estudada como uma alternativa sustentável e mais econômica ao papel higiênico, tanto na África como nos EUA.
Será que essa tendência pega aqui também? A cirurgiã e coloproctologista Lêda Telesi Castro, especialista em hemorroidas e médica no Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto (SP), destaca que o boldo é pouco traumático, por possuir superfície mais aveludada, macia e não irritativa. Além disso, têm folhas com cheiro agradável e dimensões próximas a pedaços de papel higiênico tradicionais.
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"Mas é importante deixar claro que a melhor forma de higienizar a região ano-genital é sempre lavá-la com água corrente e sabão. Apenas assim garantimos a eliminação dos resíduos fecais e não causamos trauma à pele do local", esclarece a cirurgiã, complementando que usar plantas para se limpar pode oferecer riscos.
Riscos ao trocar papel por plantas
Sem nenhum cuidado de higiene e mínimo conhecimento sobre plantas, o uso de qualquer tipo de folha para se limpar intimamente pode causar vários problemas. Além de machucados (traumas), irritações (ardência, queimação), alergias (coceira, inchaço), infecções fúngicas e bacterianas, verminoses e desconfortos.
"Pode expor você a uma variedade de toxinas, bactérias, germes e alérgenos. Até mesmo à sujeira de animais que passaram por ali (resquícios de fezes, urina, sangue) e doenças transmitidas por vetores, como carrapatos e insetos", adverte Roberto Neves, dermatologista e professor da Afya Educação Médica de Fortaleza.
E mesmo plantas obtidas em áreas urbanas podem oferecer riscos, não apenas as coletadas na natureza. Se vieram de áreas públicas, podem ter sido expostas a poluentes, pesticidas ou outros produtos químicos prejudiciais. Como alternativa, você pode considerar cultivar suas próprias plantas em casa, sabendo ao certo o que está usando e quais cuidados tem tomado, mas ainda assim muita cautela.
Quais podem - ou não - serem usadas
A coloproctologista Lêda Telesi explica que se alguém estiver acampando e não houver papel higiênico disponível, existem algumas opções de folhas que podem ser usadas.
"Além do boldo, musgo e azedinha. Devemos considerar plantas com baixas toxicidade e alergenicidade e suavidade no contato direto com a pele. Mas mesmo folhas muito aveludadas também podem ser irritativas às vezes", ressalta.
Outras folhas que podem ser usadas e até possuem propriedades medicinais (antibacterianas, anti-inflamatórias, antimicrobianas, antissépticas), incluem: aroeira, confrei, barbatimão e goiabeira. Essa última, segundo estudos científicos brasileiros, in vitro até inibe o crescimento e combate o fungo da candidíase.
Agora, passe longe dessas plantas: "Caládio, também chamado de tinhorão ou coração-de-jesus, que possui oxalato de cálcio, causando irritação e inchaço em todo o corpo. Ou hera, que contém uma substância chamada urushiol, um óleo que causa reações alérgicas e até bolhas na região de contato", informa Fabiano de Abreu Agrela, biólogo membro da Royal Society of Biology, do Reino Unido.
"Urtiga também pode causar dermatites sérias. Nessa planta (em minúsculos pelos que se espalham pelo caule e pelas folhas) existem várias substâncias agressivas, como histamina, acetilcolina e ácido fórmico", lembra Eduardo Sandoval, proctologista e professor da Unifran (Universidade de Franca), no interior de SP.
Quer trocar o papel higiênico por plantas?
Primeiro consulte o médico que cuida de sua saúde íntima e depois siga algumas etapas. Certifique-se de que a planta é segura e adequada para esse uso e leve em conta a preservação do ambiente nativo. Em algumas áreas, pode ser ilegal fazer coletas sem permissão. Por isso, verifique leis e regulamentos locais antes de coletar plantas em áreas públicas.
"Para limpar as folhas antes do uso, é recomendado lavá-las com água. Mas, se tem água, não faz muito sentido, prefira ela para se higienizar, sem necessitar de plantas desconhecidas. Agora, se não for possível lavar as folhas, você pode tentar agitá-las suavemente para remover a sujeira solta antes de utilizá-las para a higiene pessoal. Mas sempre haverá riscos", informa a médica Lêda Telesi Castro.
Se sintomas se manifestarem após a utilização de folhas para se limpar, o jeito é se virar como pode. Com água e sabão neutro disponíveis, se lave o mais rápido possível. Se não passar, mantenha compressas frias locais e evite aplicar quaisquer cremes ou pomadas. Persistindo o desconforto, procure ajuda médica. Raramente é caso de emergência, exceto alergias com repercussão respiratória.