'Fiquei mal, só chorava': ela já tinha 2 e engravidou de quadrigêmeos

A bancária Simone de Moraes e o analista de TI Ricardo Zafalão já eram pais de Isabela e Murilo, com 3 anos e 11 meses à época, quando descobriram que ela estava grávida de quadrigêmeos.

A gestação natural de quadrigêmeos é extremamente rara —acredita-se que aconteça aproximadamente uma a cada 700 mil. O caso de Simone é ainda mais raro, porque eram dois embriões diferentes, sendo um não idêntico e outro que triplicou e gerou trigêmeos idênticos.

Ao saber da novidade, Simone ficou triste e só chorava porque não queria ter mais filhos, mas depois se acalmou e passou a ver a gestação como um presente de Deus. No último dia 6 de maio, a bancária de 39 anos deu à luz a três meninas e um menino: Rafaela, Lorena, Carolina e Gustavo, no Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo. Os bebês nasceram prematuros, mas estão bem. A seguir, ela conta a história da família:

"Em novembro de 2023, comecei a sentir fome e uma sonolência acima do normal, achei estranho e mandei uma mensagem para o meu marido. Ele sugeriu que eu fizesse um teste de gravidez de farmácia, estava sem coragem, mas acabei fazendo e deu positivo.

Fiquei mal, triste e só chorava, não queria ter outro filho.

Fui ao pronto-socorro para tentar descobrir de quantas semanas estava. Primeiro fiz os exames de sangue, o Beta HCG deu muito alto. Depois fiz um ultrassom transvaginal. O médico que fez o exame não me mostrou a tela e apenas perguntou se eu havia feito fertilização in vitro. Disse que não, havia engravidado de forma natural.

"Não ia dar conta de uma gestação de quadrigêmeos"

Um tempo depois ele me entregou o resultado, abri, vi que estava de 7 semanas, mas li feto 1, feto 2, feto 3 e feto 4. Fiquei meio perdida, sem entender e levei o exame para o ginecologista que estava de plantão.

O médico disse: 'Mulher, você tem quatro bebês dentro de você'. Ele explicou que eu tinha duas placentas, uma com trigêmeos univitelinos, isto é, idênticos; e na outra apenas um bebê —na época ainda não sabia o sexo deles.

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O médico me orientou a procurar um obstetra especializado em gestação de alto risco. Saí do hospital desnorteada, a primeira coisa que pensei foi que iria morrer, não ia dar conta de uma gestação de quadrigêmeos.

Simone tem 6 filhos no total
Simone tem 6 filhos no total Imagem: Natália Eidt/Arquivo pessoal

Chegando em casa contei a novidade ao meu marido, ele ficou nervoso, andando de um lado para o outro. Comecei a pesquisar várias coisas e fiquei ainda mais preocupada, com medo de os bebês nascerem prematuros ou terem alguma deficiência.

Eu e meu marido decidimos esperar eu completar 12 semanas para contar a novidade para as pessoas. Nesse período busquei mais informações, me preparei psicologicamente e procurei um médico. Fui a dois, mas não gostei. Comecei a seguir uma mãe de quadrigêmeos no Instagram, vi o obstetra que tinha feito o parto dela, marquei uma consulta e iniciei o pré-natal com ele.

Minha gestação foi melhor do que esperava, engordei 14 kg, não tive nenhuma intercorrência, só fiquei com a pressão um pouco baixa e muito cansada na reta final.

De 2 para 6 de uma vez: os 6 filhos de Simone
De 2 para 6 de uma vez: os 6 filhos de Simone Imagem: Arquivo pessoal
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Acredito que o repouso, a parceria e as conversas com o meu marido foram fundamentais para me manter tranquila. Ouvi algumas críticas e piadinhas, mas no geral recebi apoio e fui acolhida de uma forma bonita, pessoas que não me conheciam doaram roupinhas e pacotes de fraldas.

Na 27ª semana de gestação a barriga já estava muito pesada, estava no meu limite, mas consegui chegar até 34 semanas. No dia 6 de maio de 2024, os bebês nasceram de um parto cesárea.

A primeira a nascer foi a Rafaela, com 1.720 kg. Brinco que o Gustavo furou a fila e foi o segundo, chegou ao mundo com 1.685 kg. Na sequência veio a Lorena, que nasceu empelicada e com 1.775 kg; a Carolina foi a última, com 1.799 kg.

Lorena nasceu empelicada
Lorena nasceu empelicada Imagem: Natália Eidt/Arquivo pessoal

Os bebês nasceram bem, mas foram para a UTI neonatal devido à prematuridade. Gustavo e a Rafaela tiveram alta no dia 23 de maio. E no dia 28 de maio foi a vez de Carolina e Lorena.

Deus tem um propósito nas nossas vidas com a chegada dos quadrigêmeos, ele quer nos mostrar ou ensinar algo. Temos um desafio, mas tenho certeza de que se Deus deu, ele vai dar forças para a gente criar e cuidar."

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Por que a gestação de quadrigêmeos é rara?

Gestação natural de quadrigêmeos é extremamente rara, o que dificulta achar dados estatísticos. Acredita-se que aconteça aproximadamente uma a cada 700 mil.

Com o advento da reprodução humana, os números de gestações múltiplas aumentaram, mas a incidência de gestação quadrigemelar em pacientes que fizeram tratamento para engravidar seria de 0,04%.

A condição é rara, pois na situação mais comum, primeiro a mulher teria que engravidar de gêmeos não idênticos e depois dependeria de uma multiplicação desses embriões, formando mais um irmão idêntico cada um.

No caso específico da Simone foi diferente e ainda mais raro. Inicialmente, eram dois embriões diferentes, sendo um não idêntico e outro que triplicou e gerou trigêmeos idênticos, que por si só já é algo raro —estatisticamente próximo de uma a cada 10 mil gestações.

Como deve ser o pré-natal de uma gestação de quadrigêmeos?

As consultas do pré-natal devem ser mais frequentes e com reavaliações sempre que necessário. Quando possível é indicado fazer um acompanhamento multidisciplinar com nutricionista, fisioterapia, fortalecimento muscular, além de suplementação específica.

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Os ultrassons também devem ser realizados com mais frequência para acompanhar o risco aumentado de trabalho de parto prematuro por diminuição e dilatação precoce do colo uterino.

Há casos em que pode ser necessário antecipar a internação da gestante na maternidade para repouso absoluto, para inibir o trabalho de parto prematuro ou até mesmo para realizar o parto de emergência se for a melhor solução para o momento.?

Quais os riscos de uma gestação de quadrigêmeos para a gestante?

A distensão abdominal e da musculatura do útero é maior, o que pode gerar muito desconforto, dores e, eventualmente, dificuldade e/ou restrição respiratória.

Além disso, pode ocorrer maior ganho de peso e sobrecarga de musculatura causando dores pélvicas e lombares.

O consumo de minerais e vitaminas pelos bebês pode gerar um déficit se não houver um cuidado com a suplementação, especialmente com o ferro, demandado pelas crianças, aumentando o risco de anemia materna.

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Há riscos aumentados de complicações como pré-eclâmpsia.?

No parto existe um risco maior de sangramento e atonia uterina, o que pode colocar em risco a vida da mulher. Em casos extremos, pode ser necessária a retirada do útero.

Quais os riscos de uma gestação de quadrigêmeos para os bebês?

Risco aumentado de parto prematuro, baixo peso ao nascimento e restrição de crescimento.

No caso de bebês univitelinos, que compartilham a mesma placenta, existe o risco de um "roubar" mais nutrientes do outro, fazendo com que um se desenvolva de forma mais adiantada que o outro.

O bebê menor pode desenvolver anemia ou uma restrição mais grave chamada de síndrome de transfusão feto-fetal, condição que pode colocar em risco a vida da criança.

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Fonte: André Giannini Rodrigues, obstetra do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP).

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