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Dor de ouvido é causada por bactérias, má higiene e umidade; saiba tratar

Dor de ouvido pode ser perigosa Imagem: iStock

Colaboração para VivaBem, em São Paulo

27/06/2024 04h00

Ninguém merece ter dor de ouvido. E ela incomoda tanta gente que está em segundo lugar no ranking das situações que mais levam as pessoas ao pronto-socorro, perdendo apenas para a febre.

A literatura especializada no assunto mostra que até os três anos, oito em cada dez crianças terão um episódio de infecção no ouvido. A situação se repetirá seis ou mais vezes, para quatro em cada 10 delas, até a idade escolar. Entre os adultos, as previsões melhoram, mas o incômodo é frequente e acomete mais os homens do que as mulheres.

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Como a dor se manifesta

Trata-se, geralmente, de uma dor aguda que aparece de repente. A depender do tipo do problema, a intensidade varia de leve a intensa. A sensação pode aumentar se a região for tocada ou pressionada. O incômodo pode ainda ser acompanhado dos seguintes sinais:

  • Vermelhidão;
  • Inchaço (eventualmente pode se estender para o pavilhão auricular);
  • Secreção de pus de odor intenso pelo canal auditivo;
  • Coceira;
  • Sensação de ouvido tampado ou surdez;
  • Febre;
  • Dor de cabeça;
  • Agitação e irritação;
  • Tontura e vertigem;
  • Perda de apetite;
  • Dor forte irradiada para o pescoço;
  • Mal-estar geral.

Por que isso acontece?

As causas mais comuns da dor de ouvido são infecções por vírus, bactérias e fungos, ou exposição à água. Traumas, especialmente a manipulação incorreta da parte externa da orelha (com hastes flexíveis ou objetos), além da presença de cera endurecida ou ressecada, podem ser a causa da dor.

Tipos de infecções

Elas são chamadas de otites e classificadas como mostramos abaixo.

Otite externa aguda: afeta a parte mais externa da orelha, é mais frequente no verão devido ao calor, a umidade, e o excesso de exposição à água (piscina, praia etc.). Tais circunstâncias favorecem o crescimento de bactérias e fungos. A manipulação da região com os dedos, hastes flexíveis ou outros objetos como grampos, chaves ou tampas de caneta não só machucam a pele como favorecem a entrada de bactérias.

Otite média aguda: costuma aparecer mais durante o inverno e decorre de gripe, resfriado, rinite, sinusite, adenoidite e exposição a ambientes fechados. Ela afeta a parte média do ouvido (tímpano e a porção onde estão os ossículos) - e é mais comum em crianças.

Dor de ouvido reflexa: a região não apresenta problemas, mas a dor se manifesta em razão de outras situações como inflamação da garganta, alterações nos dentes ou na articulação temporomandibular (ATM), bem como tumores de cabeça e pescoço. Nesse último caso, porém, a dor não costuma ser o primeiro sintoma.

Quem precisa ficar atento?

No caso das otites médias, as crianças são as mais vulneráveis. A razão para isso é que a anatomia do ouvido e da tuba auditiva (canal que comunica ouvido e nariz), bem como o sistema de defesa (imunológico) dos pequenos leva mais tempo para amadurecer (dos dois aos cinco anos). Nessa fase, a amamentação tem um papel essencial, pois é ela que garante proteção ao bebê.

Ultrapassada a primeira infância, as infecções, sejam elas médias ou externas, podem acometer pessoas de todas as idades.

Quando é hora de procurar um médico

Para os especialistas, a dor de ouvido é sempre um sintoma preocupante e precisa ser avaliado o mais rápido possível, especialmente quando se repete três vezes ou mais ao ano, e mesmo após tratamento.

Como a região é próxima ao cérebro, as complicações podem ser sérias, sem falar na possibilidade de perda auditiva, déficit de aprendizagem e linguagem (nas crianças) e até o risco de a infecção tornar-se crônica, alastrando-se para o osso do ouvido.

Por outro lado, o desconforto vivenciado nessas inflamações ou infecções é sempre intenso, o que, por si, manifesta a urgência em buscar orientação de um otorrinolaringologista.

Como é feito o diagnóstico

Um exame físico que consiste em observar o ouvido por meio de um aparelho chamado otoscópio. Ele permite o exame da parte do ouvido que você não vê. A partir desses passos, já é possível definir o que está acontecendo.

Em alguns casos, pode ser necessário realizar outros exames audiológicos, além de testes sanguíneos e de imagem.

O que esperar do tratamento

Ele sempre é personalizado e dependerá de cada caso. Em geral, são prescritos analgésicos para reduzir a dor, antitérmicos, gotas otológicas, ceruminolíticos (para amolecer a cera), anti-inflamatórios e até antibióticos de uso local ou oral.

Por que tenho sempre dor de ouvido?

Quando as infecções se repetem, elas são definidas como otites de repetição. Pode ser que haja uma predisposição familiar (hereditária), o canal do ouvido pode ser muito estreito ou podem estar presentes doenças como rinite ou sinusite crônicas, refluxo laringofaríngeo (na região da garganta). Além disso, a adenoide pode estar aumentada (especialmente em crianças), ou ser o caso de baixa imunidade ou tabagismo.

Falta de vacinação ou vacinação desatualizada, assim como o hábito de colocar bebês e crianças para mamarem deitados, o clima frio, exposição à água, manipulação do ouvido, eczemas ou fragilidade da pele do conduto também podem estar relacionados.

E atenção: otites de repetição podem indicar que houve falha no tratamento, tanto por erro no uso do medicamento quanto da resistência das bactérias ao antibiótico usado.

O risco da automedicação

Resista à ideia de usar remédios por conta própria. A inflamação ou infecção do ouvido pode não responder ao tratamento e ainda piorar ou complicar o quadro. Os especialistas afirmam que a meningite, por exemplo, pode resultar de uma complicação da otite média aguda.

E nada de usar antibiótico sem orientação médica. Existe uma classe específica que é usada nesses casos. E quando ele é usado na dose e tempo errados, pode até piorar o sintoma, especialmente caso não se trate de uma infecção. A atitude leva à resistência bacteriana, o que significa que você precisará usar medicamentos mais fortes.

Vale a pena apostar em soluções caseiras?

As soluções caseiras raramente funcionam. A única exceção é a compressa quente e seca. Ela, de fato, alivia a dor. Para aplicá-la você deve aquecer um tecido. ou toalha com ferro de passar roupas, ou secador de cabelos e colocar sobre a orelha. Teste a temperatura antes de cobrir o local afetado para evitar queimaduras.

Evite usar álcool, óleo morno ou quente, leite materno, café e outras substâncias. As gotas para amolecer a cera (ceruminolíticos), sem indicação médica, também devem ser evitadas. Todos esses itens podem agravar a dor e a inflamação.

Como prevenir a dor de ouvido

A melhor coisa a fazer quando a dor de ouvido aparece é procurar ajuda médica o mais rápido possível, bem como seguir corretamente o tratamento indicado para evitar complicações. Você pode colaborar para reduzir as inflamações ou infecções, adotando algumas medidas.

Para diminuir o risco de otite externa:

  • Proteja o ouvido para evitar a entrada de água durante o banho, na piscina ou no mar;
  • Seque a orelha imediatamente após sair desses ambientes;
  • Aprenda a higienizar a região corretamente;
  • Use protetores auriculares durante a prática de esportes aquáticos e até mesmo no banho diário, se você é predisposto a esse tipo de dor;
  • Procure não usar objetos ou mesmo o dedo para manipular a região;
  • Reduza o tempo de uso de protetores auriculares, fones de ouvido ou tampões. O uso prolongado abafa o local e favorece o aparecimento de fungos e bactérias.

Para afastar a otite média:

  • Trate e controle, com ajuda profissional, as alergias respiratórias, como a rinite;
  • Trate e controle, com ajuda profissional, gripes, sinusites e resfriados;
  • Evite fumar;
  • Atente-se para que bebês e crianças não tomem mamadeira deitados ou deitem logo após a ingestão de líquidos.

Fontes: Jeanne Oiticica, otorrinolaringologista, otoneurologista e chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo); Luiz Fernando Lourençone, otorrinolaringologista, professor da USP; Mayra de Freitas Centelhas Martinelli, otorrinolaringologista

Referências:

- Recurrent otalgia in adults. Samuel Finnikin, Alistair Mitchell-Innes. BMJ 2016;354:i3917.
- Burden of Disease Caused by Otitis Media: Systematic Review and Global Estimates. Lorenzo Monasta, 1 , Luca Ronfani. PLoS One. 2012; 7(4): e36226.
- Update on otitis media - prevention and treatment. Ali Qureishi,1 Yan Lee, Infect Drug Resist. 2014; 7: 15-24.

*Com informações da matéria de março de 2019

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