Dor de ouvido é causada por bactérias, má higiene e umidade; saiba tratar

Ninguém merece ter dor de ouvido. E ela incomoda tanta gente que está em segundo lugar no ranking das situações que mais levam as pessoas ao pronto-socorro, perdendo apenas para a febre.

A literatura especializada no assunto mostra que até os três anos, oito em cada dez crianças terão um episódio de infecção no ouvido. A situação se repetirá seis ou mais vezes, para quatro em cada 10 delas, até a idade escolar. Entre os adultos, as previsões melhoram, mas o incômodo é frequente e acomete mais os homens do que as mulheres.

Como a dor se manifesta

Trata-se, geralmente, de uma dor aguda que aparece de repente. A depender do tipo do problema, a intensidade varia de leve a intensa. A sensação pode aumentar se a região for tocada ou pressionada. O incômodo pode ainda ser acompanhado dos seguintes sinais:

  • Vermelhidão;
  • Inchaço (eventualmente pode se estender para o pavilhão auricular);
  • Secreção de pus de odor intenso pelo canal auditivo;
  • Coceira;
  • Sensação de ouvido tampado ou surdez;
  • Febre;
  • Dor de cabeça;
  • Agitação e irritação;
  • Tontura e vertigem;
  • Perda de apetite;
  • Dor forte irradiada para o pescoço;
  • Mal-estar geral.

Por que isso acontece?

As causas mais comuns da dor de ouvido são infecções por vírus, bactérias e fungos, ou exposição à água. Traumas, especialmente a manipulação incorreta da parte externa da orelha (com hastes flexíveis ou objetos), além da presença de cera endurecida ou ressecada, podem ser a causa da dor.

Tipos de infecções

Elas são chamadas de otites e classificadas como mostramos abaixo.

Otite externa aguda: afeta a parte mais externa da orelha, é mais frequente no verão devido ao calor, a umidade, e o excesso de exposição à água (piscina, praia etc.). Tais circunstâncias favorecem o crescimento de bactérias e fungos. A manipulação da região com os dedos, hastes flexíveis ou outros objetos como grampos, chaves ou tampas de caneta não só machucam a pele como favorecem a entrada de bactérias.

Continua após a publicidade

Otite média aguda: costuma aparecer mais durante o inverno e decorre de gripe, resfriado, rinite, sinusite, adenoidite e exposição a ambientes fechados. Ela afeta a parte média do ouvido (tímpano e a porção onde estão os ossículos) - e é mais comum em crianças.

Dor de ouvido reflexa: a região não apresenta problemas, mas a dor se manifesta em razão de outras situações como inflamação da garganta, alterações nos dentes ou na articulação temporomandibular (ATM), bem como tumores de cabeça e pescoço. Nesse último caso, porém, a dor não costuma ser o primeiro sintoma.

Quem precisa ficar atento?

No caso das otites médias, as crianças são as mais vulneráveis. A razão para isso é que a anatomia do ouvido e da tuba auditiva (canal que comunica ouvido e nariz), bem como o sistema de defesa (imunológico) dos pequenos leva mais tempo para amadurecer (dos dois aos cinco anos). Nessa fase, a amamentação tem um papel essencial, pois é ela que garante proteção ao bebê.

Ultrapassada a primeira infância, as infecções, sejam elas médias ou externas, podem acometer pessoas de todas as idades.

Quando é hora de procurar um médico

Para os especialistas, a dor de ouvido é sempre um sintoma preocupante e precisa ser avaliado o mais rápido possível, especialmente quando se repete três vezes ou mais ao ano, e mesmo após tratamento.

Continua após a publicidade

Como a região é próxima ao cérebro, as complicações podem ser sérias, sem falar na possibilidade de perda auditiva, déficit de aprendizagem e linguagem (nas crianças) e até o risco de a infecção tornar-se crônica, alastrando-se para o osso do ouvido.

Por outro lado, o desconforto vivenciado nessas inflamações ou infecções é sempre intenso, o que, por si, manifesta a urgência em buscar orientação de um otorrinolaringologista.

Como é feito o diagnóstico

Um exame físico que consiste em observar o ouvido por meio de um aparelho chamado otoscópio. Ele permite o exame da parte do ouvido que você não vê. A partir desses passos, já é possível definir o que está acontecendo.

Em alguns casos, pode ser necessário realizar outros exames audiológicos, além de testes sanguíneos e de imagem.

O que esperar do tratamento

Ele sempre é personalizado e dependerá de cada caso. Em geral, são prescritos analgésicos para reduzir a dor, antitérmicos, gotas otológicas, ceruminolíticos (para amolecer a cera), anti-inflamatórios e até antibióticos de uso local ou oral.

Continua após a publicidade

Por que tenho sempre dor de ouvido?

Quando as infecções se repetem, elas são definidas como otites de repetição. Pode ser que haja uma predisposição familiar (hereditária), o canal do ouvido pode ser muito estreito ou podem estar presentes doenças como rinite ou sinusite crônicas, refluxo laringofaríngeo (na região da garganta). Além disso, a adenoide pode estar aumentada (especialmente em crianças), ou ser o caso de baixa imunidade ou tabagismo.

Falta de vacinação ou vacinação desatualizada, assim como o hábito de colocar bebês e crianças para mamarem deitados, o clima frio, exposição à água, manipulação do ouvido, eczemas ou fragilidade da pele do conduto também podem estar relacionados.

E atenção: otites de repetição podem indicar que houve falha no tratamento, tanto por erro no uso do medicamento quanto da resistência das bactérias ao antibiótico usado.

O risco da automedicação

Resista à ideia de usar remédios por conta própria. A inflamação ou infecção do ouvido pode não responder ao tratamento e ainda piorar ou complicar o quadro. Os especialistas afirmam que a meningite, por exemplo, pode resultar de uma complicação da otite média aguda.

Continua após a publicidade

E nada de usar antibiótico sem orientação médica. Existe uma classe específica que é usada nesses casos. E quando ele é usado na dose e tempo errados, pode até piorar o sintoma, especialmente caso não se trate de uma infecção. A atitude leva à resistência bacteriana, o que significa que você precisará usar medicamentos mais fortes.

Vale a pena apostar em soluções caseiras?

As soluções caseiras raramente funcionam. A única exceção é a compressa quente e seca. Ela, de fato, alivia a dor. Para aplicá-la você deve aquecer um tecido. ou toalha com ferro de passar roupas, ou secador de cabelos e colocar sobre a orelha. Teste a temperatura antes de cobrir o local afetado para evitar queimaduras.

Evite usar álcool, óleo morno ou quente, leite materno, café e outras substâncias. As gotas para amolecer a cera (ceruminolíticos), sem indicação médica, também devem ser evitadas. Todos esses itens podem agravar a dor e a inflamação.

Como prevenir a dor de ouvido

A melhor coisa a fazer quando a dor de ouvido aparece é procurar ajuda médica o mais rápido possível, bem como seguir corretamente o tratamento indicado para evitar complicações. Você pode colaborar para reduzir as inflamações ou infecções, adotando algumas medidas.

Continua após a publicidade

Para diminuir o risco de otite externa:

  • Proteja o ouvido para evitar a entrada de água durante o banho, na piscina ou no mar;
  • Seque a orelha imediatamente após sair desses ambientes;
  • Aprenda a higienizar a região corretamente;
  • Use protetores auriculares durante a prática de esportes aquáticos e até mesmo no banho diário, se você é predisposto a esse tipo de dor;
  • Procure não usar objetos ou mesmo o dedo para manipular a região;
  • Reduza o tempo de uso de protetores auriculares, fones de ouvido ou tampões. O uso prolongado abafa o local e favorece o aparecimento de fungos e bactérias.

Para afastar a otite média:

  • Trate e controle, com ajuda profissional, as alergias respiratórias, como a rinite;
  • Trate e controle, com ajuda profissional, gripes, sinusites e resfriados;
  • Evite fumar;
  • Atente-se para que bebês e crianças não tomem mamadeira deitados ou deitem logo após a ingestão de líquidos.

Fontes: Jeanne Oiticica, otorrinolaringologista, otoneurologista e chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo); Luiz Fernando Lourençone, otorrinolaringologista, professor da USP; Mayra de Freitas Centelhas Martinelli, otorrinolaringologista

Referências:

Continua após a publicidade

- Recurrent otalgia in adults. Samuel Finnikin, Alistair Mitchell-Innes. BMJ 2016;354:i3917.
- Burden of Disease Caused by Otitis Media: Systematic Review and Global Estimates. Lorenzo Monasta, 1 , Luca Ronfani. PLoS One. 2012; 7(4): e36226.
- Update on otitis media - prevention and treatment. Ali Qureishi,1 Yan Lee, Infect Drug Resist. 2014; 7: 15-24.

*Com informações da matéria de março de 2019

Deixe seu comentário

Só para assinantes