Garfo, hashi ou mãos? Modo de comer pode mudar sabor e até diminuir gases

A evolução física e cultural da espécie humana moldou suas preferências dietéticas, seu paladar e propiciou o desenvolvimento de uma variedade de técnicas tanto de preparo quanto de interação à mesa com os alimentos que consumimos. Comemos de diferentes maneiras, usando mãos, talheres, palitinhos e outros utensílios, refletindo nossa história e adaptação contínua.

"Todos esses modos de se alimentar devem ser respeitados, pois por trás deles ainda estão envolvidos diversos outros fatores, como regionalidade, clima, crença espiritual, influência familiar e social, disponibilidade alimentar, tipo de receita, ideias pessoais sobre saúde, sustentabilidade, renda", ressalta Melissa Rotatori, professora do curso de nutrição do UDF (Centro Universitário do Distrito Federal).

Rotatori acrescenta que um mesmo alimento pode ter seu sabor, sua textura e percepção modificados a depender de como é consumido. Não tem a ver apenas com o instrumento com o qual ele é levado à boca, mas também com os materiais que entram em contato com ele, temperatura, cor, e tudo isso oferece uma experiência única em termos de conexão alimentar.

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Com as mãos: mais prazer e descontração

Essa é uma abordagem mais íntima e sensorial de desfrutar a comida e faz parte da essência humana, refletindo inclusive simplicidade. Com essa prática, as terminações nervosas das mãos sentem a consistência e a temperatura da comida, o aroma é captado melhor. Estimulado, o cérebro libera uma maior quantidade de saliva e, depois, enzimas, garantindo uma digestão eficaz.

"Pesquisas sugerem que o uso das mãos aumenta a consciência sobre o que se come, pois se percebe sensorialmente melhor o alimento", informa Rodrigo Neves, médico pela Universidade de Ribeirão Preto (SP) e pós-graduado em nutrologia. "Por outro lado, essa maneira poderia levar a um consumo mais rápido e a um aumento na ingestão, pela facilidade e redução da inibição", diz.

De fato, comer com as mãos é mais informal, promove um compartilhamento maior de alimentos entre as pessoas e, pela facilidade em se pegar a comida e se sujar com ela, torna almoços e jantares mais divertidos e, especialmente para as crianças, mais lúdicos. Elas acabam estimulando a curiosidade e desenvolvendo uma relação mais saudável e de maior liberdade e com os alimentos em geral.

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Com talher: sabor diferente e maior controle

Utensílios de mesa, como garfo, faca, colher e mesmo copos e pratos, podem modificar o gosto de alimentos e bebidas. Os de prata, segundo Rotatori, estão entre os que mais influenciam, pois reagem mal com ácidos de frutas e enxofre de ovos, por exemplo, e fazem com que se perceba um forte sabor metálico. Ela diz que os mais neutros são os produzidos em aço inoxidável (inox).

Além disso, até o peso e o formato dos utensílios podem impactar o paladar de alguém. "Um estudo [publicado no periódico Flavour em 2013] constatou que o iogurte é percebido como mais denso e caro quando degustado com colher de plástico leve do que com colher de plástico pesada. Já o queijo foi classificado como mais salgado quando servido com faca do que com colher, garfo ou palito", diz Rotatori.

Para Patrícia Santiago, médica pela UEA (Universidade Estadual do Amazonas) e pós-graduada em nutrologia, o uso de talheres também é mais higiênico e resulta em um processo de ingestão mais regularizado e uma digestão positiva. "Eles nos fornecem uma maneira mais precisa e controlada de manipular os alimentos, permitindo fracioná-los mais facilmente e nos conter no tamanho das porções", diz.

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Com hashi: trabalha diversas habilidades

A utilização dos hashi (palitos de madeira, bambu ou plástico que substituem os talheres nas refeições orientais) pode ajudar a desenvolver e melhorar a coordenação motora fina, como um exercício que estimula o cérebro e a precisão dos movimentos. Fora que nos obriga a comer devagar e com mordidas menores, evitando engolir muito ar, que pode causar inchaço, gases e cólicas.

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A necessidade de paciência e concentração, ainda mais no início, quando não se tem muita prática, para pegar cada pedaço de comida, ainda permite que o sinal de saciedade chegue ao cérebro mais rapidamente, informa o médico Rodrigo Neves. Quando se come com pressa, sem uma devida apreciação, prejudica-se a transmissão desse sinal, o que pode levar ao consumo excessivo de calorias.

"Além disso, comer com palitos permite uma interação mais direta com os alimentos, semelhante ao comer com as mãos. Em termos de digestão, pode facilitar a quebra e a absorção de nutrientes de forma mais eficaz. Mas pode ser menos prático em algumas situações e até desafiador para alguns, que se não estiverem acostumados com a técnica, podem se frustrar", acrescenta Santiago.

Como comer de forma equilibrada

A lição que se extrai disso tudo: cada forma de se alimentar tem vantagens e desvantagens. Independentemente da escolha, o importante é sentir prazer no momento da refeição, que deve incluir opções saudáveis, equilibradas, naturais, minimamente processadas e ainda focada no presente. Aqui vão algumas dicas:

Coma em um ambiente tranquilo, sem distrações como TV, celular ou música.

Sente-se à mesa sempre que possível. Sofá e cama não são locais apropriados.

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Experimente cheirar e visualizar bem os alimentos antes de levá-los à boca.

Mastigue bem os alimentos até que estejam bem triturados. Nesse momento, evite conversar e ingerir líquidos, para não interferir na digestão e na saciedade.

Ao utilizar talheres, descanse-os sobre a mesa entre as garfadas e a mastigação.

Se tiver dificuldade em comer devagar, tente usar a mão não dominante. Por exemplo, se você for destro, use a mão esquerda ocasionalmente para comer.

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