Ultraprocessados são 60% das calorias em dieta nos EUA; no Brasil, são 20%
Os alimentos ultraprocessados estão aumentando sua participação e dominação nas dietas globais, apesar do risco que representam para a saúde, incluindo o de desenvolver múltiplas doenças crônicas. Em uma apresentação no Congresso Internacional sobre Obesidade deste ano, o professor Carlos Monteiro, da USP, destaca os perigos dos ultraprocessados e recomenda que eles sejam regulamentados de forma semelhante a que o tabaco tem sido com rótulos de advertência e restrições de publicidade.
Os alimentos ultraprocessados atualmente fornecem quase ou mais da metade das calorias em dietas em países desenvolvidos, como Canadá (47%), EUA (60%) e Reino Unido (57%). Em países de renda média também acontece, mas em proporções menores, porém crescentes: no Brasil, 20% das calorias.
"Os altos níveis de quase metade ou mais do total de calorias provenientes de alimentos ultraprocessados são vistos apenas nos EUA, Reino Unido, Canadá e Austrália. Uma explicação é a menor resiliência dos padrões alimentares tradicionais nesses países e o fato de que a indústria dos ultraprocessados nasceu principalmente nos EUA e depois se mudou para outros países anglo-saxônicos", explica o professor Monteiro.
Os níveis no Brasil são semelhantes aos da Colômbia e inferiores aos do Chile e do México, em torno de 35%. Mas o aumento está sendo visto em todos esses países. O conjunto desses alimentos está impulsionando a pandemia de obesidade e de outras doenças crônicas relacionadas à dieta como o diabetes.
A exposição a dietas ricas em ultraprocessados aumenta a gordura total, gordura saturada e açúcar adicionado, e diminui o consumo de fibras, proteínas e potássio.
Outros efeitos colaterais de uma dieta rica em ultraprocessados incluem menor consumo de fitoquímicos saudáveis que aumentam a saúde (como flavonoides) e um aumento do consumo de produtos químicos nocivos, como a acrilamida (criada durante o processamento) e aditivos tais como emulsionantes e adoçantes artificiais.
Em termos de risco de doença, as dietas com ultraprocessados demonstraram estar associadas a pelo menos 25 doenças crônicas, incluindo: obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemias, hiperuricemia, ataque cardíaco, doença cerebrovascular, doença de Crohn, úlcera péptica, doença renal crônica, doença obstrutiva pulmonar crônica, adenoma colorretal, câncer colorretal, câncer de mama, adenocarcinoma de esôfago, câncer de cabeça e pescoço, 'fragilidade na velhice', depressão, ansiedade e demência.
O professor Monteiro e colegas foram responsáveis pelo desenvolvimento da classificação alimentar Nova, um sistema de agrupamento de alimentos com base na extensão e finalidade do processamento de alimentos aplicado a eles, com uma classificação de 1 (menos processados) a 4 (ultraprocessados).
Semelhanças entre ultraprocessados e tabaco
O professor Monteiro fala também sobre as semelhanças entre ultraprocessados e tabaco:
ambos causam numerosas doenças graves e mortalidade prematura;
ambos são produzidos por empresas transnacionais que investem os enormes lucros que obtêm com seus produtos atraentes/viciantes em estratégias agressivas de marketing e em lobby contra a regulamentação.
Monteiro ainda propõe:
campanhas de saúde pública semelhantes àquelas contra o tabaco, que incluiriam os perigos para a saúde;
anúncios devem ser proibidos ou fortemente restritos, e avisos na frente da embalagem devem ser introduzidos semelhantes aos utilizados para o tabaco;
vendas de ultraprocessados em escolas e unidades de saúde devem ser proibidas, e deve haver uma pesada taxação com a receita gerada usada para subsidiar alimentos frescos.
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