Moda perigosa: peeling químico e mais tratamentos que podem virar pesadelo

A morte recente do empresário Henrique Silva Chagas, 27, depois de se submeter a um peeling de fenol no dia 3 de junho, em São Paulo, jogou luz sobre os procedimentos estéticos realizados sem o devido controle e por profissionais inabilitados.

Neste caso, o procedimento foi realizado na clínica estética de Natalia Fabiana de Freitas Antônio, influenciadora conhecida como Natalia Becker nas redes sociais. Ela não possui, segundo a polícia, formação acadêmica em nenhuma área de saúde ou de estética, o que levantou muitas questões sobre a facilidade de acesso a esses procedimentos e seus perigos.

Em decisão recente, a Anvisa publicou uma nova resolução proibindo a utilização de produtos à base de fenol em qualquer procedimento estético. A determinação foi anunciada como medida de precaução diante dos recentes eventos adversos envolvendo o uso da substância. A proibição permanecerá enquanto são realizadas avaliações mais aprofundadas sobre os riscos associados ao fenol.

Em uma busca por redes sociais como TikTok é possível encontrar milhares de vídeos com antes e depois de procedimentos estéticos não cirúrgicos. Alguns exemplos são o jato de plasma, o preenchimento de mento (queixo) e o peeling químico, que possui várias versões, dentre eles o de fenol.

Muitos desses procedimentos são realizados por esteticistas, profissional que precisa de formação acadêmica para atuar na área, seja graduação ou curso técnico.

Embora necessitem de formação para atuar no campo, ainda assim os médicos entrevistados para a reportagem acreditam que vários dos tratamentos estéticos não cirúrgicos não deveriam ser realizados por esses profissionais dado o quão invasivo são certos procedimentos e as complicações que eles podem trazer para o paciente.

Essa, aliás, é uma questão polêmica que divide opiniões dos diversos conselhos de classe da área de saúde. Atualmente, além de médicos dermatologistas e cirurgiões plásticos, também atuam com tratamentos estéticos dentistas, biomédicos, enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos.

Os conselhos dessas categorias argumentam que os procedimentos estéticos realizados por eles, inclusive pelos esteticistas, não são invasivos. Ou seja, não adentram o corpo humano através dos orifícios naturais do corpo (cavidades orbicular, nasal, oral, auricular, vaginal ou anal) nem atingem órgãos internos.

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"A pele, apesar de ser o maior órgão do corpo humano, é um órgão externo. Portanto, segundo a lei 13.643 (que regulamenta a profissão de esteticista e técnico em estética), todos os procedimentos com finalidades estéticas, na pele, podem ser executados pelos esteticistas, exceto os cirúrgicos, por serem de exclusividade da medicina", diz Frederico Carvalho, assessor jurídico da Anesco (Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos).

Já a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) argumenta que muitos desses procedimentos atingem camadas mais internas da pele e podem até mesmo entrar em contato com a corrente sanguínea (como é o caso do peeling de fenol) e por isso são considerados invasivos.

"Para os especialistas, tão importante quanto realizar qualquer procedimento, seja estético ou não, é saber solucionar as possíveis complicações. Do contrário, não seria ético se propor a realizá-lo", acredita Elen Sodré, otorrinolaringologista, especialista em rinoplastia e cirurgia plástica da face e membro, titular da Academia Brasileira de Cirurgia Plástica da Face e membro do corpo clínico da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Independente do profissional habilitado pela lei a realizar o procedimento estético, os materiais usados devem ter origem regular junto à Anvisa. "A não observância dessa regra pode levar a infecções, cicatrizes, queimaduras, deformidades e até morte", alerta Felipe Ribeiro da Silva, dermatologista e coordenador científico e educacional da IPS (International Peeling Society).

VivaBem fez um levantamento dos procedimentos que mais estão bombando nas redes sociais e quais os cuidados e profissionais estão habilitados a realizá-los.

1. Jato de plasma

A mineira Ana Azevedo, então com 39 anos na época, teve reação ao jato de plasma quando realizou o procedimento em 2022
A mineira Ana Azevedo, então com 39 anos na época, teve reação ao jato de plasma quando realizou o procedimento em 2022 Imagem: Reprodução/Instagram @aninhacarolazevedo
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O que é: o jato de plasma realiza pequenas queimaduras na pele para estimular a produção de colágeno e elastina, proteínas responsáveis pela sustentação e elasticidade da pele, nos tratamentos de flacidez, estrias e na melhora do aspecto de cicatrizes.

Cuidados: Evitar exposição solar antes do procedimento; não usar cremes ou tratamentos que possam sensibilizar a pele; informar ao profissional sobre alergias, condições de pele (como se tem tendência a queloide, por exemplo) e se possui problemas oculares.

Contraindicação: Pessoas de pele negra devem evitar este tratamento pelo risco de diferença de cor entre a área tratada e não tratada. Além disso, pessoas com pele muito escura correm o risco de hiperpigmentação, cicatrizes hipertróficas ou queloides. Também não é indicado para quem faz uso de marcapasso.

Riscos: Queimaduras, cicatrizes inestéticas, infecções bacterianas no local do procedimento e mancha.

Profissional habilitado*: Dermatologista, oftalmologista com atuação em plástica ocular, cirurgião plástico, biomédico, farmacêutico, fisioterapeuta e esteticista.

2. Lipo de papada

O que é: O nome causa bastante confusão, já que remete a uma lipoaspiração da gordura presente na papada, técnica que deve ser realizada por cirurgião plástico ou dermatologista. Dentistas também estão autorizados a realizar o procedimento.

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"Na minha opinião quem deveria fazer esse tipo de procedimento é quem tem experiência cirúrgica", acredita Wendell Uguetto, cirurgião plástico da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e do Hospital Albert Einstein (SP).

Já a técnica que costuma aparecer muito nas redes sociais chamada de "lipo de papada" não faz aspiração de gordura. Ela consiste na aplicação subcutânea de princípios ativos lipolíticos que promovem a degradação da gordura internamente.

Cuidados: No caso de uma lipoaspiração tradicional, por sucção, o paciente deve realizar exames de sangue antes do procedimento e ultrassom para avaliar a região. Também deve manter uma dieta equilibrada, parar o uso de anticoagulantes e anti-inflamatórios e evitar fumo e álcool.

Contraindicação: Não é recomendado para pessoas com problemas de coagulação ou doenças autoimunes.

Riscos: Os riscos maiores estão no procedimento tradicional e vão desde uma reação de corpo estranho a infecção bacteriana ou por micobactérias, cicatrizes inestéticas, deformidades, ruptura de vasos sanguíneos e morte. Já no injetável, alguns profissionais podem utilizar preenchedores com viscosidade inadequada, por exemplo, e causar grânulos ou edemas.

Profissional habilitado*: Dermatologista, cirurgião plástico e dentista (procedimento tradicional) e esteticista, farmacêutico, enfermeiro e biomédico (procedimento por injeção de ácido).

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3. Laser Lavieen

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Imagem: iStock

O que é: Trata-se de um laser não ablativo, que estimula a regeneração celular e promoção de colágeno e remove hiperpigmentações na pele.

Cuidados: Não se expor ao sol por 30 dias antes do procedimento; informar sobre o seu histórico de saúde e os remédios que faz uso e se tem alergias; suspender tratamentos tópicos irritantes e consultar sobre medicamentos fotossensibilizantes.

Contraindicação: grávidas e pessoas com doenças de pele ativa.

Riscos: Queimaduras, cicatrizes inestéticas e manchas.

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Profissional habilitado*: Dermatologista, cirurgião plástico, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, biomédico e esteticista.

4. Preenchimento de mento (queixo)

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

O que é: Este é um procedimento usado para harmonização facial a partir do aumento do queixo. Ele deve ser feito com ácido hialurônico e realizado por profissional apto às técnicas de preenchimento.

Cuidados: Não ingerir álcool antes do procedimento; evitar medicamentos anticoagulantes; informar sobre o seu histórico de saúde e os remédios que faz uso e se é portador de alergias, inclusive de anestésicos.

Contraindicação: Não indicado para pessoas com doenças autoimunes ou infecções na área.

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Riscos: Reação de corpo estranho; deformidades; infecção bacteriana ou por micobactérias; oclusão (entupimento) de vasos sanguíneos levando a necrose (morte da área).

Profissional habilitado*: Dermatologista, cirurgião plástico, enfermeiro, dentista, biomédico, farmacêutico e esteticista.

5. Peeling químico

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Imagem: Thinkstock

O que é: Nas redes sociais, eles são os que mais bombam e recebem vários nomes comerciais, como peeling 3D e Reset Peel 1D. Os peelings químicos consistem na aplicação de agentes que destroem as camadas superficiais da pele, seguindo-se, então, da sua regeneração. É uma forma de esfoliar e acelerar a renovação da pele.

Pode ser superficial, médio e profundo. Os agentes mais comuns são o fenol —agora proibido (o mais profundo de todos)—, ácido tricloroacético, ácido glicólico e ácido salicílico.

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Após um peeling químico superficial a pele se refaz em 1 a 4 dias; já os peelings médios e profundos constituem uma ferida cuja cicatrização inicia-se em 24 horas e se completa dentro de 7 a 15 dias.

Cuidados: Se for peeling profundo, são necessários exames de eletrocardiograma e exames de sangue. Além disso, não se exponha ao sol por 30 dias antes do procedimento; informe histórico de saúde, os remédios que faz uso e se é portador de alergias; suspenda o uso de ácidos e retinoides; hidrate bem bem a pele; seguir as orientações quanto ao preparo e fase posterior ao procedimento.

Contraindicação: Grávidas e pessoas com histórico de cicatrizes hipertróficas.

Riscos: Queimaduras químicas, cicatrizes inestéticas, alterações permanentes de cor da pele, infecções virais na pele e alergias.

Profissional habilitado*: Dermatologista, cirurgião plástico, biomédico, farmacêutico, fisioterapeuta, esteticista e enfermeiro (somente o peeling superficial).

6. Blefaroplastia química

O que é: Esta técnica promete a redução do excesso de pele na região da pálpebra por meio da aplicação de ácidos. As pessoas utilizam o nome "blefaroplastia" (que deveria ser aplicado somente às cirúrgicas plásticas na região dos olhos) para chamarem a atenção do consumidor.

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Cuidados: Os mesmos cuidados do peeling químico superficial e médio.

Contraindicação: Não indicado para pessoas com problemas oculares graves ou alergias aos componentes do peeling.

Riscos: Queimaduras químicas, cicatrizes inestéticas, alterações permanentes de cor da pele, agressão à mucosa dos olhos e até perda de visão.

Profissional habilitado*: Dermatologista, oftalmologista com atuação em plástica ocular, cirurgião plástico, biomédico, farmacêutico, fisioterapeuta, enfermeiro e esteticista.

"Esse é um procedimento que não recomendo pelos riscos de queimaduras e danos oculares graves", alerta Uguetto.

Cuidados a tomar antes de optar por esses procedimentos

Procure clínicas com licenças de funcionamento em ordem e um responsável técnico pelo local.

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Pesquise se o profissional é capacitado, com formação adequada, para as técnicas que oferta.

O profissional deve avaliar o paciente minuciosamente e explicar sobre cada procedimento sugerido com cuidados pré e pós-tratamento, além dos riscos.

Procure por profissionais já recomendados por outros pacientes. Jamais pelo número de seguidores em páginas de redes sociais, que são facilmente manipuláveis e pouco confiáveis.

Opte pelo profissional que ofereça o contrato de prestação de serviços, que te apresente termos de consentimentos livre e esclarecido e que seja sempre claro em sanar suas dúvidas.

Outra fonte consultada: Fernanda Ventin, dermatologista pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e professora de dermatologia na Uneb (Universidade do Estado da Bahia).

*Segundo conselhos federais e entidades de classe (como a dos esteticistas).

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