Onde você menos espera! 9 jeitos de evitar contaminação por microplástico

Microplásticos são pequenas partículas de plástico que medem menos de 5 milímetros e decorrem da fragmentação de plásticos maiores (como sacolas, garrafas PET, copos descartáveis) ou já "nascem" nesse tamanho, como microesferas. O glitter é um exemplo, formado por microesferas plásticas e outros compostos cintilantes.

Dispersados em solo, água, ar e alimentos, esses materiais acabam chegando até nós. Mas seus diversos impactos ainda estão sob investigação científica.

Em 2021, um estudo italiano publicado na Environment International anunciou a presença de microplásticos na placenta de gestantes.

No ano seguinte, outra pesquisa, da Holanda, descobriu partículas no sangue e em 2023, médicos chineses, detectaram microplásticos em corações humanos.

Na semana passada, foram descobertos em pênis e poderiam ajudar a explicar episódios de infertilidade. E me maio de 2024, também foram achados em testículos.

Essas partículas podem desencadear danos físicos, como inflamações e lesões em tecidos, além de liberar substâncias químicas tóxicas. No longo prazo, os potenciais danos incluíram possíveis efeitos cancerígenos e disruptores endócrinos. Waléria Guerreiro, doutora em fitossanidade e coordenadora na Faculdade Afya Jaboatão, em Pernambuco

Embora seja difícil evitar completamente a exposição aos microplásticos, devido à sua presença generalizada em todo tipo de ambiente, há medidas possíveis de serem tomadas para reduzir sua presença e mitigar os potenciais riscos à saúde.

A seguir, VivaBem, com a ajuda de especialistas, apresenta algumas:

1. Não compre qualquer cosmético esfoliante

É sempre bom verificar a composição desses produtos antes de comprar. É que alguns usam microplásticos para proporcionar um efeito de esfoliação suave da pele. As bolinhas coloridas, feitas de polietileno e polipropileno, podem aparecer nos rótulos escritas em inglês (como polyethylene, polypropylene), camufladas.

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Prefira produtos com partículas abrasivas biodegradáveis. Ou ainda formuladas a partir de ingredientes naturais, como sementes, cascas, arroz, sal e açúcar.

2. Priorize roupas feitas de fibras naturais

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Imagem: Divulgação

Tecidos de algodão, lã, seda e linho são mais sustentáveis. Não contaminam o meio ambiente como os sintéticos que, após a lavagem, liberam milhões de microfibras de plástico em corpos d'água, como rios e mares, e acabam engolidos por peixes e outras criaturas das quais nos alimentamos.

Tem mais. "Já se sabe que a exposição a náilon e poliéster, que contêm plásticos, leva a sintomas respiratórios como tosse, falta de ar e chiado e está associada a doenças pulmonares, pela permanência dessas partículas não degradáveis nos pulmões. Estamos começando a compreender, pelos estudos, as consequências da inalação à saúde", esclarece Rita de Cássia dos Santos Ferreira, pneumologista do Hospital Esperança e docente da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

3. Lave roupas sintéticas do jeito certo

Colocar as peças sujas em sacos próprios para lavagem pode ajudar a reduzir a quantidade de microfibras de plástico. "Muitas lavadoras também possuem filtros que auxiliam na redução e retirada da quantidade de microplásticos liberados durante a lavagem", informa Thiago Lopes Rocha, coordenador do laboratório de biotecnologia ambiental e ecotoxicologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG (Universidade Federal de Goiás).

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Complementarmente, quanto menos suas roupas forem lavadas, ou quanto mais você esperar sua máquina encher para lavá-las (pois assim as roupas são expostas a menos fricção durante a higienização), menor a poluição.

4. Reduza o uso de materiais descartáveis

A pneumologista Rita de Cássia acrescenta que substituir embalagens de plástico de uso único por outras, mais resistentes e cujo descarte demora mais para acontecer, é preferível. Ao fazer compras, leve consigo sacolas reutilizáveis (ecobags) feitas de tecido ou de outro material biodegradável ou reciclável.

Ao fazer esse tipo de mudança, você contribui para reduzir o fluxo de resíduos, ajudando a aliviar o impacto sobre os diferentes ecossistemas. Além disso, prefira produtos de marcas que trabalham para reduzir o desperdício e deixe de consumir desde já canudinhos de plástico e recipientes de isopor (que é à base de plástico).

5. Opte por alimentos a granel

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Imagem: Simon Plestenjak/UOL
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Produtos que não são adquiridos embalados contribuem para a redução dos microplásticos de diferentes formas. Primeiro, que oferecem ao consumidor a liberdade de comprar apenas a quantidade necessária, indo na contramão dos desperdícios. Também podem ser levados para casa em embalagens trazidas, reutilizáveis, e costumam não terem sido expostos a processos industriais.

"Sabe-se que as partículas plásticas podem absorver outros materiais ou aditivos químicos, como bisfenóis, corantes e metais pesados durante o processo de produção de embalagens, podendo multiplicar seus efeitos nocivos para saúde", alerta a médica do Hospital Esperança, de Recife.

6. Ferva e filtre a água da torneira

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Imagem: Getty Images

Essa é a dica de Bianca Ferreira da Silva, doutoranda em química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas-SP) coorientada por Sonia Queiroz, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente. "Esse processo pode ajudar a remover microplásticos. Também há estudos em andamento sobre alternativas de filtros capazes de remover essas partículas", informa a pesquisadora.

A fervura da água da torneira pode eliminar até 80% dos microplásticos presentes. Isso acontece porque, sob altas temperaturas, o calcário se solidifica e os microplásticos se unem a ele. Depois, é só passar essa água por um filtro, como de café, para remover ainda mais os resíduos sólidos formados.

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7. Prefira fornecedores locais e orgânicos

"Se forem de alimentos frescos, melhor, pois são consumidos mais rapidamente", afirma Waléria Guerreiro, que também é engenheira agrônoma. É sabido que longos períodos de armazenamento somados a uma maior exposição ao calor podem aumentar a quantidade de microplásticos que migram para os alimentos.

Os alimentos orgânicos são cultivados sem o uso de pesticidas e agrotóxicos sintéticos, que podem interagir com microplásticos no ambiente e contaminar solo e água, que eventualmente podem entrar na cadeia alimentar.

Fora que a agricultura orgânica geralmente envolve práticas que são mais amigáveis ao meio ambiente e, ao apoiar produtores locais, reduzimos a necessidade de transporte de longa distância, o que acaba levando à redução da poluição do ar e da água.

8. Colete os plásticos que encontrar

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Imagem: Victor Farias
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Tampinhas, sacolas, canudinhos, garrafinhas vazias, onde estiver, vendo-os jogados por aí, colete, pois essa é uma parte importante da solução para o problema. Afinal, frequentemente microplásticos são formados quando os plásticos maiores se degradam na natureza. "Até algumas plantas podem capturá-los da água ou do solo", lembra o pesquisador Thiago Lopes.

Existem vários pontos de coleta para reciclagem onde você pode levar esses materiais. Mas é importante separar tudo corretamente e entregar limpo e seco para facilitar o processo.

9. Se informe e conscientize mais gente

Lembre-se, cada pequena mudança pode ter um grande impacto na redução da poluição por plásticos. Para além de tudo o que foi explicado, procure por e invista em produtos e materiais biodegradáveis e faça sua divulgação. São sugestões:

Escovas de dentes e cotonetes de bambu;

Papel higiênico em embalagem reciclada;

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Xampu e condicionador em barra;

Sabão de coco e bucha vegetal;

Embalagens feitas a partir de amido de milho, bagaço de cana e algas marinhas.

"A conscientização sobre os efeitos dos microplásticos e a adoção de práticas sustentáveis pode ser promovida por meio de várias estratégias educativas e de engajamento comunitário. Isso pode incluir aulas, workshops, palestras, campanhas de sensibilização por meio de mídias sociais, panfletos informativos", reforça e conclui a doutora Waléria Guerreiro.

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