O que acontece no seu corpo quando você para de fumar

Um dos motivos de orgulho das autoridades sanitárias brasileiras é o reconhecimento internacional das estratégias de combate e tratamento do tabagismo, um transtorno crônico causado pela dependência à nicotina presente em itens derivados do tabaco.

A Política Nacional de Controle do Tabagismo, ao longo de 40 anos, reduziu pela metade o consumo desses produtos, mas na última década tem-se observado um retrocesso atribuído aos novos meios de captação do público jovem e ao aparecimento dos cigarros eletrônicos.

O que nunca muda nessa história são as consequências do ato de fumar: doenças arteriais coronarianas, mais de 10 tipos de câncer, doenças respiratórias, além de prejuízos econômicos.

A maioria das pessoas conscientes desses danos gostaria de parar.

Quem fuma reduz em cerca de 10 anos a expectativa de vida.

Cessar antes dos 40 anos diminui mortes relacionadas ao tabaco em 90%.

16% dos meninos e 18% das meninas com idades de 13 a 15 anos de idade já provaram cigarro alguma vez. Dados do IBGE (2021) e da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (2019).

477 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo no Brasil.

Os efeitos no seu corpo

Parar de fumar é uma das melhores atitudes que você pode colocar em prática para a sua saúde. Os benefícios são imediatos e, ao longo do tempo, outros ganhos aparecem.

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Confira as principais respostas do seu organismo para essa medida:

Melhoria do estado geral da saúde

Quando comparadas às pessoas que seguem usando o tabaco, indivíduos que resolvem parar
começam a contabilizar lucros já após 20 minutos da cessação, quando a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.

De acordo com a OMS, as mudanças, para melhor, acontecem hora a hora, dia após dia, independente do tempo do consumo do tabaco e da idade na qual se dá a cessação. Confira:

Após 2 horas: não há mais nicotina circulando no seu sangue.

12 horas: o nível de oxigênio no sangue volta ao normal.

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2 dias: você já percebe melhor os odores e sabores.

2-12 semanas: circulação e funções pulmonares melhoram.

1 a 9 meses: redução da tosse e melhoria da capacidade respiratória e para os exercícios.

1 ano: o risco de infarto [do miocárdio] reduz pela metade.

5 anos: o risco de ter um AVC (acidente vascular cerebral) se equipara ao de não fumantes.

Após 10 anos: 85% dos cânceres de pulmão acometem fumantes. Esse risco cai para metade comparado a quem continua a fumar; o risco de ter tumores de boca, garganta, esôfago, bexiga, colo do útero e pâncreas reduz.

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Além disso, observa-se o retardo do avanço de enfermidades que já apareceram em decorrência do tababagismo, como a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e aumento das chances de sobrevivência.

Tabagismo x nicotina

O tabagismo é uma doença crônica gerada pela dependência à nicotina, substância naturalmente encontrada nas folhas do tabaco e que é considerada uma das mais aditivas conhecidas pelo homem.

O cigarro possui cerca de 600 ingredientes diferentes. A sua queima gera mais de 7.000 substâncias, mas a nicotina é o principal delas.

Com propriedades psicoativas, ela promove alterações no SNC (sistema nervoso central), leva a alterações emocionais, comportamentais e ainda gera dependência.

Com o passar do tempo, a pessoa precisa de "doses" cada vez maiores para se sentir bem e ainda pode ter comportamentos compulsivos de consumo. A necessidade de fumar, enfim, passa a ser física e também psicológica.

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A nicotina está presente em derivados do tabaco nos quais ela está presente: cigarro, charuto, cigarro de palha, narguilé, cachimbo, rapé, cigarrilha, fumo de rolo (tabaco mascado), entre outros.

Pior com ela

Como a nicotina é considerada uma das substâncias com maior poder de produzir dependência (adição), ela é comparada à heroína e à cocaína. A diferença é que ela precisa de apenas 2 a 8 segundos para chegar até seu cérebro.

É lá que ela ativa o sistema de recompensa: fumar relaxa, traz a sensação de bem-estar e o indivíduo passa a desejar manter este estado sucessivamente. Assim, a falta da nicotina poderá provocar as seguintes manifestações, que são temporárias:

Dor de cabeça, tontura, irritabilidade, agressividade, mudanças no padrão do sono, formigamento no corpo, falta de foco, tosse, problemas gastrointestinais e aumento do apetite.

Outro sintoma desafiador é a intensa vontade de fumar —a chamada fissura— que dura cerca de 5 minutos, e pode se repetir a cada 2 horas.

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Aos poucos, tais episódios vão reduzindo em intensidade e frequência e, geralmente, acabam desaparecendo em 1 ou 2 semanas.

Altos e baixos emocionais decorrentes da mudança de vida colocada em ação. Tenha em mente que esses sentimentos fazem parte de um processo que resultará na restauração da sua saúde.

Quando possível, o apoio de um psicólogo é desejável. Uma das abordagens terapêuticas mais indicadas nesses quadros é a terapia cognitivo comportamental. Invista também em técnicas de relaxamento, como meditação, controle da respiração.

Saiba que, abrir mão do tabaco está associado à redução da depressão, da ansiedade e do estresse, bem como à melhoria do humor e da qualidade de vida, especialmente entre pessoas com transtornos psiquiátricos e comparadas a indivíduos que seguem fumando. Dados publicados pelo periódico British Medical Journal.

Até tu, cigarro eletrônico?

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Imagem: iStock

A nicotina está presente também nos cigarros eletrônicos e o sal de nicotina que os compõe chega a ser 20 vezes mais potente do que aquela encontrada em cigarros tradicionais.

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O mecanismo dos vapes promove o aquecimento de uma mistura química líquida que forma gases (vapor) que são inalados pelos usuários.

Entre essas substâncias destacam-se o propilenoglicol e a glicerina vegetal. Ao esquentarem, eles se transformam em acroleína —o mesmo componente cancerígeno do cigarro tradicional.

Os aerossóis por eles produzidos têm partículas ultrafinas capazes de penetrar os pulmões e a corrente sanguínea, o que pode causar inflamação pulmonar, doenças respiratórias, cardiovasculares e cerebrais.

Entenda o que leva ao tabagismo

De acordo com a literatura médica, vários fatores influenciam o início e a manutenção do hábito de fumar:

Genética, vida social, ter pais fumantes, baixa renda, tendência para problemas de saúde mental e impulsividade podem ser o ponto de partida para o início desse hábito.

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Já o círculo social formado por fumantes, educação em saúde inadequada, baixo suporte dos pais, uso de álcool, além do baixo status social influenciam a manutenção do consumo do tabaco.

80% de consumidores vivem em países de baixa/média renda, regiões que também concentram maior número de óbitos associados.

Ah, mas eu não quero ganhar peso!

O ganho de peso nem sempre acontece entre pessoas que param de fumar. Mas a queixa é comum nesse grupo, especialmente porque, sem o cigarro, pode haver maior consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em gordura e açúcar, que também trazem a sensação temporária de prazer. Tal situação pode adiar a cessação e também levar a recaídas.

O aumento do apetite pode ser mais evidente nos primeiros 3 meses. Outro fator relacionado é a melhoria do paladar e do metabolismo.

O conselho dos especialistas é manter uma dieta variada, consumir frutas, legumes, verduras, além de evitar o consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar.

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Capriche na hidratação e evite cafeína e bebidas alcoólicas, que poderiam desencadear o desejo pelo tabaco.

Com o passar do tempo, espera-se que o apetite e o peso se estabilizem ou até voltem aos patamares anteriores.

Ih, fumei!

A recaída é definida como o retorno ao consumo de cigarros depois de ter parado de fumar.

60% sofrem recaída em uma semana.

1 em cada 20 pessoas consegue ficar abstinente até o fim da vida, sem recaídas.

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Cerca de 5% das pessoas que tentam parar de fumar sozinhas têm sucesso ao longo de 6 meses. Entre estas, a possibilidade de recaída é de 50% nos anos que se seguem. Dados publicados pela revista Psychology & Health.

A recaída não deve ser encarada como fracasso, mas como parte do seu aprendizado.

Pedir ajuda facilita tudo

O ideal seria buscar orientação especializada no tratamento do tabagismo a partir do momento em que se toma consciência dos danos do consumo do tabaco e há vontade de cessar tal hábito.

Parar começa pela ideia de querer parar. A decisão pode acontecer meses antes da efetiva ação de parar.

Uma estratégia eficaz é marcar um dia para parar e partir daí não fumar mais. Mas pode também ser gradual, como por exemplo, adiando o primeiro cigarro a cada manhã, e assim sucessivamente, até que se conseguir parar definitivamente.

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O especialista indicado para avaliar esses quadros é o pneumologista, mas outros médicos também podem atendê-lo.

Em todo o Brasil existem centros de atendimento do Programa Nacional de Controle do Tabagismo onde você encontrará todo o apoio para parar de fumar. Para saber mais, ligue para 136 ou confira os endereços da sua região: https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo/programa-nacional-nos-estados.

Dicas dos especialistas

Caso esteja parando ou pensando em parar, saiba que esta é uma tomada de decisão que pode ser planejada com a ajuda de um profissional da saúde.

Esteja pronto para investir em mudanças nos hábitos de vida, e também na forma como encara os problemas do dia a dia. Essas atitudes são fundamentais para o sucesso e a recuperação da sua saúde.

Veja as medidas que previnem desconfortos e colaboram para que você se sinta mais confiante nesse empreendimento:

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Caso precise de ajuda para parar, converse com um médico ou especialista no tratamento do tabagismo. Eles podem orientá-lo sobre as melhores estratégias para você.

Quando escolher a data certa, anote as razões pelas quais você está parando. Você pode manter um diário com observações sobre porque e quando teve vontade de fumar nesse processo.

Prepare os ambientes que frequenta, descartando todos os pacotes de cigarro, isqueiros, fósforos ou outros acessórios relacionados.

Você pode começar deixando de fumar em locais que você passa longo tempo: a sua casa, o trabalho ou o carro.

Comunique familiares e amigos sobre a sua decisão.

Evite estar entre pessoas que ainda fumam.

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Hidrate-se de forma consistente e regular. Água gelada ajuda a driblar a fissura.

Prefira bebidas livre de cafeína, especialmente o café, caso você o relacione com o cigarro. O álcool também entra nessa lista.

Encontre meios de superar a falta do cigarro nas mãos. Algumas pessoas têm sempre um item pequeno para manusear quando sentem falta dele.

Pratique ou intensifique a atividade física.

Encontre meios de driblar a vontade de fumar. Quando ela aparecer, movimente-se, faça uma breve caminhada ou algo diferente.

Aprenda técnicas de relaxamento para aliviar o estresse.

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Fontes: Andrea Antunes Cetlin, médica pneumologista e docente da divisão de pneumologia do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Grupo de Estudo Sobre o Tabaco (Ângelo Andrade Tartaglia, médico clínico geral; Filipe Celso Escolano de Paula; Gabriel Zampieri; Joseph Marcinkevicius e Maria Luísa de Andrade Reis, alunos da graduação em medicina FMRP-USP); Ângelo Andrade Tartaglia, médico clínico geral; João Batista Carlos de Sá Filho, médico pneumologista do HU-UFMA (Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), secretário da SBPT-Maranhão (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia); Mariana Pinho, enfermeira e coordenadora do Projeto de Controle de Tabagismo da ACT - Promoção da Saúde. Revisão técnica: Andrea Antunes Cetlin.

Referências: Inca (Instituto Nacional de Câncer); Diretrizes para cessação do Tabagismo da SBPT (2008); OMS (Organização Mundial da Saúde); CDC (Centers for Disease Control and Prevention); American Cancer Society.

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Adams TN, Morris J. Smoking. [Atualizado em 2023 Maio 22]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537066/

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Centers for Disease Control and Prevention (US); National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion (US); Office on Smoking and Health (US). How Tobacco Smoke Causes Disease: The Biology and Behavioral Basis for Smoking-Attributable Disease: A Report of the Surgeon General. Atlanta (GA): Centers for Disease Control and Prevention (US); 2010. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK53017/

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