Explosão de idosos em 2030: como ficam a saúde e a qualidade de vida?

Robôs humanoides, carros voadores, cidades cada vez mais verticalizadas e inteligentes, essas são algumas promessas para um futuro próximo. Mas o que esperar em termos de envelhecimento e saúde, ainda mais em se tratando dos brasileiros? Afinal, a partir de 2030, o nosso país terá mais idosos do que crianças.

Muitos desafios pela frente. Desde a década de 1970, foi anunciado o aumento da população idosa e o Brasil não se planejou devidamente para deixar de ser um 'país de jovens'. Cinco décadas já passadas, não só Estado, como a sociedade, não se deram conta, de um fenômeno que atingirá todas as pessoas. Adriana de Oliveira Alcântara, mestre em gerontologia, doutora em antropologia social e professora colaboradora da UFC (Universidade Federal do Ceará)

De acordo com uma projeção recente do IBGE, a população idosa no Brasil poderá quase triplicar até 2050 e se tornar a sexta maior do mundo.

Em 2060, um a cada quatro de nós terá 65 anos ou mais.

Mas será que a qualidade de vida acompanhará esse boom de expectativa?

Não será só sobre viver mais

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Segundo Alcântara, o grupo populacional com 80 anos ou mais é o que mais cresce no Brasil, com demandas de cuidados constantes. "Mas a maior parte da população idosa vive de um salário mínimo, com condições financeiras reduzidas para arcar com os cuidados necessários, em especial as doenças", diz. Assim, um envelhecimento ativo preconizado pela OMS parece uma perspectiva improvável.

Além disso, a tendência, se nada for feito, é de um aumento do esgotamento entre cuidadores, sobretudo informais. Essa e a geriatria serão duas profissões em alta no futuro, porém, espera-se que a maior parte dos idosos viva em países de baixa e média renda. Até lá, robôs eventualmente poderão desempenhar um papel importante, mas não substituirão de imediato —e inteiramente— os humanos e terão um custo.

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Fora de casa, quem ainda terá acesso aos melhores serviços médicos? Portanto, é certo que a tecnologia terá sua participação no envelhecimento heterogêneo. "Um contingente expressivo ficará excluído, caso a mercantilização seja a única opção, em detrimento do cuidado da saúde como obrigação coletiva e social. Logo, não basta sobreviver, é crucial pensarmos sob que circunstâncias", explica Alcantara.

Aumento de doenças e preconceito?

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Para Fabiano de Abreu Agrela, pesquisador pós-doutorado em neurociências e membro da Society for Neuroscience (EUA), à medida que a população idosa cresce, a prevalência de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, também acompanha. "E estamos testemunhando um aumento nos casos de transtornos mentais, a exemplo de ansiedade e estresse ocupacional."

Agrela continua que a necessidade de trabalhar por mais tempo contribuirá ainda para mais casos de burnout (ou síndrome do esgotamento profissional) entre os idosos, o que igualmente poderá aumentar o desenvolvimento de demências, inclusive de forma precoce. Por outro lado, mais tempo ativos, os idosos também terão que exercitar mais o cérebro e se aprofundar em conhecimentos do futuro.

Quer dizer que o etarismo, o preconceito contra indivíduos ou grupos com base em sua idade, vai diminuir? Afinal, será cada vez mais comum no último terço da vida estar trabalhando, estudando em universidades.

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Não é por aí. "Vivenciamos o preconceito num país que idealiza a juventude. O futuro é sermos vítimas da 'velhofobia', independente da classe social", lamenta a antropóloga Adriana.

Iremos colher o que plantarmos

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A prevenção é o caminho mais sensato e eficaz. Os idosos de amanhã hoje são jovens mais conscientes sobre saúde. Entretanto, imprescindivelmente e desde já, é fundamental a implementação de políticas públicas sociais de saúde, mercado de trabalho e educação. É importante considerar que o envelhecimento é um processo de longo prazo, não ocorre de repente, afirma Marco Túlio Cintra, geriatra e presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatra e Gerontologia).

"O sistema de saúde precisa se preparar e é urgente. Do contrário, teremos uma explosão de custos, mas não necessariamente uma boa assistência, o que é muito grave", alerta o médico. Se nada for feito, o cenário será de muitos idosos, envelhecendo mal, sem qualidade de vida, sem poder trabalhar para se manter e dependendo de cuidados, num país em que a taxa de fecundidade só diminui.

Se há algo de positivo nas previsões sobre o futuro é que a ciência continuará avançando e, embora seja precoce falar sobre cura para muitas doenças atuais, a esperança é de que os diagnósticos e tratamentos evoluam. Para o presidente da SBGG, a inteligência artificial cooperará com diagnósticos, exames e atuará em hospitais e clínicas, auxiliando médicos, gestores e atendentes, agilizando todo tipo de fluxo.

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