Orar, meditar, perdoar: como a espiritualidade pode ajudar a saúde
A espiritualidade, segundo pesquisadores, estaria ligada à busca pessoal de um propósito de vida e de uma transcendência, envolvendo também as relações com a família, a sociedade e o ambiente.
A espiritualidade é um estado mental e emocional que norteia atitudes, pensamentos, ações e reações nas circunstâncias da vida de relacionamento, sendo passível de observação e mensuração científica. Álvaro Avezum Júnior, doutor em cardiologia pela USP
Segundo o médico, a espiritualidade é expressa através de crenças, valores, tradições e práticas. E ela também pode ajudar a saúde. "Quem tem menos disposição ao perdão está mais disponível a enfrentar enfermidades coronárias", afirma o especialista. Da mesma maneira, complementa, a raiva acumulada pode levar ao diabetes.
Avezum Júnior é um dos principais estudiosos do país da relação entre espiritualidade e saúde. Segundo ele, com intervenções baseadas em perdão e gratidão, é possível controlar, por exemplo, a pressão arterial. "Mas não um perdão condicional, que mantém o ressentimento, e sim um perdão emocional, que muda o que se sente em relação ao agressor", afirma.
Crença contribui com tratamento
De acordo com o médico Frederico Leão, coordenador do ProSER (Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade da USP), adotar a prática espiritual que esteja em harmonia com as crenças de cada um pode contribuir para o tratamento.
"Se o paciente acredita que a meditação o acalma, o médico deve ter essa informação em mãos e recomendar que ele mantenha a prática, ao mesmo tempo em que toma a medicação", diz Leão.
Ele destaca as pesquisas do psiquiatra americano Harold Koenig, da Universidade Duke, para quem negligenciar a dimensão espiritual do paciente é como ignorar o seu aspecto social ou psicológico, ou seja, ele não é tratado de forma integral. "Koenig constatou que o pensamento positivo, a meditação e a oração não afetam só a mente, mas o organismo como um todo", afirma Leão.
Efeitos sentidos no organismo
De acordo com pesquisadores da Universidade de Yale (EUA), em estudo publicado na revista Cerebral Cortex, em 2019, "estados espirituais são aqueles que através do sentimento conectam você a algo maior do que a si mesmo, uma unidade ou força que pode ser experimentada como uma energia, poder superior, divindade, figura ou consciência transcendente".
"Em todas as culturas e ao longo da história, os seres humanos relataram uma variedade de experiências espirituais e o senso de união percebido que transcende o senso comum do eu", explicou a equipe em seu artigo.
Ao direcionamos nossa atenção a eventos positivos, algo comum nas crenças espirituais, o organismo produz substâncias que promovem bem-estar e relaxamento. "Isso nos favorece para agir em busca de que coisas positivas aconteçam", diz Maria Clara Godoy, psicóloga, especialista em neurociência e professora do curso de psicologia da PUCPR.
Segundo a psiquiatra espanhola Marian Rojas, o amor é o melhor antídoto para o sofrimento. O primeiro é o amor a si mesmo, a autoestima, depois vem o amor pelos outros, o amor de um parceiro, a solidariedade e, finalmente, o amor às memórias e às crenças. "Quando nosso coração está animado com alguma coisa, ele sofre menos e a dor é mitigada", diz.
*Com informações de reportagens publicadas em 09/05/2021, 16/10/2021 e 05/06/2018
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