'Pior dor do mundo': neuralgia do trigêmeo dá sensação de pontada e choque
A estudante de veterinária Carolina Arruda, 27, sofre de neuralgia do trigêmeo, que causa uma dor considerada "a pior do mundo". A jovem pretende sair do Brasil para realizar eutanásia ou suicídio assistido, já que os procedimentos são considerados crimes no país.
O que é neuralgia do trigêmeo?
A neuralgia do trigêmeo é um quadro de dor associado a um nervo, o trigêmeo. Tal estrutura é responsável pela sensibilidade da face.
A doença tem como principal hipótese de surgimento a compressão de um vaso sanguíneo sobre as raízes do nervo trigêmeo. Esse tipo representa 80% a 90% dos casos. Ela também pode ser relacionada a outras doenças que acometem o nervo trigêmeo, como esclerose múltipla, isquemias vasculares, tumores do ângulo pontocerebelar, tumores do próprio nervo e outras lesões locais.
Essa é uma doença classificada como uma dor crônica, pois perdura por mais de três meses. Ela costuma ser incapacitante, ou seja, pode afastar o paciente de suas atividades sociais e profissionais.
É caracterizada por uma dor facial intensa, aguda, forte e súbita. Pode ser comparada a uma pontada, um choque ou um ardor (sensação de queimação). Em 90% dos casos, é sentida em apenas um lado do rosto e, raramente, ultrapassa poucos segundos. O problema é que ela causa uma crise chamada paroxística, que recorre em vários episódios ao longo do dia. A crise pode durar semanas ou até meses.
O paciente fica livre de dor, entre as crises, até a recorrência de novos episódios. Os "períodos de remissão", com o passar do tempo, tornam-se menores, aumentando a frequência e a intensidade da crise dolorosa.
Geralmente, a dor é desencadeada por um estímulo sensorial, como um toque ou ao escovar os dentes, mastigar, beber água, falar e até mesmo por meio de um golpe de vento frio na face — quanto mais o tempo estiver frio, maior é a dor.
Por si só, a neuralgia do trigêmeo não é uma doença fatal, mas essa é uma dor crônica que está intimamente relacionada a casos de depressão associados à intensidade, recorrência e cronicidade da dor.
Existe cura? A cura da neuralgia do trigêmeo deve ser considerada um controle dos ataques de dor extrema que engloba os tipos de neuralgia e tratamentos relacionados.
A neuralgia do trigêmeo é uma doença comum no Brasil — entre as patologias neurológicas. A incidência anual estimada no país dessa, que é uma das piores dores que alguém pode sentir e que é localizada na face, é de 4,5 por 100 mil indivíduos.
O que fazer ao sentir os sintomas?
O paciente deve procurar um médico para estabelecer o diagnóstico correto ao sentir as fortes dores na face. A especialidade mais indicada para o tratamento da neuralgia do trigêmeo é a neurologia e a neurocirurgia. Os cirurgiões que atuam em cabeça/pescoço e base de crânio, nesses casos os otorrinolaringologistas e bucomaxilofaciais, também são adequados.
Na grande maioria dos casos, o diagnóstico é feito por meio de uma análise clínica. Ou seja, só necessitando de exames complementares se houver suspeita de ser um quadro secundário a outra doença.
O diagnóstico correto é fundamental para a adequada proposta terapêutica. O especialista deve afastar outras causas comuns de dor facial, como doenças odontológicas, sinusopatias, doenças das articulações têmporo-mandibulares, tipos específicos de cefaleias primárias e secundárias, doenças infecciosas e reumatológicas, entre outras.
O pronto-atendimento pode ser acionado para momentos agudos, quando é necessária a analgesia e sedação do paciente de forma urgente, para diminuir o desconforto que torna-se insuportável.
Existe tratamento?
A neuralgia do trigêmeo é um tipo de dor que não responde tão bem ao uso de analgésicos conhecidos, como o paracetamol ou a dipirona.
Entre os tratamentos que surtem efeito, a primeira opção é o protocolo clínico, envolvendo algumas drogas antiepilépticas. Entre as opções estão a carbamazepina e a oxcarbazepina. Elas devem ser administradas em doses baixas, sempre com acompanhamento médico, pois causam efeitos colaterais. Outras opções são a lamotrigina, o baclofeno, o topiramato, o clonazepam e a fenitoína, tendo nestas quatro últimas o uso associado à carbamazepina.
Para casos em que os remédios não funcionam tão bem, o médico deve avaliar a cirurgia como forma de conter as dores e melhorar a qualidade de vida do paciente. Os procedimentos cirúrgicos mais utilizados são de descompressão neurovascular, rizotomia por radiofrequência ou glicerol.
Por fim, o balão de compressão é uma técnica que oferece conforto para um longo tempo e com taxas de controle da dor que chegam a 91% em 6 meses, 66% em 3 anos e recorrência de 30%, com menor morbidade e sem mortalidade. No procedimento é inserido um cateter no paciente, dentro da bochecha, e um pequeno balão é insuflado na extremidade do cateter, comprimindo o gânglio do trigêmeo e eliminando a dor em 98% dos casos.
*Com reportagem publicada em 19/06/2020
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