Dá para tratar 'pior dor mundo'? Jovem diz que pode reconsiderar eutanásia
Carolina Arruda, 27, estudante de veterinária sofre de neuralgia do trigêmeo, considerada a "a pior do mundo". Ela sente uma espécie de choque elétrico durante a crise, que ocasiona uma dor aguda e a leva a um quadro incapacitante, impedindo tarefas básicas de seu dia a dia, como lavar louça e brincar com a própria filha.
Carolina busca a possibilidade de eutanásia ou suicídio assistido na Suíça —no Brasil, os procedimentos são considerados crime. Entretanto, em entrevista à Folha de S.Paulo neste domingo (7), ela disse que pode reconsiderar a ideia, se algum tratamento funcionar.
"Se der certo e aliviar a dor, talvez eu reconsidere a eutanásia. Tudo é válido para minimizar a dor. Mesmo que eu tenha decidido optar pela eutanásia, ainda terei que passar por um processo burocrático e demorado", afirmou ao jornal.
Quatro cirurgias, 70 médicos e mais de 50 remédios testados. Carolina já passou por diversas cirurgias e hoje, além de canabidiol, faz uso de dez medicamentos por dia, entre antidepressivos, anticonvulsivos, opioides e relaxantes musculares. A paciente relatou ao jornal que também aplica botox a cada quatro meses no músculo temporal e masseter (um dos quatro músculos da mastigação), que deixa a dor cerca de 5% menos intensa.
Novo tratamento feito por uma equipe da Argentina. Carolina contou à Folha que uma das possibilidades de tratamento é uma nova técnica, provavelmente cirúrgica. A consulta com um médico brasileiro será no dia 18 de julho e custará R$ 400. A equipe argentina ainda não informou datas, procedimentos e valores.
Quais os tratamentos conhecidos para a neuralgia do trigêmeo?
Percutâneo. Wuilker Knoner Campos, doutor em neurociências pela UFSC e presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, explica que existem tratamentos mais modernos, mas sempre se começa por procedimentos como o percutâneo, em que se usa anestesia local em uma agulha que vai da bochecha ao crânio e causa uma lesão parcial no nervo, cauterizando impulsos elétricos. "Usa-se uma agulha com radiofrequência. Essa agulha é minimamente invasiva e vai estimular as áreas da dor", esclarece.
Cirurgia de neuroestimuladores. "Não melhorando, existe a cirurgia de neuroestimuladores, eletrodos que são colocados com implante na medula ou no cérebro para amenizar a dor", continua Campos.
Bomba de morfina é uma das opções. "É implantada na paciente e fica gotejando o medicamento na medula ou no cérebro", explica o médico.
Tratamentos não invasivos. Campos destaca ainda a neuromodulação com estimulação magnética transcraniana. Um aparelho emite um campo magnético para estimular áreas específicas do cérebro responsáveis pela dor e podem a aliviá-la ou neutralizá-la.
Cirurgias podem ser mais eficazes. Renato Chaves, neurocirurgião especialista em cérebro, ressalta que medicamentos anticonvulsivantes reduzem a transmissão de sinais de dor através dos nervos, mas têm efeito apenas paliativo. Segundo ele, as intervenções cirúrgicas são os melhores tratamentos, mas há riscos.
A cirurgia de descompressão microvascular alivia a pressão no nervo trigêmeo; a radiofrequência interrompe a função nervosa para reduzir a dor; enquanto a radiocirurgia direciona radiação para lesionar o nervo e reduzir a dor. Renato Chaves, neurocirurgião especialista em cérebro
Riscos. De acordo com Chaves, a cirurgia de descompressão microvascular é a mais complexa e invasiva delas, com riscos de infecção e complicações neurológicas. A radiofrequência e a radiocirurgia são menos invasivas, mas podem causar efeitos colaterais como formigamento ou dormência contínua.
O que é neuralgia do trigêmeo?
Doença não tem cura e é dolorosa. Apesar dos tratamentos, a doença não tem cura e o paciente pode continuar sofrendo com dores, caso os procedimentos não sejam totalmente eficazes.
Nervo trigêmeo enerva toda a sensibilidade da face. Além de uma parte da cabeça e a cavidade bucal. "A parede da artéria se desloca e acaba encostando no nervo trigêmeo, na parte de dentro do crânio. E quando essa artéria pulsa, ela toca o nervo, causando uma espécie de machucado", disse Campos.
Dor ocorre de forma súbita e sem causa definida. Ela pode ter como gatilho uma simples brisa de vento frio.
É descrita como uma das piores dores do mundo. E é mais comum em pessoas a partir dos 50 anos, afetando mais o sexo feminino.
4,5 casos a cada 100 mil pessoas. Essa é a incidência anual do distúrbio no Brasil, segundo um estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em parceria com a Faculdade de Medicina do Vale do Aço.
*Com informações da reportagem publicada em 03/07/2024
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