Memória humana tem espaço infinito? Esse é um mistério até pros cientistas

Jogos para melhorar a memória. Como memorizar um texto. Técnicas para decorar uma fórmula para a prova... Durante os períodos de provas e vestibulares, aumentam as buscas por termos como esses. Mas o que funciona e o que é lenda?

A verdade é que a ciência, até hoje, ainda conhece pouco sobre o funcionamento da memória humana. Para os cientistas, ainda há muito mistério quando o assunto envolve o cérebro.

Estima-se que a memória humana nunca acabe. Mas não se sabe como isso acontece. Se fica armazenada no cérebro, e ele não cresce, como sempre há espaço para memórias extras?

Há registros de gente que melhorou a capacidade de retenção de conhecimentos, mas ninguém descobriu ainda exatamente como isso acontece. Também não se tem certeza se a capacidade de armazenar informações é um fator genético ou algo que se pode adquirir com treino, por exemplo.

Estudos longos sobre evolução ou involução da memória não elucidaram quais e se fatores externos, como jogar palavras cruzadas, realmente influenciam. Em pesquisa divulgada em outubro de 2018, neurocientistas da Universidade da Califórnia disseram que estimular as ondas cerebrais teta, de baixa frequência, ajuda a melhorar a capacidade de memorização.

Eles usaram 50 voluntários para testes com aparelhos comercializados para estimular essas ondas e constataram ganho na capacidade de memória. O procedimento foi repetido novamente em uma nova amostra, com 40 voluntários, e os resultados foram semelhantes.

Muitos cientistas acham que a memória está nas sinapses, que são as conexões entre os neurônios, mas ainda não se detectou como, por exemplo, o "número 2" está representado, em quais sinapses. Sabe-se que elas estão envolvidas em processos mentais, mas não se sabe como funcionam. Os especialistas afirmam não ter ideia de como é o processo de memorizar ou se lembrar de algo.

Em outras palavras, por mais que se saiba que a memória acontece no cérebro, qual parte do órgão ou em qual célula exatamente está alojada a memória referente a uma coisa ou outra é um mistério.

A memória é física?

É motivo de controvérsia definir se processos mentais, como a memória, são físicos, químicos ou de que natureza. Eles se utilizam do cérebro, mas não se originam nele. Assim, uma lesão cerebral pode afetar alguns desses processos, porém, afetam a participação e não a origem.

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Uma evidência que reforça a ideia de que a memória não é física é o fato de ela ser infinitamente expansível. Afinal, ninguém jamais teve a vivência de querer memorizar um número de telefone ou o nome de uma pessoa e não haver mais lugar para isso. Baseado nessa informação, vários neurocientistas estão começando a admitir que a memória é ilimitada e, desta forma, não pode ser física.

No sentido de "mais neurônios", provavelmente, a memória não é física, mas há variações genéticas que causam variações na memória episódica, a memória de eventos autobiográficos, entre indivíduos.

A memória depende de variáveis neurobiológicas, portanto físicas e hereditárias, mas também influenciada por diferentes fatores ambientais e emocionais.

Tipos de memórias

Em relação ao tempo de armazenamento, existe a memória de curto prazo e a memória de longo prazo.

A memória de curto prazo dura até 30 segundos e tem uma capacidade limitada de quantidade de informações a serem armazenadas, já a memória de longo prazo tem potencial para ter duração permanente e ilimitada na quantidade de informações.

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Independentemente do tipo de memória, seu mecanismo ocorre em três etapas:

  1. Armazenamento
  2. Consolidação
  3. Evocação das informações

Também há quem defenda que a memória nada mais é do que uma conversa química entre os neurônios, que exige uma ampla rede sináptica. Ou seja, é necessário que a "gordura do cérebro" seja bem desenvolvida para haver essa troca de informações.

Seguindo essa linha, é possível entender que a memória é um processo físico, pois depende de uma porção de substâncias neurotransmissoras para funcionar.

E nesse caso, a explicação traz à tona que a capacidade de memorizar depende de aspectos hereditários - mas também pode ser aprimorada, conforme os estímulos cerebrais.

A mesma teroria explica que a memória depende de fatores biopsicossociais, portanto é influenciada por inúmeros fatores. Entre eles, a atenção e a emoção, que podem aumentar ou diminuir a capacidade de memória. Além disso, as estratégias mnemônicas utilizadas pelas pessoas podem auxiliar na memória.

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Treino ou vitamina?

Para melhorar a memória, o que funciona melhor: treino ou vitamina? Aparentemente, os dois!

Existem substâncias, como um derivado do ômega 3, que aumentam a gordura do cérebro. Assim, há mais substrato para o cérebro. Há ainda medicações que aumentam o fluxo sanguíneo e que reforçam as sinapses, por exemplo.

Por outro lado, os médicos também reforçam a importância de diversas técnicas de treinamento, que estimulam a capacidade de memória sem a ingestão de nenhuma substância.

Vários trabalhos apontam que o sono ajuda na formação da memória para eventos recentes. A longo prazo porém, não se sabe o que pode ser feito para aumentar a memória. Os especialistas também ressaltam que o exercício da memória aumenta a capacidade de seu uso, principalmente na velhice.

Entretanto, em curtos espaços de tempo, fatores como exercício físico e dieta parecem ter algum papel significativo no lembrar. Estudos recentes também mostraram a importância de receptores para a dopamina para a memória episódica.

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O estilo de vida pode diminuir a memória. Falta de exercícios físicos, alcoolismo e tabagismo são extremamente detrimentais à manutenção da memória. Até por que esses fatores causam déficits de suprimento arterial a redes neurais diretamente associadas à codificação e recuperação de memórias.

Diferenças

Embora os pesquisadores concordem que seja possível melhorar as capacidades de memória, também há um entendimento de que tal facilidade seja uma característica que depende de indivíduo para indivíduo.

As pessoas têm diferentes habilidades cognitivas. Existe uma média esperada para as pessoas, de acordo com a faixa etária e a escolaridade, portanto existe diferença na memória das pessoas.

A memória acaba sendo como qualquer outra característica do organismo. Da mesma maneira que existem pessoas com mais musculatura do que outras, existem pessoas com mais memória do que outras.

Fontes: Valdemar Setzer, professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP); Richardson Leão, neurocientista do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Camila Cruz Rodrigues, psicologa e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Rodrigo Duprat, médico e estudioso dos processos de cognição.

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*Com informações de matéria publicada em novembro de 2018.

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