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'Descobri por desespero': ela tomou 'vacina' para candidíase, mas funciona?

Imagem: Reprodução/TikTok

Marcela Schiavon

Colaboração para VivaBem

11/07/2024 04h00

Evellyn Cristo, ou Neilinha, como é conhecida na internet, 22, de Porto Seguro (BA), tomou o que chama de "vacina" contra candidíase porque não aguentava mais ter crises de coceira. "Comecei a ter crises seguidas há dois anos e meio e isso piorou no final de 2023. Desde lá, eu passo 24 horas por dia, sete dias por semana sentindo os sintomas da candidíase. O que mais prevalece é a coceira."

Descobri [a 'vacina'] por conta do desespero. Procurei a alergologista porque queria saber se eu tinha alguma alergia específica que estivesse desencadeando as crises. Foi quando eu vi nos serviços prestados pela médica que ela aplicava 'vacina' contra candidíase. Até então, eu não sabia da existência de uma vacina.

Vacina na verdade é imunoterapia

Um artigo publicado em 2013 revisou 17 estudos e mostrou que foram desenvolvidas 17 vacinas, mas apenas duas progrediram para estudos da fase 1 e uma para um estudo da fase 2. Elas têm apresentado resultados promissores, segundo Omar Darze, médico especialista em saúde humana. De acordo com o médico, elas são compostas pelo microrganismo enfraquecido ou fragmentos dele e, quando administradas, estimulam uma melhor resposta imune do organismo.

Essas vacinas ainda carecem de mais estudos para que se possa avaliar melhor dosagens, segurança e eficácia. Bons resultados têm sido relatados através da imunoterapia com alérgenos específicos de Cândida se associando a uma redução da frequência e duração das infecções. Omar Darze, médico especialista em saúde humana

Para casos de candidíase de repetição (quando se tem mais de quatro episódios em um ano), além dos causadores tradicionais da candidíase, a mulher pode ter algum comprometimento imune local que faz com que o corpo não dê conta da infecção. Os tratamentos clássicos são antifúngicos, preventivo com fluconazol e mudanças comportamentais, mas também há a imunoterapia —que é diferente de uma vacina.

Enquanto a vacina previne o corpo de infecções, a imunoterapia tenta ajudar o sistema de defesa a melhorar a resposta ao entrar em contato com o agente patológico.

De acordo com a ginecologista Monique Novacek, a imunoterapia é popularmente chamada de "vacina para candidíase" e está disponível, mas funciona como um imunoestimulante. "Ou seja, vai treinar a imunidade da paciente para controlar o fungo da Cândida. Isso é feito através da administração de uma dose do agente enfraquecido, para que o corpo aprenda a se defender."

Não funciona em todo mundo

Neilinha conta que tomou duas doses e pagou R$ 250 em cada. A jovem explica, porém, que a empolgação durou pouco. "O que eu senti após as duas aplicações foi exatamente uma crise de candidíase, intensa ao ponto de não me deixar dormir direito. Essas crises talvez signifiquem que meu organismo esteja tendo uma resposta imunológica em relação à vacina. Mas isso é um talvez", diz.

Segundo ela, ainda é muito cedo para falar de resultados. "Tomei apenas duas doses de um tratamento longo", diz. "O intervalo entre essas doses foi de 20 dias, era pra ser 30, mas eu não consegui segurar. Ao tomar a segunda dose, pensei que sentiria um alívio na crise que estava tendo, mas na verdade foi ao contrário."

A ginecologista Monique Novacek diz que a eficácia pode variar de pessoa para pessoa e depende da resposta imunológica de cada paciente. "A 'vacina' costuma ter uma eficácia alta, mas depende também da duração do tratamento, que será avaliada pelo médico, de acordo com as condições do paciente", diz.

Para se ter uma ideia, um estudo antigo, de 1996, tratou 42 pacientes com candidíase de repetição com imunoterapia. O estudo durou três anos e meio, mas propôs um tempo de 24 meses de tratamento às participantes. Ao fim da pesquisa, a eficácia do tratamento foi de 64,3%, "com reduçäo significativa do número de episódios de candidíase por ano". Mas apenas 40% das pacientes aderiram aos dois anos de imunoterapia e a maioria cumpriu apenas a metade do tempo previsto inicialmente.

O tratamento antifúngico ainda é a alternativa mais amplamente aceita, porque são os únicos medicamentos com estudos clínicos que comprovam sua segurança e eficácia. Um desafio é a resistência que esses microrganismos têm desenvolvido com o uso indiscriminado dessas drogas. Na eventualidade de uma infecção, procure seu ginecologista para um tratamento eficaz e seguro. Omar Darze, médico especialista em saúde humana

Conhecendo a candidíase

Candidíase é uma das mais frequentes infecções genitais nas mulheres.

Caracteriza-se por coceira, vermelhidão na vulva, ardor e corrimento tipo leite coalhado.

Quando a mulher apresenta mais de quatro episódios no ano, a candidíase é considerada de repetição.

Alguns fatores se associam com uma possibilidade maior dessa infecção como uso de antibióticos, diabetes, gravidez, estados de baixa imunidade, alguns hormônios e a hipersensibilidade ao fungo.

Fontes: Omar Darze, graduado em medicina pela Universidade Federal da Bahia, mestre em medicina e saúde humana pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, doutor em medicina e saúde humana pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, professor do curso de medicina da Unime; Monique Novacek, ginecologista graduada pela Unisa (Universidade de Santo Amaro), residência médica pela Maternidade Escola Vila Nova Cachoeirinha, especialização em mastologia pelo Hospital Pérola Byington, obstetra da Clínica Mantelli.

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