O que um médico aprendeu após ficar 5 anos sem tomar banho com sabão
O médico James Hamblin decidiu levar um experimento a outro nível: em 2015, ele resolveu não tomar mais banhos da forma clássica. Parou de usar xampus, sabonetes ou desodorantes. E reduziu o número de vezes em que se enxaguava com água.
Hamblin queria ver as consequências dessa prática no próprio corpo. Professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e especialista em medicina preventiva, Hamblin publicou em 2020 um livro em que narra um pouco da experiência, o "Clean: The New Science of Skin" (sem edição em português).
O que ele descobriu
O começo foi difícil. "Houve momentos em que queria tomar banho porque sentia falta, cheirava mal e parecia que minha pele estava muito oleosa. Mas isso começou a acontecer cada vez menos", disse ele à BBC, em 2020, cinco anos depois do início do experimento.
No entanto, com o passar dos dias, ele percebeu que o corpo se ajustava às condições. "Com o tempo, seu corpo fica mais e mais acostumado a isso, então você não cheira tão mal se não usar desodorante e sabão", disse. "E sua pele não fica tão oleosa quando você para de usar sabonetes fortes."
Ele não deixou de lavar as mãos. "Só uso água [no banho], mas lavo bem as mãos e quero que isso fique bem claro para todo mundo. Durante o processo de pesquisa e escrita do livro, tentei diversas coisas, então me familiarizei com vários produtos, mas prefiro ficar sem eles. E respeito quem tem rotinas completamente diferentes", disse ele, em entrevista ao UOL em 2020, em meio à pandemia.
À BBC em 2020, ele também explicou o que exatamente quis dizer quando afirmou que parou de tomar banho havia cinco anos. "No livro eu falo no sentido tradicional. Eu tomo banho quando preciso ou quando quero, apenas com água, rapidamente, sobretudo quando meu cabelo dá a impressão de que acabei de acordar ou se eu estiver visivelmente sujo. Mas você pode fazer esfoliação corporal, você pode remover a oleosidade apenas esfregando com as mãos e penteando o cabelo ocasionalmente. É isso."
Em artigo publicado em 2016, ele disse que a aplicação de produtos "perturba" o ecossistema da pele. Hamblin escreveu que "o odor corporal é o produto de bactérias que vivem em nossa pele e se alimentam das secreções oleosas do suor e das glândulas sebáceas na base de nossos folículos capilares". Ao aplicar produtos na pele e no cabelo todos os dias, "uma espécie de equilíbrio entre os óleos da pele e as bactérias" é perturbado.
Quando você toma banho de forma agressiva, você destrói esses ecossistemas. Eles se repovoam rapidamente, mas as espécies se desequilibram e tendem a favorecer os tipos de micróbios que produzem odor.
James Hamblin, em artigo
O odor corporal se manteve —mas com outro cheiro. Em uma entrevista publicada no site da Universidade de Yale, em 2020, Hamblin esclareceu que continuava tendo odor corporal, mas que "as populações de micróbios em meu corpo não produzem o fedor clássico de sempre".
A saúde da pele está muito associada a outros fatores. Para o médico, fatores como alimentação, estresse, atividade física e ingestão de bebidas podem ter um impacto muito maior do que cosméticos.
Tomar banho, para ele, é um conceito moderno. "Não tínhamos água corrente. A maioria das pessoas não tinha acesso à água corrente até os últimos 100 anos. Era algo que talvez a realeza pudesse fazer, reis e rainhas, mas que as pessoas normais só podiam fazer ocasionalmente. Talvez eles entrassem em um rio ou lago, mas não era algo que precisávamos fazer todos os dias", disse ele à BBC.
Além disso, não tínhamos capacidade para produzir em massa. Então, muitas pessoas usavam sabonetes caseiros e não os usavam todos os dias porque eram muito agressivos para a pele. É tudo muito moderno.
James Hamblin à BBC
*Com informações da BBC
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