Dá para escolher sexo do bebê na fertilização in vitro, como diz Graciele?

Graciele Lacerda, 43, esposa de Zezé Di Camargo, disse que teve a chance de escolher o sexo do bebê. Ela engravidou por meio de uma fertilização in vitro (FIV).

O meu médico sabe o sexo do bebê. Porque, quando a gente faz a FIV, a gente já sabe o sexo. Tanto que ele perguntou para mim se eu queria escolher.
Graciele Lacerda, no Instagram

É possível escolher o sexo?

Na reprodução assistida, há técnicas que permitem aos profissionais saberem o sexo dos embriões gerados, mas o CFM proíbe a escolha. O Conselho Federal de Medicina tem uma regra específica sobre seleção de sexo na reprodução assistida: a resolução só permite a escolha do sexo se o objetivo for evitar doenças no descendente.

As técnicas de reprodução assistida não podem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou qualquer outra característica biológica da criança, exceto para evitar doenças no possível descendente.
Conselho Federal de Medicina, item 5 da resolução nº 2.320/2022

O que se pode avaliar, na seleção do embrião que será implantado no útero, são doenças relacionadas ao sexo, ou seja, aos cromossomos X e Y, explica Luiz Fernando Pina, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana. Alguns exemplos de doenças que podem justificar a seleção do embrião por sexo são hemofilia, distrofia muscular de Duchenne e síndrome do X frágil —todas bastante raras.

Embriões podem passar por análise genética antes da implantação no útero, mas o objetivo dessa avaliação deve ser apenas mapear questões de saúde e não outras características físicas. "A gente indica a biópsia [do embrião] e acaba vindo no laudo o sexo. Então, algumas pessoas usam esse tipo de artimanha para fazer sex selection [escolha do sexo], o que é proibido", diz Luiz Fernando Pina. O CFM afirma que toda fertilização in vitro deve seguir normas nos campos "biológico, jurídico e ético".

A análise genética do embrião na FIV não é indicada para todos os casos e nem consegue detectar todas as doenças genéticas existentes. O objetivo deste exame, feito por meio da biópsia do embrião, é detectar alterações cromossômicas que são mais frequentes em mulheres de 38 anos ou mais, casais com tratamentos anteriores sem sucesso, histórico de doenças genéticas na família ou nos exames de avaliação de risco de doença genética, aborto de repetição ou alteração grave de espermograma.
Edson Borges Junior, especialista em reprodução e diretor médico da Fertgroup

A escolha do sexo do bebê é criticada quando se fala em ética reprodutiva. A seleção de características fere a bioética. Selecionar a cor dos olhos (sem qualquer motivo de saúde), por exemplo, remete a um conceito de eugenia —teoria criada nos anos 1880, que defendia o controle genético da população para a criação de seres humanos "bem-nascidos". Essa teoria embasou práticas racistas.

Alguns países permitem o aborto seletivo com base na preferência de sexo —no Brasil, isso é proibido. Um estudo realizado por pesquisadores da ONU e das Universidades de Singapura e Massachusetts mostrou que cerca de 23,1 milhões de mulheres deixaram de nascer entre 1970 e 2017, desde que isso foi permitido em doze países. A maioria dos casos está na China (11,9 milhões) e Índia (10,6 milhões), onde a preferência por crianças do sexo masculino é maior.

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O caso de Graciele

Graciele contou que preferia não saber o sexo do bebê, pois iria esperar pelo chá revelação. "Eu falei não [ao médico], quero que você escolha por classificação. Tem umas classificações de saúde, que é o que mais importa, que é a saúde. E assim foi feito. Então, não sei o sexo. A gente vai fazer o chá revelação, se Deus quiser, mês que vem".

Graciele e Zezé passavam por tratamento para engravidar havia quatro anos. Como é vasectomizado, Zezé teve de passar por um processo "dolorido", segundo ele, para conseguir extrair os espermatozoides.

Ela engravidou por fertilização in vitro. Nesse procedimento, sêmen e óvulos são recolhidos para a fecundação em laboratório.

* Com informações de reportagem publicada em 07/06/2023.

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