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Pastor diz que autismo é 'visita do diabo no ventre'; o que é o transtorno?

Pastor diz que crianças autistas foram 'visitadas pelo diabo no ventre' Imagem: Reprodução

De VivaBem*, em São Paulo

17/07/2024 15h28

Um pastor da Assembleia de Deus, de Tucuruí (PA), tem sido alvo de críticas após dizer que o autismo é a "visita do diabo no ventre" da mãe. Posteriormente, o religioso pediu desculpas dizendo que falou "algo que não podia dizer".

A frase, dita na última sexta-feira (12), é considerada capacitista, que discrimina pessoas com algum tipo de deficiência, no caso, o autismo.

O que é autismo e quais são as possíveis causas

O nome oficial do autismo é TEA (Transtorno do Espectro Autista). Trata-se de um distúrbio multifatorial, que engloba diferentes graus — leve, moderado e severo. A condição é complexa e gera muitos questionamentos, tanto entre especialistas quanto em quem convive com autistas.

Autismo é um distúrbio de neurodesenvolvimento. Ele ocorre, pois algumas áreas do cérebro não se formam corretamente, o que gera dificuldades de comunicação, de interação social e comportamentos repetitivos e estereotipados.

O primeiro sinal percebido pelos pais de uma pessoa com autismo costuma ser o atraso na fala, por volta dos dois anos, quando a criança não está falando ou não fala tanto quanto o esperado
Neurologista Carlos Gadia, diretor-associado do Nicklaus Children's Hospital Miami, nos EUA

Os principais sinais

Os sinais de autismo, em geral, se manifestam nos primeiros meses de vida. No entanto, nesse momento, ainda é difícil percebê-los. Existem alguns sintomas mais sutis de interação social, como o bebê não olhar tanto para os olhos dos pais, ou continuar brincando e não olhar quando é chamado.

Quando a criança cresce mais um pouco, as principais características do TEA são a dificuldade de interagir socialmente; interesses restritos e estereotipados; movimentos repetitivos, conhecidos como estereotipias (balançar as mãos, bater os pés etc.); a tendência a evitar contato visual; a falta ou excesso de sensibilidade a estímulos sensoriais (como sons, luzes e dor) e a resistência a mudanças na rotina, mesmo que mínimas, na rotina.

É importante ressaltar que nem todas as pessoas com autismo vão apresentar as mesmas características, devido à amplitude do espectro e a particularidade de cada caso.

Pessoas com um grau mais leve tendem a apresentar dificuldades de linguagem e interação, como compreender piadas ou expressões, mas, em geral, conseguem ter uma vida independente.

Já pessoas com graus mais elevados, podem manifestar ausência de comunicação verbal e dependência para realização de atividades do dia a dia.

Como identificar e tratar o autismo

O transtorno não é facilmente diagnosticado por ser definido a partir de manifestações comportamentais. Como não existem exames laboratoriais específicos capazes de identificar o autismo, o laudo é baseado apenas em observações clínicas.

Pais precisam verificar como é a interação do filho com eles próprios, com crianças da mesma idade e com outros adultos, segundo Letícia Amorim, psiquiatra da infância e adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Pode-se observar como é o comportamento em festas infantis, no parquinho, na escola e, em caso de dúvida, procurar um especialista
Letícia Amorim, psiquiatra da infância e adolescência do HC

Uma vez diagnosticado, indica-se um acompanhamento multidisciplinar, que pode envolver profissionais como neurologistas, psicólogos, psiquiatras e fonoaudiólogos.

Para um tratamento mais eficiente, é importante também estar atento às comorbidades, isso é, distúrbios que podem acompanhar o autismo: ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperatividade, entre outros. Quando algum sintoma causa prejuízo no dia a dia, o uso de medicação pode ser necessário.

Por que o autismo ocorre?

O Transtorno do Espectro Autista é originado a partir de falhas genéticas, que consistem na presença de erros durante a formação dos genes. Na maioria dos casos, pessoas com autismo possuem vários erros em genes distintos, o que explica a complexidade do distúrbio.

O neurologista Gadia explica que esses genes estão localizados na fenda sináptica, ou seja, na conexão entre um neurônio e outro, sendo responsáveis por determinar como as células vão se comunicar. Dessa forma, o cérebro autista pode apresentar déficits de hipoconectividade, quando células de diferentes áreas do cérebro se comunicam menos do que em um cérebro neurotípico; ou de hiperconectividade, quando os neurônios se comunicam em excesso.

Para descobrir as causas genéticas, é necessária uma investigação aprofundada, uma vez que existem pelo menos 450 genes de predisposição ao autismo. Os exames mais frequentes são o CGH-Array (que identifica alterações cromossômicas), o Exoma e o Sequenciamento Completo do Genoma.

O transtorno não possui apenas razões genéticas, segundo Alysson Muotri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia (EUA) e pesquisador do Instituto Salk para Estudos Biológicos. "O autismo também pode se manifestar em decorrência de traumas durante o desenvolvimento do feto, que podem ser de origem física, imunológica ou devido a alguma reação a medicamento —por exemplo, antiepilépticos usados pela grávida", explica.

*com reportagem de 02/04/2018

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