Novas descobertas sobre cogumelos mágicos detalham efeitos desconhecidos

Um estudo publicado no dia 17 de julho na revista cientifica Nature revelou que a psilocibina, o principal ingrediente psicoativo dos chamados cogumelos mágicos, age embaralhando temporariamente uma rede crítica de áreas cerebrais envolvidas no pensamento introspectivo, como devaneios e lembranças.

As descobertas fornecem uma explicação neurobiológica para os efeitos alucinantes da droga e estabelecem algumas das bases para o desenvolvimento de terapias baseadas em psilocibina para doenças mentais, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático.

A pesquisa contou com sete participantes saudáveis e realização de aproximadamente 18 varreduras de ressonância magnética nos cérebros de cada um. Elas ocorreram antes, durante e três semanas após a ingestão de alta dose de psilocibina (25 mg) e metilfenidato (40 mg), a forma genérica de Ritalina. Esta última substância foi usada como placebo para analisar a diferença na reação cerebral.

Como as viagens psicodélicas carregam o risco dos usuários terem experiências negativas ou assustadoras, dois especialistas treinados ficaram com cada participante durante toda a experiência.

O estudo constatou que após ingerir uma alta dose de psilocibina, algumas redes cerebrais se dissolvem, especialmente aquela envolvida na percepção do eu, espaço e tempo. As mudanças nas conexões dessa rede podem durar semanas.

"Há um efeito enorme inicialmente, e quando ele passa, um efeito pontual permanece", disse Nico Dosenbach, coautor sênior da pesquisa e professor de neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis (EUA). "É exatamente isso que você gostaria de ver para um medicamento em potencial. Você não gostaria que as redes cerebrais das pessoas fossem obliteradas por dias, mas também não gostaria que tudo voltasse ao que era imediatamente. Você quer um efeito que dure o suficiente para fazer a diferença."

Cérebro mais flexível

O cérebro humano possui redes primárias (responsáveis por funções sensoriais e motoras imediatas) e redes de associação (envolvidas em processos cognitivos mais complexos). A pesquisa revela que a psilocibina afeta essas redes, descoordenando sua atividade.

"A ideia é que você está pegando esse sistema que é fundamental para a capacidade do cérebro de pensar sobre si mesmo em relação ao mundo, e você está dessincronizando-o totalmente temporariamente", disse Joshua S. Siegel, instrutor em psiquiatria e um dos autores, ao site da universidade. "No curto prazo, isso cria uma experiência psicodélica. A consequência de longo prazo é que isso torna o cérebro mais flexível e potencialmente mais capaz de entrar em um estado mais saudável."

Continua após a publicidade

Alguns estudos clínicos já demonstram que a psilocibina, combinada com terapia, pode tratar depressão, vícios e angústia. Por isso, entender precisamente como a droga afeta o cérebro ajudará cientistas e médicos a aproveitarem seu potencial terapêutico.

Mas os autores são categóricos em afirmar que as pessoas não devem interpretar o estudo como uma razão para se automedicar com psilocibina. Atualmente o medicamento não é aprovado pela agência regulatória de alimentos e remédios dos Estados Unidos, a FDA, como tratamento para depressão ou qualquer outra condição, e há riscos em tomá-lo sem a supervisão de especialistas treinados em saúde mental.

Deixe seu comentário

Só para assinantes