Dieta da Tailândia inclui píton; quais os riscos das carnes selvagens?

Fazendas de criação de pítons (um tipo de cobra grande e sem veneno da Ásia) têm crescido na Tailândia. Os animais têm suas peles vendidas para a indústria da moda, sobretudo da Europa, enquanto sua carne é consumida localmente e tem sido apontada como uma alternativa à alta demanda por carne no planeta.

Em 2021, um estudo do GBD (Global Burden of Disease) relatou que a desnutrição proteico-energética resultou em cerca de 190 mil óbitos no mundo. Além disso, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estima que a demanda por carne aumentará em 14% até 2032.

"A criação de pítons pode oferecer uma resposta flexível e eficiente para a insegurança alimentar global", constatou um estudo publicado em março deste ano no periódico Scientific Reports.

"Elas [as pítons] podem sobreviver meses sem comida nem água e não perdem a forma", afirmou Patrick Aust, diretor do Instituto Africano de Herpetologia Aplicada e um dos pesquisadores envolvidos no estudo.

Fora que essas cobras são mais rentáveis financeiramente por não serem tão exigentes quanto à alimentação (comem restos, por exemplo) e crescem e se reproduzem rápido —geram entre 50 e cem ovos por ano. Outras vantagens é que sua carne tem textura similar à de frango, não possui muita gordura saturada e é rica em proteína.

Patrick Aust se mostra confiante no "enorme potencial" dessa carne. "Você pode grelhá-la, comê-la com curry ou em ensopados. Eu gosto de fritá-la na manteiga de alho até ficar crocante", afirma.

Carnes selvagens exigem cuidados

Carne de tatu é consumida em várias partes do Brasil
Carne de tatu é consumida em várias partes do Brasil Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

O problema do consumo de animais silvestres, sem que estes tenham sido criados, abatidos e processados em carne legalmente, é a transmissão de suas doenças (as zoonoses) a seres humanos. "Estudos comprovaram que grande parte das doenças infecciosas emergentes é representada por patógenos causadores de zoonoses e, destes, 71,8% têm origem em animais silvestres", explica Vânia Maria França Ribeiro, médica veterinária e professora da UFAC.

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Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), mais de 200 doenças transmissíveis se enquadram na definição de zoonoses. Elas são causadas por agentes diversos, como bactérias, vírus e protozoários, mas sem que necessariamente o animal portador exteriorize qualquer sinal de que esteja com alguma alteração de saúde, como uma infecção.

Com tantos perigos, muitos ainda pouco compreendidos pela ciência, haveria então uma maneira segura de se consumir carnes exóticas? Para os médicos, a resposta é sim, mas reafirmando e complementando o que já foi dito: é preciso adquirir esses alimentos de fontes certificadas legalmente e seguir cuidados de higiene, armazenamento, manuseio e preparo.

"Assar, cozer, ferver ou fritar bem a carne são medidas eficazes para eliminar os agentes de zoonoses, cujo risco de transmissão é maior em carnes cruas ou malpassadas", explica Paulo Olzon, clínico e infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

"Essa carne precisa ser exposta entre 67 a 70ºC, por 15 a 20 minutos", acrescenta Lauro Ferreira, infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor na Emescam (Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória).

Portanto, na dúvida sobre a procedência e o estado do alimento, não o consuma, pois é até mesmo arriscado errar no ponto de cocção.

*Com informações de reportagem publicada em 11/01/2021

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