'Divórcio grisalho': por que casais juntos há muitos anos podem se separar?
Quais são os fatores que levam à separação após anos de convivência? Um estudo investigou essa questão ao analisar as experiências de 44 divorciados com 60 anos ou mais. Eles foi publicado no dia 29 de março no periódico Journal of Social and Personal Relationships.
A pesquisa revelou que, geralmente, há um processo em duas fases por trás dos divórcios em idade madura, denominado pelos pesquisadores como fenômeno do "divórcio grisalho".
Unidos, mas afetivamente distantes
Os pesquisadores identificaram que a primeira fase que conduz ao divórcio grisalho frequentemente envolve uma insatisfação prolongada no casamento, com os casais permanecendo juntos apesar dessa insatisfação.
O afastamento se deu, segundo os ex-cônjuges, devido a:
- Infidelidade;
- Abuso verbal;
- Controle pelo outro;
- Diferenças irreconciliáveis em valores e objetivos;
- Crescimento pessoal em direções opostas;
- Falta de comunicação eficaz;
- Sentimentos de solidão e desconexão emocional.
Todos esses fatores culminaram no divórcio dos casais estudados, mas, frequentemente, eles permaneceram juntos por muito tempo devido a:
- Filhos;
- Dependência financeira do cônjuge;
- Normas sociais de sua época;
- Estigma associado ao divórcio.
Ponto final no casamento
Os estudiosos indicam que a segunda fase do casamento, que resulta em um divórcio tardio, ocorre quando a decisão é tomada após anos de crescente tensão conjugal, devido a momentos críticos em que o relacionamento se desintegra completamente. Esses "pontos sem retorno" incluem eventos específicos, como:
Acontecimento público que expõe a relação tensa do casal;
Instâncias ampliadas de desonestidade conjugal ou financeira;
Casos extremos de abuso físico, econômico ou emocional.
Esses fatores frequentemente resultam em um momento de lucidez e na decisão de se divorciar. Além disso, os participantes detalham outros elementos que também influenciaram:
Estar em uma posição melhor para se divorciar devido a mudanças na estrutura familiar, como finalmente ter os filhos criados e fora de casa;
Mudanças nas normas socioculturais com o passar do tempo;
Ganho de maturidade emocional;
Forte desejo de aproveitar o restante da vida.
Esses achados funcionam como um aviso para reconhecer cedo os sinais de dificuldades no casamento e abordá-los prontamente.
O divórcio na terceira idade geralmente está fundamentado em questões profundas, momentos cruciais e mudanças pessoais que ocorrem ao longo de muitos anos. Porém, aqueles que optam pelo divórcio demonstram uma resiliência notável e uma determinação em buscar a felicidade nos anos que ainda têm pela frente, provando que nunca é tarde para reavaliar seu caminho e fazer ajustes que favoreçam seu crescimento pessoal e bem-estar.
Terapia de casal pode ajudar
Para os especialistas, o que está por trás dos conflitos é quase sempre a falta de disposição para sentar e conversar. "É muito comum que os parceiros vivam anos juntos sem conhecer realmente o outro ou saber o que ele pensa sobre determinado assunto porque se acomodaram nesse formato", observa a psicóloga Marina Vasconcellos, especializada em terapia de família e casais.
Com o tempo, essa falta de intimidade pode custar caro às relações, ainda mais em um período em que estamos todos mais sensíveis, confusos, impacientes e sob pressão. "As sessões mediadas por uma pessoa neutra —o psicólogo— dão a chance de cada parte do casal expressar o que sente e ser escutada pelo outro, o que nem sempre acontece no dia a dia porque as conversas acabam virando briga ou sequer há diálogo", acrescenta Vasconcellos.
"Mas o psicólogo não é guru do amor nem tem o poder de unir ou separar ninguém", avisa o psicólogo Thiago de Almeida, pesquisador do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) e especialista em psicoterapia de casal. "O que ele vai fazer é ajudar o casal a compreender a responsabilidade de cada parte no sucesso e no fracasso do relacionamento", diz.
*Com informações de reportagem publicada em 12/09/2020
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