'Trataram como dengue', diz marido de atleta internada com leptospirose

O marido da atleta de alto rendimento Luisa Giampaoli, 29, internada em estado grave na UTI do Hospital São Francisco de Paula, em Pelotas (RS), diz que o quadro da esposa se agravou porque ela não foi tratada a tempo para a leptospirose.

Luisa integrou a seleção brasileira de atletismo no Campeonato Ibero-Americano, realizado em maio em Cuiabá, Mato Grosso. Ela também disputou o Troféu Brasil e foi campeã e recordista da Meia Maratona Internacional de Florianópolis em 2023.

O que aconteceu

Agravamento por 'uma série de erros". O hair stylist Eduardo Schmit, marido de Luisa, relatou ao VivaBem que houve um agravamento de condição de saúde da atleta por "uma série de erros" cometidos durante o atendimento na rede pública de saúde da cidade. Eduardo clama por justiça e fez um pedido de socorro nas redes sociais para que Luisa receba um tratamento mais adequado.

Primeiros sintomas começaram no final de junho. O hair stylist, casado com Luisa há 16 anos, descreve que os primeiros sintomas começaram no final de junho, com dor de cabeça, tontura e febre. Ela foi levada a uma UPA, onde foi aconselhada a tratar da dor de cabeça em casa. Depois, foi encaminhada ao pronto-socorro, onde suspeitaram de dengue.

Eles suspeitaram de dengue. Então como a dengue não pode dar antibiótico, ela ficou cinco dias sofrendo com dor de cabeça e febre. Cinco dias sofrendo, não deram um antibiótico porque achavam que era dengue. Eduardo Schmit

Depois de dengue, foi diagnosticada com pneumonia. Após esses cinco dias, Luisa foi diagnosticada com pneumonia em ambos os pulmões e começou a receber antibióticos. Mesmo assim, seu diagnóstico inicial continuava sendo de suspeita de dengue. "Curaram os pulmões, mas a dor de cabeça persistiu", diz Eduardo.

Falta de memória e sem conseguir falar. Um dia antes de receber alta, Luisa passou tão mal que no dia seguinte acordou sem se lembrar de ninguém, sem conseguir falar e totalmente desorientada. Eduardo pediu urgentemente uma ressonância magnética, mas apenas uma tomografia foi realizada, com o neurologista dizendo que não havia nada errado. "Eu batendo em cima dele, tem alguma coisa errada, não é normal. Como é que uma pessoa não acorda antes da alta, e fica totalmente perdida, sem saber nada?", questiona.

Após a alta, a equipe médica descobriu que Luisa estava com leptospirose. Eduardo procurou um médico particular, que se mostrou alarmado com a condição de Luisa e a falta de tratamento adequado. "Ela sobreviveu cinco dias sem antibióticos no PS, no corredor", relata o marido.

Estado de Luisa voltou a se agravar em casa, levando a uma nova ida ao hospital. Eduardo descreve que, mesmo com uma carta do médico particular recomendando uma consulta neurológica urgente, o pedido não foi atendido adequadamente. "Ela sofreu muito, gritando de dor de cabeça, até que conseguiram fazer uma nova tomografia, que indicou um grande edema, mas ainda sem confirmação por ressonância", diz Eduardo.

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Eduardo contou ao UOL que o quadro da esposa piorou significativamente, resultando em sua intubação. "Atualmente, ela está nos aparelhos, praticamente em coma, e sendo medicada na esperança de uma recuperação", conta o marido. No entanto, os médicos informaram que ela não está respondendo aos tratamentos.

Marido acredita que houve descaso do hospital. "Precisamos de um diagnóstico de fora, de profissionais mais qualificados, porque houve muito descaso com a Luisa", afirma. Ele destaca a importância de um diagnóstico mais detalhado e especializado, além da necessidade de exames mais precisos como a ressonância magnética, que não foi realizada devido à falta de equipamento no hospital.

Eduardo tem usado as redes sociais para pedir socorro e buscar ajuda para transferir Luisa. "Eu postei várias vezes nas redes sociais pedindo para tirar ela de lá, porque o pessoal não estava chamando um neuro e eles são muito 'trancados' com o paciente ali", desabafa. Ele pede para quem puder ajudar a atleta, seja um médico neurologista, seja a direção de um hospital ou alguém com condições de custear os atendimentos de forma particular, pode enviar uma mensagem direta no perfil de Luisa no Instagram.

Estou pedindo socorro, não sei mais a quem recorrer. Ela é o amor da minha vida, a gente nunca se separou, nunca ficou longe um do outro. Não é possível que não haja uma saída para ela. Eu vou até o fim, vou fazer o possível e o impossível para salvá-la. Eduardo Schmit

Marido da atleta também mencionou o impacto da situação no filho de cinco anos do casal, Isaac. "De noite ele pede pela mãe e aí eu tenho que falar que ela já vai vir, já vai voltar e distraio ele com um desenho, entendeu? Porque ele era muito ligado com a mãe. Está sendo muito difícil para ele também", conta.

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Hospital confirma que situação é grave. Procurado, o Hospital Universitário São Francisco de Paula informou, por meio de nota, que não repassa informações de pacientes internados em respeito ao sigilo da lei de proteção ao paciente. A unidade apenas confirmou que a situação da paciente segue grave, internada na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).

Secretaria de Saúde de Pelotas também foi procurada. Reportagem buscou secretaria para falar sobre o que ocorreu no atendimento realizado na UPA, mas até o momento não houve resposta aos questionamentos.

Leptospirose parece com dengue?

Transmitida principalmente através do contato com água ou solo contaminado. A leptospirose é causada pela bactéria Leptospira e é transmitida principalmente através do contato com água ou solo contaminado com a urina de animais infectados, especialmente roedores. A entrada da bactéria pode ocorrer por lesões na pele, mucosas ou até mesmo pela pele íntegra após um longo período de imersão em água contaminada.

Para se proteger, é essencial evitar contato com água de enchente. Pessoas podem se infectar ao nadar, caminhar ou ter qualquer contato com águas de enchentes ou lama contaminada. Para se proteger, é preciso usar botas e luvas de borracha em áreas potencialmente contaminadas e, se houver exposição, higienizar bem a pele e procurar atendimento médico ao primeiro sinal de sintomas.

Diferenciar sintomas da leptospirose dos sinais da dengue pode ser desafiador. Sinais da leptospirose incluem febre alta, calafrios, dor de cabeça, dor muscular (especialmente nas panturrilhas), mal-estar, vômitos, diarreia e olhos vermelhos. "Diferenciar da dengue pode ser desafiador, pois ambas apresentam febre e mialgia", diz Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor do curso de medicina da Unaerp do Guarujá.

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Dor na panturrilha, conjuntivite e contato com água de enchente podem auxiliar na diferenciação. "A leptospirose tende a causar dor muscular mais intensa nas panturrilhas e conjuntivite (olhos vermelhos), enquanto a dengue geralmente causa erupções cutâneas e dor retro-orbital (atrás dos olhos). Se tiver esses sintomas, especialmente após contato com água de enchente, consulte um médico", aconselhou Weissmann.

Eduardo não sabe dizer como Luisa contraiu a doença. Ele explica que a família mora num bairro alto de Pelotas e que a esposa não fez treinamentos em áreas alagadas.

Médico diz que testes para leptospirose devem continuar no RS

Testes deveriam continuar no RS. Considerando o histórico de enchentes em Pelotas, Weissmann diz que seria altamente recomendável que a rede pública de saúde realizasse testes sistemáticos para leptospirose em pacientes com sintomas compatíveis.

Bactéria Leptospira pode permanecer viável no ambiente por até 180 dias. Isso o que significa que o risco de infecção continua mesmo após o fim imediato das enchentes. "Exames sorológicos podem ajudar a diagnosticar a doença precocemente, permitindo tratamento imediato e prevenindo complicações graves. Portanto, manter uma vigilância ativa para leptospirose em áreas afetadas por enchentes é fundamental para proteger a saúde da população", avisa o infectologista.

Tratamento da leptospirose geralmente envolve antibióticos como a doxiciclina ou a penicilina. É importante iniciar o tratamento quanto antes para reduzir a gravidade da doença. Se não tratada, a leptospirose pode causar complicações graves como insuficiência renal, meningite (infecção das membranas do cérebro), problemas no fígado e hemorragias nos pulmões. "Em casos graves, pode levar à morte", alerta o infectologista.

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Edema cerebral, ou inchaço do cérebro, pode ocorrer em pacientes com leptospirose. Isso devido a infecções no cérebro (meningite) ou resposta inflamatória intensa. Outras infecções, como encefalite viral e meningite bacteriana, também podem causar esse inchaço. O tratamento inclui cuidados intensivos em UTI, controle rigoroso de líquidos, medicamentos para reduzir a pressão no cérebro e, em casos graves, cirurgia.

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