O que causa lúpus? Cientistas descobrem novo possível foco para tratamento

Pesquisadores da Northwestern Medicine e do Brigham and Women's Hospital afirmam que podem ter descoberto a causa raiz do lúpus, uma doença que afeta cerca de 65 mil brasileiros, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

O lúpus é uma doença autoimune sistêmica, isto é, nele, a imunidade ataca o próprio corpo, reconhecendo as células do organismo como nocivas e tendo um potencial de alcançar vários tecidos diferentes.

De acordo com o Ministério da Saúde, a teoria mais aceita é que fatores externos estejam envolvidos na ocorrência dessa condição, principalmente quando há predisposição genética e o uso de alguns medicamentos.

Entretanto, no estudo publicado na Nature no dia 10 de julho, os pesquisadores descobriram o que de fato desencadearia o lúpus no corpo. Eles compararam amostras de sangue de pessoas com a doença com um grupo de controle para medir a quantidade de certos glóbulos brancos (células de defesa), as células T. Os participantes com lúpus apresentaram níveis mais elevados de uma célula T específica associada à produção de anticorpos que podem atacar o corpo.

Os cientistas acompanharam a cadeia de eventos no sistema imunológico e identificaram atividade insuficiente de um receptor nas células T, uma proteína chamada hidrocarboneto de arila, como uma potencial causa raiz da doença. Agora, eles estão estudando se uma nova terapia poderia ativar esse receptor, levando as células T a se comportarem de maneira diferente e, em última análise, através de uma cascata de eventos no sistema imunológico, tratarem a doença.

Estudos futuros precisarão determinar se as descobertas são amplamente aplicáveis a outras pessoas com a doença autoimune. "Isso não nos dá uma cura para o lúpus amanhã, mas nos ajuda a compreender maneiras específicas pelas quais podemos interromper a resposta imunológica anormal", disse Deepak Rao, um dos autores da pesquisa. "Estamos otimistas de que isso levará a um novo conjunto de terapias para inibir doenças autoimunes como esta."

Para a médica Ana Clara Ribeiro Gazeta, que não estava envolvida no estudo, quanto mais evoluímos na pesquisa, mais sofisticados se tornam os mecanismos de droga. Entretanto, as descobertas não significam mudanças imediatas. Ela diz que para um mecanismo descoberto ser efetivamente utilizado como via terapêutica, deve evoluir nas pesquisas moleculares, depois no desenvolvimento de drogas, testes de segurança, testes em animais, humanos, em comparação com outras drogas no mercado e avaliação de sua viabilidade.

A médica ressalta que outra descoberta de enorme potencial no tratamento no lúpus é o início dos estudos com tratamento com células CAR-T, uma modificação genética nas próprias células, fazendo com que estas ataquem as células defeituosas, um mecanismo importado dos avanços da oncologia.

Atualmente, não existe cura para o lúpus, assim como não há para outras doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, dislipidemia (aumento de colesterol). "O que existe é o controle da doença e até o que chamamos de remissão: uma ausência de sintomas e/ou de alterações laboratoriais com o uso de medicamentos, como hidroxicloroquina, corticoides e outros imunossupressores sintéticos ou biológicos", afirma.

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"Obviamente, não posso deixar de comentar que a nossa evolução em pesquisa vem descobrindo os mecanismos que os tratamentos não medicamentosos (como alimentação e exercícios físicos) atuam na nossa genética, aumentando ou diminuindo a expressão de genes, podendo ser excelentes atores coadjuvantes no controle das doenças autoimunes no geral", enfatiza Gazeta.

Sintomas e diagnóstico

Lúpus é uma doença que evolui com fases de maior atividade (crises) e períodos de remissão. Como a doença pode afetar qualquer órgão, os sintomas também podem variar muito de uma pessoa para outra, podem surgir isoladamente ou em conjunto e ocorrer ao mesmo tempo ou de forma sequencial.

As manifestações clínicas mais freqüentes são:

Lesões de pele: ocorrem em cerca de 80% dos casos. As lesões mais características são manchas avermelhadas nas maçãs do rosto e dorso do nariz e que não deixam cicatriz. As lesões discóides, que também ocorrem mais frequentemente em áreas expostas à luz, são bem delimitadas e podem deixar cicatrizes com atrofia e alterações na cor da pele. Na pele também pode ocorrer vasculite (inflamação de pequenos vasos), causando manchas vermelhas ou vinhosas, dolorosas em pontas dos dedos das mãos ou dos pés.

Fotossensibilidade: o desenvolvimento de uma sensibilidade desproporcional à luz solar. Neste caso, com apenas um pouco de exposição à claridade ou ao sol, podem surgir tanto manchas na pele como sintomas gerais (cansaço) ou febre.

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Problemas articulares: a dor com ou sem inchaço nas juntas ocorre, em algum momento, em mais de 90% das pessoas com lúpus e envolve principalmente as juntas das mãos, punhos, joelhos e pés. Tende a ser bastante doloroso e ocorre de forma intermitente, com períodos de melhora e piora. Às vezes também surgem como tendinites.

Inflamação das membranas que recobrem o pulmão (pleuris) e coração (pericardite): são relativamente comuns, podendo ser leves e assintomáticas, ou se manifestar como dor no peito. Caracteristicamente no caso da pleuris, a dor ocorre ao respirar, podendo causar também tosse seca e falta de ar. Na pericardite, além da dor no peito, pode haver palpitações e falta de ar.

Inflamação nos rins (nefrite): é uma das que mais preocupam e ocorrem em cerca de 50% das pessoas. No início pode não haver qualquer sintoma, apenas alterações nos exames de sangue e/ou urina. Nas formas mais graves, surge pressão alta, inchaço nas pernas, a urina fica espumosa, podendo haver diminuição da sua quantidade. Quando não tratada rapidamente e adequadamente, o rim deixa de funcionar e o paciente pode precisar fazer diálise ou transplante renal.

Alterações neuropsiquiátricas: essas manifestações são menos frequentes, mas podem causar convulsões, alterações de humor ou comportamento (psicoses), depressão e alterações dos nervos periféricos e da medula espinhal.

Alterações nas células do sangue: são devido aos anticorpos agindo contra esaas células, causando sua destruição. Se os anticorpos forem contra os glóbulos vermelhos (hemácias), causam anemia; contra os glóbulos brancos, causam diminuição de células brancas (leucopenia ou linfopenia); se forem contra as plaquetas, causam diminuição de plaquetas (plaquetopenia). Os sintomas causados pelas alterações nas células do sangue são muito variáveis. A anemia pode causar palidez da pele e mucosas e cansaço e a plaquetopenia poderá causar aumento do sangramento menstrual, hematomas e sangramento gengival. Geralmente, a diminuição dos glóbulos brancos é assintomática.

O diagnóstico do lúpus é feito por um médico reumatologista, que une informações clínicas ao histórico do paciente e os exames laboratoriais e de imagem pertinentes, verificando se ele se encaixa nos critérios de classificação.

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Fontes: Ana Clara Ribeiro Gazeta, médica formada pela Unicamp com residência em reumatologia pelo Hospital do Servidor Estadual de São Paulo; Marco Antônio Araújo da Rocha Loures, presidente da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia); Sâmia Studart, reumatologista do Hospital Geral de Fortaleza.

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