Água-viva imortal e rato de 30 anos: o que natureza ensina sobre envelhecer
Janaína Silva
Colaboração para VivaBem
31/07/2024 04h10
Enquanto o mundo debate os lapsos de memória do presidente dos EUA, Joe Biden, uma minúscula espécie de água-viva, a Turritopsis dohrnii, desafia o próprio conceito de envelhecimento. Quando estressada —seja por fome ou mudanças bruscas de temperatura—, essa água-viva reverte seu ciclo de vida, voltando ao estágio de pólipo. E ela pode repetir esse processo infinitamente, sem qualquer lembrança fisiológica, essencialmente "envelhecendo ao contrário".
Esse fascinante exemplo de longevidade é um dos muitos apresentados no livro "As Águas-Vivas Envelhecem ao Contrário: os Segredos da Natureza Para a Longevidade", de Nicklas Brendborg, recém-lançado pela Editora Rocco. Brendborg, um jovem biólogo molecular dinamarquês da Universidade de Copenhague, explora diferentes padrões de envelhecimento na natureza e os esforços científicos para prolongar a vida humana.
Com uma linguagem acessível e envolvente, Brendborg nos guia por um universo de criaturas extraordinárias. Ele descreve, por exemplo, o tubarão-da-Groelândia, que já tinha 281 anos quando o Titanic afundou e atualmente tem 390, o que o torna mais velho que os EUA. Os cientistas preveem que ele ainda pode viver mais 100 anos.
Outros animais se fortalecem com o tempo, como tartarugas e elefantes. Esses últimos, assim como as baleias, devido ao seu tamanho, sofrem menos estresse por predadores, o que contribui para sua longevidade. Há registros de que a tartaruga da família real de Tonga tenha vivido cerca de 188 anos. Presente de um explorador ao rei de Tonga em 1777, ela morreu em 1965. No entanto, o possível recorde agora é de Jonathan, exemplar de tartaruga gigante de Seychelles, com 192 anos.
Outro destaque é o rato-toupeira-pelado, estudado há décadas devido ao seu envelhecimento lento. Ele vive mais de 30 anos —o que é muito para um rato. É quase impossível distinguir os jovens dos velhos dessa espécie, pois mantêm características juvenis durante a maior parte de suas vidas. Além disso, os ratos-toupeira-pelados são capazes de sobreviver a fatores de estresse, como o calor extremo, e o seu metabolismo garante a eliminação de células defeituosas.
"O envelhecimento varia: gradual em algumas espécies, repentino em outras. Algumas não envelhecem ou regridem com o tempo. Isso nos inspira a crer que é possível estender a vida humana. Só temos que descobrir como", comenta Brendborg em entrevista a VivaBem.
A busca pela vida eterna é antiga e continua até hoje. Contudo, vai além de dietas e exercícios. "Hábitos saudáveis ajudam, mas não farão você viver 120, 150 ou 200 anos", afirma o autor. A chave seria retardar o envelhecimento, evitando o surgimento de doenças relacionadas à idade. Nas palavras dele, se você conseguir passar mais tempo sem envelhecer, então é possível evitar muitos problemas de uma vez. A questão não é a cura de doenças, mas, sim, evitar que elas se manifestem.
Se você tiver 80 anos, mas o seu corpo 50 anos biologicamente, existirão menos riscos, afinal, as enfermidades aos 50 não são as mesmas aos 80 anos. Nicklas Brendborg, biólogo
Brendborg discute casos curiosos, como o de um homem que consumia 25 ovos cozidos diariamente sem aumentar o colesterol, adaptando-se à dieta. Ele alerta que a queda de vitamina D pode ser um efeito, não a causa, de doenças. Fatores como insulina e gordura corporal são, segundo ele, resultados do ambiente, não do envelhecimento.
Ele também menciona aldeias indígenas que, isoladas, mantêm uma dieta ancestral e não apresentam aumento de pressão arterial com a idade. "Há muito conhecimento oculto nas revistas científicas que pode ser esclarecido para o público", diz Brendborg, explicando sua motivação para escrever o livro aos 23 anos.
Ao discutir as chamadas "zonas azuis", áreas onde as pessoas vivem mais, Brendborg questiona a veracidade dos dados. Ele aponta que regiões ao redor de Madri, sul da França e norte da Itália podem ser mais confiáveis do que as pequenas aldeias mencionadas em estudos antigos.
Apesar dos avanços, Brendborg acredita que a geração atual ainda não será a primeira a vencer o envelhecimento. Ele vê um caminho na ciência além das dietas e exercícios. "Precisamos ir além e explorar novas fronteiras para estender a vida humana de maneira significativa."