Aconteceu com judoca: quando uma simples comemoração pode deslocar o ombro?
Do VivaBem, em São Paulo
31/07/2024 04h00
O judoca Adil Osmanov, da Moldávia, ganhou uma medalha de bronze na categoria 73 kg do judô das Olimpíadas de Paris sem percalços. Mas, ao comemorar a vitória nesta segunda-feira (29), o atleta de 24 anos fez um movimento com o braço e imediatamente sentiu o ombro sair do lugar.
O deslocamento de ombro ao comemorar já aconteceu outras vezes em outras competições esportivas. Em junho, ao celebrar a classificação para as Olimpíadas, o nadador francês Rafael Fente-Damers deu um soco na água e acabou com o mesmo problema.
Entenda o problema
Termo técnico para deslocamento do ombro é luxação. É uma lesão que ocorre quando uma articulação é deslocada da posição normal.
Ombro é a estrutura do corpo com maior movimentação. Por isso, existem várias estruturas que lhe dão sustentação. Elas precisam estar bem posicionadas e trabalhadas para ter estabilidade e evitar lesões.
A população, de maneira geral, fala que quando tem uma pancada, 'teve só uma luxaçãozinha'. Esse é um termo popular bastante errado, porque não existe 'luxaçãozinha'. Pode ocorrer contusão pequena, uma torção, agora a luxação é quando uma articulação perde a sua continuidade, ou seja, quando existe uma falha da congruência. Em palavras mais simples, quando ele sai do lugar. Gustavo Barboza de Oliveira, ortopedista membro da diretoria de comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo e médico do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia
Luxação ocorre quando a cabeça do úmero (osso do braço) se desloca da cavidade óssea da omoplata (glenoide). Como consequência, causa uma dor intensa na região, limitando o movimento ou causando estalos. O diagnóstico é geralmente feito com um exame simples de raio-X.
É mais comum em atletas?
Expostos a contatos mais intensos. Nos atletas, de maneira geral, luxações são mais comuns porque eles estão expostos a contatos e traumas mais intensos e também a movimentações mais amplas.
Em alguns esportes, há maior probabilidade de ocorrer este tipo de lesão. Principalmente quando o contato é muito intenso, como lutas, futebol ou basquete.
Quando a gente fala sobre as luxações do ombro, mais de 80% são após um trauma, uma pancada de alta energia. Gustavo Barboza de Oliveira, ortopedista
Hipermobilidade ou hiperelasticidade podem ter favorecido o problema do judoca. No caso específico de Osmanov, algumas características podem ter favorecido a luxação. "Ele pode ter uma hipermobilidade ou hiperelasticidade no ombro ou outras lesões associadas no ombro que não conhecemos, mas que são comuns nestes atletas", afirma o médico.
Comemoração teve movimentos que podem causar luxação. O movimento feito na comemoração, diz o especialista, tem todos os "critérios mecânicos" que podem levar à luxação: levantar o braço e girar para fora, que seria, em termos técnicos, a abdução e rotação externa do membro. Este movimento é muito parecido com o que fazemos ao jogar uma pedra longe, a um saque no vôlei ou do arremesso da bola no beisebol. É comum ocorrer luxação nestes casos, quando o movimento é feito de maneira muito intensa.
Posso "colocar o ombro no lugar" sozinho?
Melhor ir ao médico. A luxação é uma urgência ortopédica e precisa ser avaliada por uma equipe médica. Puxar o braço e tentar "colocar o ombro no lugar" não é indicado. "Isso deve ser evitado de toda maneira, porque me leva a outras lesões, sejam neurológicas, vasculares, de músculos ou tendões. E pode junto ter uma fratura, piorando ainda mais o quadro desse paciente", alerta Oliveira.
Quando o ombro sai do lugar, é importante que a pessoa seja levada para uma unidade de saúde para fazer uma investigação radiológica, ver se junto com essa luxação não tem outro tipo de lesão, uma fratura, outras lesões neurológicas. Gustavo Barboza de Oliveira, ortopedista
Luxação de repetição pode ocorrer. Existem casos em que pessoas têm episódios de luxação de repetição, ou seja, as articulações saem do lugar com frequência após um primeiro episódio. Há também casos de subluxação, ou seja, quando a articulação se move, mas não sai totalmente do lugar. "Às vezes, a pessoa não faz um tratamento de maneira adequada por diversos fatores, seja social ou econômico, e têm próximos episódios de luxação com mais facilidade, com movimentos simples, como trocando de roupa, vestindo uma camisa, jogando uma pedra ou comemorando, como o atleta fez", diz o ortopedista. E aí é comum que o paciente desenvolva técnicas em que ele mesmo coloque o ombro no lugar. "Mas não é recomendado. É como se houvesse um afrouxamento dessas estruturas, que pode levar à instabilidade no ombro. É preciso procurar um médico e realizar tratamento."