De autossabotagem a abusos: 4 problemas que a baixa autoestima pode trazer

Um dos principais danos que a autoestima baixa pode ocasionar em relacionamentos é o abuso. A pessoa não se acha merecedora de uma relação melhor e não se reconhece mais facilmente quando é submetida a alguma forma de ataque, rebaixamento ou violência. Existem casos em que a pessoa assimila esses comportamentos como normais, já que por ter autoestima baixa ela nem se dá conta que está sofrendo um abuso.

No entanto, esse não é o único tipo de dano que uma autoestima assim pode trazer. A seguir, listamos alguns dos principais problemas que essas características podem trazer às nossas relações interpessoais.

1. Danos aos relacionamentos

Uma tendência de quem tem baixa autoestima é a escolha de relações ruins, em que a pessoa se sujeita a se conectar com alguém que faça ou ofereça menos a ela do que ela merece. Isso tudo porque ela não identifica suas possibilidades, não se acha merecedora de algo melhor.

Além disso, quem sofre de baixa autoestima pode, inconscientemente, jogar iscas que permitam com que ela seja humilhada, castigada. Essa pessoa, de repente, começa a se esquecer de coisas importantes que ela não se esqueceria se estivesse sozinha, passa a repetir perguntas óbvias, ou que já foram feitas, passa dar respostas reticentes, ou seja, ela faz provocações para que o outro a critique.

2. Baixa autoestima e abusos

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Imagem: Getty Images

Algumas vezes na infância já nos sentimos incompreendidos ou injustiçados, mesmo que não tenhamos sido. Para algumas pessoas, esses sentimentos são tão fortes e gritantes que elas internalizam isso e transformam em crenças. O passo seguinte é criar microcontratos secretos dessas sensações com elas mesmas, de tal forma que ela vai procurar na vida adulta reescrever essas situações vividas na infância.

Ela pode então procurar alguém que sabe ser um abusador, com a fantasia de que vai corrigir e fazer com que ela seja diferente com ele. Ou então pode inconscientemente provocar a pessoa para finalizar, como na infância, em uma relação de abuso em que ele seja ou incompreendido ou injustiçado.

Quando existe sentimento envolvido, se a pessoa está apaixonada pelo abusador, por exemplo, perceber esse abuso fica mais difícil, tanto conseguir reconhecer a pessoa amada como abusadora quanto identificar que os abusos são frequentes e não uma experiência eventual.

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Como estamos falando de situações em que a própria percepção de si se torna dependente de outra pessoa, muito provavelmente a vítima desse tipo de relação abusiva (seja física ou psicológica) necessite de auxílio para identificar o quão perigosa a relação se tornou ou está prestes a se tornar. Nesses casos, o ideal é buscar o auxílio de um profissional de saúde mental e, somado a isso, uma ampla rede de apoio social e afetivo que ofereça apoio nas decisões necessárias para a ruptura ou reconstrução desses laços.

3. Autossabotagem

Se há vários caminhos pelos quais podemos encontrar o amor a nós mesmos, o mesmo vale também para o ódio. Se construímos uma relação com a nossa identidade que faz do nosso eu um alvo para a agressividade, ela pode se dar também por diferentes vias. Uma delas é a de identificar a autoimagem nas figuras do fracasso. Isso é especialmente comum nos ambientes de trabalho e de educação, em que acabamos sendo muito dependentes do olhar do outro como forma de avaliação das nossas práticas e condutas.

Um exemplo desse comportamento é aquele indivíduo que se coloca aquém dos outros ou oferece os próprios fracassos como um pedido de reconhecimento, por vezes até de forma antecipada, em frases como "eu sei que eu não vou conseguir", "tenho certeza de que não sou capaz". Isso tende a estabelecer uma repetição de relacionamentos abusivos. Neles, o principal resultado é a efetivação da agressividade voltada contra si, encontrando dados na realidade que possam servir de prova da necessidade da sabotagem.

Essas pessoas desenvolvem ainda na infância crenças e microcontratos com elas mesmas —e que ficam inconscientes. É comum que ela, por exemplo, passe a internalizar e acreditar nas frases sobre os fracassos que ela oferece aos outros. Elas colocam essas mensagens na cabeça desde pequenas e crescem acreditando nisso, então, quando existe uma oportunidade, elas se autossabotam.

4. Términos de relacionamentos

Términos precoces de relacionamentos em que a autoestima se coloca em primeiro plano tendem a acontecer por duas vias. A primeira delas, e a mais comum, é quando a insistência pelo reconhecimento de uma identidade desvalorizada acaba criando uma situação de sofrimento para ambas as pessoas. Quando a necessidade de rebaixar a si próprio é muito intensa, pode acontecer, inclusive, que o sujeito tenha reações de irritação ou agressividade com as tentativas de cuidado e de proteção, reafirmando sua condição de alguém a ser odiado.

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Nesses casos, a pessoa começa a provocar coisas para que o outro a rejeite, com atitudes ou ações que sabiamente irão desagradar, procurando um universo já pronto contra ela, universo criado anteriormente e que foi interiorizado por meio de crenças limitantes.

Outra possibilidade é quando a pessoa com baixa autoestima decide terminar um relacionamento que estava progredindo bem e gerando efeitos positivos como forma de proteger o outro. Essa situação é montada em cima de um sentimento de contágio segundo o qual estar próximo do meu "eu" pode levar o outro ao mesmo sofrimento.

Como tratar o problema

Quando se trata de um longo histórico de baixa autoestima, a orientação é buscar uma psicoterapia. Determinadas mudanças requisitam, além de tempo, de um ingrediente específico que um profissional da saúde mental irá acrescentar a partir de sua escuta e acolhimento.

*Com informações de reportagem publicada em 06/07/2020

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