Estudo aponta o que pode ser um grande aliado da saúde de mães estressadas

Os primeiros anos de criação de um filho costumam ser especialmente pesados para a mulher. O instinto biológico de voltar-se a cuidar da cria leva muitas esposas a assumirem apenas o papel de mãe, o pode causar um afastamento físico e emocional do parceiro.

Isso pode ir do puerpério, período no qual o corpo da mãe passa por diversas transformações fisiológicas para voltar ao que era antes da gestação (dura entre 45 e 60 dias depois do parto), e se manter ao longo dos primeiros anos de vida da criança.

O estresse crônico gerado pelos múltiplos papéis que as mães precisam desempenhar (esposa, mãe e profissional) podem levar muitas mulheres a deixarem o sexo de lado.

Um estudo recente publicado na revista Psychoneuroendocrinology apontou que o sexo pode ajudar as mães de crianças a evitar os efeitos nocivos do estresse, especialmente os distúrbios metabólicos.

Nas mães de crianças com TEA (transtorno do espectro autista), os resultados mostraram que aquelas que praticavam atividades sexuais regularmente apresentavam níveis mais elevados de hormônios metabólicos saudáveis do que as mães sexualmente inativas.

O estresse de longo prazo pode afetar o corpo de várias maneiras negativas:

Aumenta o risco de pressão alta, ataques cardíacos e derrames.

Pode levar a obesidade, diabetes tipo 2 e outros problemas relacionados ao metabolismo.

Deixa o corpo mais vulnerável a doenças e infecções.

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Pode causar dores de estômago, indigestão e outros problemas digestivos.

Afeta o humor e a memória, contribuindo para ansiedade, depressão e dificuldade de concentração.

Pode causar tensão e dores no corpo.

A pesquisa demonstrou que qualquer quantidade de atividade física adicional pode ajudar a prevenir essas situações.

"A atividade sexual emergiu como uma candidata promissora devido aos seus efeitos no alívio do estresse e ao seu impacto positivo em processos como o sono, que pode sofrer devido ao estresse e, por sua vez, causar problemas metabólicos. Até onde sabemos, nenhum trabalho anterior examinou se a atividade sexual pode amortecer os efeitos biológicos do estresse, portanto esta pesquisa foi de natureza exploratória, com o objetivo de preencher essa lacuna", disse Yoobin Park, autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em San Francisco (EUA), ao site PsyPost.

Como foi feito o estudo

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Imagem: Jordan Whitt/Unsplash
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Os pesquisadores pediram a 183 mulheres com idades entre 20 e 50 anos, com pelo menos um filho entre 2 e 16 anos, que participassem de avaliações regulares da Escala de Estresse Percebido durante dois anos.

Em cada ciclo de avaliação, as participantes preenchiam questionários diários por uma semana e realizavam visitas clínicas para coleta de dados de saúde, que incluíam amostras de sangue para análise de indicadores metabólicos importantes, como insulina, resistência à insulina, leptina (hormônio relacionado ao controle do apetite) e grelina (conhecido como "hormônio da fome").

As duas últimas avaliações foram cruciais para o estudo, pois focaram em questões relacionadas à atividade sexual. As mães eram questionadas diariamente se haviam feito sexo na noite anterior, ao mesmo tempo também eram avaliadas variáveis correlatas, como a satisfação geral com o relacionamento e os níveis de atividade física no dia a dia.

As mães que relataram ter tido relações sexuais pelo menos uma vez durante a semana de avaliação foram classificadas como sexualmente ativas.

A pesquisa indicou que as mães com alto nível de estresse tendem a ter uma maior quantidade de insulina e resistência à mesma, além de uma menor quantidade de grelina, se comparadas às mães com baixo nível de estresse —a menos que a atividade sexual seja considerada.

Quando comparadas ao grupo de mães com baixo estresse, as mães com alto estresse e sem atividade sexual apresentaram resultados significativamente piores do que aquelas que mantiveram uma vida sexual ativa. No entanto, todas as mães com atividade sexual mostraram perfis metabólicos parecidos, independentemente do nível de estresse.

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"Em suma, as nossas descobertas sugerem que os prejuízos relacionados com o estresse na saúde metabólica foram significativamente reduzidos entre aquelas que eram sexualmente ativas", disse Park ao PsyPost.

Redução de atividade sexual é comum entre mães

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Imagem: Getty Images

Segundo Arthur H. Danila, médico psiquiatra e coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é comum que mães com crianças pequenas tenham menos atividade sexual por vários motivos:

Fadiga e falta de tempo: Cuidar de crianças pequenas é exaustivo e consome muito tempo, deixando menos energia e oportunidade para o sexo.

Mudanças no corpo: Alterações no corpo após o parto podem afetar a autoestima e o desejo sexual.

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Estresse e ansiedade: O estresse associado ao cuidado constante pode reduzir o interesse em atividades sexuais.

Presença das crianças em casa: A simples presença de crianças no mesmo ambiente onde as relações sexuais aconteceriam pode inibir os parceiros de terem relações que possam ser de alguma maneira "acompanhadas" pelas crianças.

"Para mães que enfrentam altos níveis de estresse, encontrar maneiras de manter a intimidade pode oferecer não apenas benefícios emocionais, mas também ajudar a manter a saúde física e o bem-estar a longo prazo", orienta Arthur H. Danila.

Aline Ambrosio, ginecologista pela Unifesp, sexóloga pela USP e coordenadora da pós-graduação em sexualidade do Centro de Ensino Médico Cetrus, concorda e diz que quando se enfatiza o papel de mãe, a mulher deixa de fantasiar suas vontades, de cuidar-se física e mentalmente, levando ao decréscimo da autoestima sexual.

"Por vezes, existe falta da comunicação assertiva no relacionamento com a parceria, que fica esquecida e ressentida. Ambos vão entrando num ciclo vicioso, de sentir que o outro não valida suas queixas e dores emocionais, e ruídos na comunicação só vão exacerbando a crise no vínculo conjugal", pontua ela, que continua:

"Conversas francas durante a gestação, sobre a expectativa que cada um tem do outro, sobre divisões de tarefas, sobre manter a saúde emocional e sexual no relacionamento, combinando momentos para esta aproximação, sobre a criação dos filhos, são premissas importantíssimas para evitar estresse no vínculo conjugal."

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Como o sexo alivia o estresse crônico

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

O sexo pode ser um grande aliado contra o estresse crônico por várias razões:

Durante o sexo, o corpo libera substâncias como oxitocina e endorfinas, que são conhecidas por promoverem sensações de prazer e relaxamento. Isso ajuda a aliviar a tensão e o estresse acumulados.

O ato sexual pode diminuir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Com menos cortisol circulando, o corpo sente menos os efeitos negativos do estresse.

A atividade sexual regular pode melhorar o humor e diminuir a ansiedade, fazendo com que as pessoas se sintam mais relaxadas e felizes no dia a dia.

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"O sexo satisfatório traz saúde física, melhorando parâmetros cardiovasculares (pressão arterial e níveis de glicose), traz saúde mental, devido a liberação de neurotransmissores e hormônios no cérebro e no corpo, e conecta as pessoas. Isto reduz o estresse crônico, ou seja, reduz a inflamação no corpo", explica Ambrosio.

Embora o sexo possa trazer muitos benefícios a saúde, ele não deve substituir uma rotina de exercícios.

"O sexo pode ser uma atividade intensa e vigorosa. Nesse sentido, pode ser considerado uma atividade aeróbica. Mas não costuma ser o suficiente para substituir atividade física. Inclusive, a atividade física regular promove uma prática sexual saudável e satisfatória", indica Catarina de Moraes Braga, neuropsiquiatra com aperfeiçoamento em sexualidade e professora de psiquiatria da UFPE.

Quando o estresse pode ser considerado crônico?

O estresse mantido por três ou mais meses já pode ser considerado crônico. O psiquiatra Arthur H. Danila traz alguns sinais:

Duração prolongada: O estresse dura vários meses ou anos, sem sinais de alívio.

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Impacto na vida diária: Afeta negativamente o trabalho, as relações e a qualidade de vida.

Sintomas persistentes: Inclui sintomas físicos (como cansaço constante e dores) e emocionais (como ansiedade e irritabilidade) que não melhoram com o tempo.

Resistência ao alívio: Técnicas comuns de alívio, como exercício ou meditação, não conseguem diminuir o estresse de forma eficaz.

"O estresse crônico leva a um aumento do cortisol. Esse aumento, quando é transitório, ajuda na adaptação do corpo aos estresses. Mas quando isso permanece, ao longo das semanas, o cortisol alto leva a alterações na fisiologia que pode prejudicar o funcionamento cerebral e também o metabolismo como um todo", alerta a neuropsiquiatra Catarina de Moraes Braga.

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